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Estado de Minas PESQUISA

Cientistas estudam est�mulos el�tricos para tratar COVID grave

Estrutura do sistema nervoso que liga o c�rebro a diversos �rg�os do t�rax e do abd�men vira alvo de terapia n�o invasiva


19/08/2021 15:14 - atualizado 19/08/2021 17:28


A expectativa é que os pequenos choques no sistema nervoso ajudem a controlar a inflamação, um dos fatores por trás do agravamento de pacientes internados com covid-19(foto: Getty Images)
A expectativa � que os pequenos choques no sistema nervoso ajudem a controlar a inflama��o, um dos fatores por tr�s do agravamento de pacientes internados com covid-19 (foto: Getty Images)

Imagine a cena: um pequeno eletrodo � grudado no seu corpo e emite, durante 90 minutos, est�mulos el�tricos indolores e quase impercept�veis, numa rotina que se repete duas vezes ao dia ao longo de uma semana.

A pr�tica, relativamente comum em sess�es convencionais de fisioterapia, come�a a ser avaliada tamb�m num cen�rio bem mais complexo: a covid-19 grave.

Cientistas brasileiros da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e da Universidade Nove de Julho (Uninove), em S�o Paulo, decidiram iniciar um estudo piloto para entender se a estimula��o el�trica n�o invasiva do nervo vago, uma estrutura do sistema nervoso, pode trazer benef�cios aos pacientes com os quadros mais severos da infec��o pelo coronav�rus.

"Sabemos que o sistema nervoso central tem um papel importante no controle da inflama��o, que � um dos fatores por tr�s dos casos mais graves da covid-19. Queremos ent�o buscar uma resposta anti-inflamat�ria", diz o neurocientista Felipe Fregni, professor de reabilita��o da Faculdade de Medicina de Harvard.

"E a estimula��o do nervo vago tem sido estudada como um poss�vel tratamento seguro e com poucos efeitos colaterais para v�rias enfermidades", completa a fisioterapeuta especializada em neurologia Fernanda Ishida Corr�a, professora da Uninove.

"Fora que o equipamento � relativamente barato e f�cil de transportar pelo hospital", completa a especialista.

O experimento, que est� em vias de ser finalizado, incluir� 20 volunt�rios no total e, caso os resultados sejam promissores, pretende servir de base para estudos maiores.

Mas por que focar no nervo vago? E o que a covid-19 tem a ver com a inflama��o?

Uma cascata de eventos

Como voc� muito provavelmente j� sabe, a covid-19 � uma doen�a provocada pelo Sars-CoV-2, um tipo de coronav�rus.

O problema come�a quando o agente infeccioso invade as c�lulas da superf�cie dos olhos, do nariz ou da boca.

Na maioria das vezes, o quadro evolui bem e o indiv�duo apresenta poucos sintomas e logo se recupera.

Por�m, numa parcela de 10 a 20% de acometidos, as coisas n�o se solucionam t�o tranquilamente assim. Neles, o v�rus avan�a corpo adentro e afeta v�rios �rg�os, especialmente os pulm�es.

Como se n�o bastasse a covid-19 em si, esses pacientes ainda sofrem com uma s�rie de desdobramentos: a infec��o pode desencadear uma rea��o desmedida do sistema imunol�gico que, na tentativa de defender o corpo, acaba provocando alguns dados colaterais pelo caminho.

O resultado dessa bagun�a � um estado de intensa inflama��o, que lesa os �rg�os e piora de vez a situa��o.

� por isso, inclusive, que alguns rem�dios anti-inflamat�rios s�o prescritos para os indiv�duos internados com covid-19 grave. Esses medicamentos ajudam a modular a resposta das c�lulas de defesa, diminuindo poss�veis estragos.

Mas e se existissem outras maneiras de controlar esse caos inflamat�rio sem precisar necessariamente dos f�rmacos (ou diminuir o uso deles)?

Choques na orelha

� justamente aqui que entra o nervo vago, um ramo do sistema nervoso que sai do c�rebro e percorre o pesco�o, o t�rax e chega at� o final do abd�men — o nome vem do latim vagus e faz men��o ao fato de ele vagar por regi�es t�o importantes do nosso corpo.

"Esse nervo faz a conex�o com diversos �rg�os e v�sceras e � respons�vel por levar informa��es do c�rebro para essas estruturas e vice-versa, ou seja, trazer informa��es do corpo para a cabe�a", ensina Fregni, que fez uma palestra sobre o assunto na segunda-feira (16/8) na Digital Journey by Hospitalar, um evento online que reuniu especialistas do setor de sa�de do Brasil e da Am�rica Latina.

"Uma das estruturas em que o nervo vago se conecta � o ba�o, um �rg�o que tem papel importante no sistema imunol�gico e ajuda a regular a libera��o de subst�ncias inflamat�rias", exemplifica o neurocientista.

O especialista tamb�m lembra que o sistema nervoso tem influ�ncia direta na imunidade, ao influenciar na produ��o de horm�nios e outras subst�ncias que afetam o comportamento e a a��o das c�lulas de defesa.

