
O m�dico veterin�rio Edilberto Nobrega Martinez, especialista em comportamento animal, explica que a maioria dos pets j� vivia em uma esp�cie de confinamento por alguns per�odos do dia, quando seus tutores eventualmente sa�am para o trabalho ou para o lazer. Assim, desde que as medidas restritivas foram adotadas, cada esp�cie p�de reagir de uma forma diferente.
“Na perspectiva dos c�es, o teletrabalho tem sido a melhor coisa que podia ocorrer, uma vez que a intera��o social com os seus humanos amados aumentou, trazendo seguran�a e aconchego. J� na perspectiva dos gatos, a presen�a constante dos tutores pode gerar certo desconforto. Isso porque os felinos s�o animais muito apegados � rotina, e qualquer mudan�a pode gerar estresse e inseguran�a, por mais que eles amem as pessoas de seu conv�vio”, explica Edilberto. Ele ressalta, por�m, que para toda regra h� exce��o, ou seja, esses argumentos s�o ilustrativos e podem variar conforme a particularidade de cada animal.
Para a estudante Isabel Sotero, 22 anos, a quarentena a aproximou dos tr�s cachorros. “Os meus pets t�m vivido a vida deles normal, eles nem sabem o que � pandemia, porque n�s nunca tivemos o h�bito de passear com eles na rua. O que mudou foi que n�s passamos a brincar mais com eles em casa. Eu acredito que agora est�o at� melhores do que antes, por causa da nossa presen�a.”
Edilberto acredita que, � medida que as pessoas retornem �s atividades habituais, isso poder� se tornar um problema para os animais dom�sticos, uma vez que, mais de um ano depois das mudan�as decorrentes da pandemia, a maioria deles se adaptou � nova rotina familiar e ambiental. “� muito importante que as pessoas fa�am um planejamento para o retorno das atividades fora de casa e que essa desvincula��o seja gradual. Comece indo todos os dias at� o corredor e volte. Se morar em apartamento, v� at� o andar de baixo. Se morar em casa, v� at� a casa vizinha, aumentando gradativamente a dist�ncia e o tempo fora da resid�ncia. Dessa forma, eles entender�o que as pessoas saem, mas voltam.”
Mudan�as necess�rias
Para a bibliotec�ria Silvania Fernandes, 52 anos, a pandemia ainda veio acompanhada de mais um fator: a mudan�a de casa. Ao se mudar para um apartamento, bem menor do que a antiga resid�ncia, ela logo percebeu que seus cachorros, Juju e Yoda, n�o estavam se adaptando bem � nova moradia. “Eu n�o estava acostumada a ter hor�rio para descer com os c�es para fazerem as necessidades, e nem eles estavam, porque, por serem idosos, n�o tinham esse costume de segurar o xixi e o coc�.”
Com o tempo, as coisas se complicaram, j� que manter o apartamento limpo se tornou um desafio e tanto. Silvania decidiu, ent�o, levar os pets para morarem com sua m�e, que tem um quintal grande, onde os cachorrinhos poderiam ficar mais � vontade. “Fica a duas quadras do meu apartamento. Vou l� algumas vezes na semana para poder cuidar deles”, diz.
Al�m dos dois pugs, Silvania tem um gatinho chamado Chandon, que ficou com ela no apartamento. Segundo ela, o felino tamb�m sentiu bastante os efeitos da mudan�a. “Antes, ele tinha a parte de dentro da casa e o quintal para ficar olhando o movimento da rua. Aqui, ele n�o v� a rua, porque o apartamento fica no meio de v�rios pr�dios. Ele est� bem estressado, fica sempre pedindo aten��o e carinho porque n�o tem nada para fazer”, conta a bibliotec�ria. “Estamos tentando driblar da melhor maneira poss�vel.”
Import�ncia da autonomia
A m�dica veterin�ria comportamentalista Katia de Martino explica que as rela��es entre donos e animais de estima��o se estreitaram durante a pandemia. Com a redu��o das rela��es sociais, ficamos mais carentes, logo, tentamos suprir um pouco dessa falta com os bichinhos. Por�m, � preciso ter cuidado para n�o se criar um v�nculo baseado em depend�ncia emocional. “Quando as coisas come�am a retomar � forma normal, os animais n�o t�m essa percep��o de que as coisas mudaram e podem desenvolver problemas de ansiedade por causa da separa��o”, alerta a profissional.
“A gente tem as nossas necessidades, mas os animais tamb�m t�m as deles e eles n�o entendem a nossa sa�da. � preciso evitar ao m�ximo que o cachorro vire sua sombra dentro de casa. � necess�rio que ele crie a pr�pria independ�ncia”, pontua Katia.
Como estimular a autonomia do seu pet
* Promover mais caminhadas e fazer com que os animais tenham mais contato com o mundo externo: quanto mais exerc�cios eles fizerem, mais relaxados eles v�o ficar dentro de casa.
* Estimular o enriquecimento ambiental dentro de casa, ou seja, artif�cios por meio de brinquedos e est�mulos para que os animais tenham a necessidade de farejar e brincar, sem a presen�a do tutor. Por exemplo, brinquedos com algum petisco dentro ou atividades para eles se ocuparem nos momentos em que o dono n�o esteja em casa.
* N�o fazer muita “festa” na hora que chegar em casa. O melhor � esperar eles se acalmarem antes de comemorar o reencontro, uma vez que, se a sauda��o for muito calorosa, gradativamente, aumentar� o n�vel de ansiedade nas pr�ximas sa�das.
Fonte: Katia de Martino, m�dica veterin�ria comportamentalista
*Estagi�ria sob a supervis�o de Sibele Negromonte