Ser� que estimular essa ramifica��o nervosa poderia, ent�o, contribuir de alguma maneira para controlar a inflama��o que agrava ainda mais a covid-19? Essa � justamente a aposta dos pesquisadores brasileiros.

Mas h� uma barreira importante no meio do caminho: em boa parte de sua extens�o, o nervo vago � bem profundo e dif�cil de atingir com ondas el�tricas.


Os nervos, representados em amarelo na ilustração, são estruturas do sistema nervoso que fazem a comunicação do cérebro com diversas partes do corpo. O nervo vago faz a conexão com a maior parte dos órgãos e das vísceras do tórax e do abdômen(foto: Science Photo Library)
Os nervos, representados em amarelo na ilustra��o, s�o estruturas do sistema nervoso que fazem a comunica��o do c�rebro com diversas partes do corpo. O nervo vago faz a conex�o com a maior parte dos �rg�os e das v�sceras do t�rax e do abd�men (foto: Science Photo Library)

Mas existe uma regi�o do corpo chamada tragus, que fica pr�xima da entrada da orelha, em que ele se torna superficial e de f�cil acesso.

"E n�s j� temos estudos apontando que a estimula��o el�trica do tragus pode trazer excelentes resultados para outras doen�as", aponta Corr�a.

A manipula��o do nervo vago � avaliada como uma futura possibilidade de tratamento, por exemplo, para depress�o, epilepsia, dor cr�nica e enxaqueca.

A pesquisa na pr�tica

Corr�a conta que a Uninove inaugurou, em abril de 2021, um hospital para tratamento exclusivo da covid-19.

"Vimos ali uma oportunidade de avaliar a estimula��o el�trica do nervo vago em pacientes graves que seriam internados na unidade", contextualiza.

Ap�s a aprova��o dos comit�s de �tica, a pesquisa foi iniciada e j� recrutou 18 volunt�rios.

"Eles recebem a estimula��o duas vezes ao dia, durante uma semana. Em paralelo � terapia, s�o feitos exames de sangue, em que medimos a presen�a de subst�ncias inflamat�rias, como a interleucina 6, a interleucina 10 e a prote�na C-reativa", descreve a especialista.

Todos os indiv�duos respondem question�rios e t�m os batimentos card�acos e a frequ�ncia respirat�ria monitorados. Eles tamb�m passam por novas consultas e avalia��es em sete e 14 dias ap�s terminarem as sess�es.

A fisioterapeuta garante que as ondas el�tricas s�o leves e n�o queimam ou causam dor. O participante sente, no m�ximo, uma sensa��o de formigamento no local onde o eletrodo � instalado.

Detalhe importante: apenas metade dos pacientes recrutados recebe a estimula��o el�trica de verdade. Na outra parcela, o protocolo � exatamente igual (inclusive com a coloca��o do eletrodo no tragus), mas n�o h� emiss�o de uma corrente el�trica.

"Isso � necess�rio para realizarmos a compara��o entre os grupos e obtermos os resultados", diz Corr�a.

Vale ressaltar ainda que todos os volunt�rios recebem o tratamento padr�o para os casos graves de covid-19, inclusive com a suplementa��o de oxig�nio e o uso de rem�dios anti-inflamat�rios quando necess�rio.

Os pr�ximos passos

Corr�a diz que falta incluir apenas dois volunt�rios para concluir o estudo piloto, mas a equipe enfrenta dificuldades para encontrar novos participantes.

"Ultimamente, os pacientes est�o chegando ao hospital com quadros muito leves, em que ficam tr�s dias e recebem alta, ou muito graves, em que j� v�o direto para intuba��o", descreve.

Para integrar o estudo, a pessoa precisa estar num est�gio intermedi�rio entre esses dois extremos: ela necessita estar internada, ter menos de 10 dias de sintomas e usar no m�ximo oxigena��o suplementar, mas sem intuba��o.

A expectativa dos especialistas � finalizar a parte pr�tica do experimento nas pr�ximas semanas, para reunir os resultados e escrever os relat�rios durante o m�s de setembro.

Se os resultados forem bons, o pr�ximo passo para avaliar a estimula��o el�trica do nervo vago em pacientes com covid-19 grave envolve uma pesquisa bem maior, possivelmente com centenas (ou at� milhares) de participantes.

N�o custa refor�ar, portanto, que atualmente essa terapia � experimental e n�o tem efic�cia ou seguran�a comprovadas.

E, mesmo que todo o trabalho n�o seja finalizado a tempo de contribuir para a atual pandemia, ele pode deixar frutos para lidar com outros problemas de sa�de.

"A ci�ncia se move devagar e exige tempo e investimento para trazer resultados. As pesquisas maiores costumam demorar dois anos ou mais para serem finalizadas", estima Fregni.

"Se conseguirmos entender um pouco melhor o papel do nervo vago no controle da inflama��o, j� teremos contribu�do", finaliza.

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