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Estado de Minas NEVE DE SANGUE

Por que neve dos Alpes est� ficando vermelha

Prolifera��o de manchas coloridas na neve dos Alpes franceses pode ser um sinal do impacto que a mudan�a clim�tica est� tendo nas montanhas


24/08/2021 10:51 - atualizado 24/08/2021 11:22

Fenômeno nos Alpes chama a atenção de especialistas(foto: BOB GIBBONS/ALAMY)
Fen�meno nos Alpes chama a aten��o de especialistas (foto: BOB GIBBONS/ALAMY)


� uma vis�o chocante — e um tanto quanto chamativa — em uma montanha.

Se voc� caminhar em uma altitude elevada o suficiente nos Alpes franceses durante o fim da primavera e o in�cio do ver�o, h� uma boa chance de se deparar com alguns trechos de neve bastante inusitados.

Uma neve que n�o � branca — mas vermelho sangue.

O fen�meno peculiar — �s vezes chamado de "neve de sangue" — � resultado de um mecanismo de defesa produzido por algas microsc�picas que crescem na neve dos Alpes.

Normalmente, essas microalgas possuem uma colora��o verde, pois cont�m clorofila, a fam�lia de pigmentos produzida pela maioria das plantas para ajud�-las a absorver a energia da luz do Sol.

Mas, quando as algas da neve crescem prolificamente e s�o expostas � forte radia��o solar, elas produzem mol�culas de pigmento de colora��o vermelha, conhecidas como carotenoides, que atuam como um protetor solar para resguardar a clorofila.

Embora as algas vermelhas da neve sejam conhecidas h� muito tempo (elas foram mencionadas em um livro publicado em 1819, como tendo sido descobertas durante uma expedi��o ao �rtico em 1818), ainda s�o repletas de mist�rios que os cientistas est�o tentando desvendar.

H� apenas dois anos, bot�nicos da Charles University, em Praga, na Rep�blica Tcheca, identificaram um g�nero inteiramente novo de microalgas que � respons�vel pela neve vermelha e laranja em diferentes partes do mundo — a qual chamaram de Sanguina, em refer�ncia � cor vermelho-sangue que produzem.

Os pesquisadores encontraram tipos de alga Sanguina que tingem a neve de vermelho na Europa, na Am�rica do Norte, na Am�rica do Sul e em ambas as regi�es polares.

Uma esp�cie de Sanguina que gera uma neve laranja incomum tamb�m foi encontrada em Svalbard, no �rtico noruegu�s.

Mas ela n�o � o �nico tipo de microalga respons�vel pela neve vermelha. V�rios outros tipos, como a Chlamydomonas nivalis e uma alga encontrada perto de col�nias de pinguins da Ant�rtida, chamada Chloromonas polyptera, tamb�m produzem pigmentos que mancham a neve de vermelho e rosa.

Entender mais sobre as algas da neve vermelha tem, no entanto, um significado bem mais amplo do que simplesmente explicar a exist�ncia de manchas de cores inusitadas nos Alpes e perto dos Polos.

Seu surgimento e desaparecimento s�o indicadores importantes da mudan�a clim�tica — e de como a mesma est� afetando os delicados ecossistemas em que as algas s�o encontradas.

De acordo com Liane G Benning, professora de geoqu�mica de interface do Centro Alem�o de Pesquisa em Geoci�ncias de Potsdam, a neve vermelha est� se tornando mais comum devido ao aquecimento global.

"O aumento nos n�veis de di�xido de carbono atmosf�rico eleva a temperatura, o que leva a um derretimento maior da neve", diz ela.

"No momento em que h� �gua l�quida na neve, as algas come�am a crescer."

Essa prolifera��o cada vez maior de algas de neve vermelha tamb�m pode estar contribuindo, por sua vez, para a mudan�a clim�tica.

O pigmento vermelho escurece a superf�cie da neve, reduzindo a quantidade de luz e calor que a mesma reflete de volta para o espa�o — algo conhecido como efeito albedo.

Ao reter mais calor do Sol, a neve derrete ainda mais rapidamente, permitindo que as algas se proliferem ainda mais.

"H� um efeito descontrolado no qual as algas derretem seu habitat preferido", diz Benning.

"� como se elas estivessem destruindo sua pr�pria casa."

Em uma escala mais ampla, o calor extra absorvido pela neve colorida pode alterar a temperatura no ambiente como um todo, acelerando o derretimento de blocos de neve e geleiras.

Um estudo estimou que em uma �nica temporada de degelo e derretimento, a prolifera��o de algas que produzem pigmento vermelho poderia reduzir o albedo da neve em 13% — sugerindo que desempenha um papel importante em como os efeitos da mudan�a clim�tica podem ser amplificados em regi�es montanhosas.

Pesquisas mostram que a prolifera��o de algas vermelhas ocorre em geleiras em todo o mundo, da Ant�rtida aos Himalaias e no �rtico.

Uma quest�o que cientistas como Benning e Eric Mar�chal, diretor do Laborat�rio de Fisiologia Celular e Vegetal de Grenoble, na Fran�a, est�o ansiosos para responder � se a prolifera��o de algas de neve vermelha est� se tornando mais disseminada e ocorrendo com mais frequ�ncia.

Uma maneira de fazer isso seria usar imagens de sat�lite para estudar o efeito da redu��o do albedo da neve vermelha.

Um estudo usando imagens de sat�lite da Pen�nsula Fildes, na Ilha Rei George, na costa da Ant�rtida, revelou que em janeiro de 2017, 26% da neve estava escurecida por algas.

Embora haja poucos dados abrangentes para mostrar se as algas vermelhas est�o se tornando mais comuns globalmente, Benning e Mar�chal acreditam que as mesmas ocorrer�o com mais frequ�ncia � medida que nosso planeta esquentar, e isso precisar� ser levado em considera��o enquanto os cientistas tentam estimar quais ser�o os impactos.

Mas, mesmo deixando de lado seu papel na mudan�a clim�tica, os cientistas est�o desvendando outros mist�rios que cercam a neve vermelha.

Mar�chal e seus colegas descobriram recentemente que as algas da neve vermelha parecem crescer apenas em altitudes acima de 2.000 metros nos Alpes franceses e prosperar, particularmente, em torno de 2.400 metros.

De acordo com Mar�chal, a alga Sanguina � encontrada em grandes altitudes devido � quantidade, qualidade e longevidade da neve presente nessas alturas.

De forma intrigante, os cientistas n�o conseguiram at� agora cultivar essas algas usando neve real em laborat�rio.

"� por isso que os pesquisadores precisam coletar o maior n�mero poss�vel de amostras para um estudo mais refinado", diz Mar�chal.

Durante uma expedi��o de dois dias � passagem de Lautaret em Hautes-Alpes, no sudeste da Fran�a, em junho deste ano, Mar�chal e seus colegas do cons�rcio ALPALGA, formado por cinco institutos franceses dedicados ao estudo de algas da montanha, coletaram suas primeiras amostras de 2021.

Diferentemente dos anos anteriores, no entanto, a neve n�o estava com sua tonalidade vermelha t�pica. Em vez disso, estava dominada pelo amarelo ocre.

A colora��o amarela, eles acreditam, se deve � presen�a de areia na neve que interfere na cor conferida pelas algas.

Embora n�o seja um fen�meno incomum, neste ano foi excepcional, � medida que ventos fortes carregaram bastante areia do Saara para os Alpes.

"Isso nos deu uma grande oportunidade de avaliar a rela��o entre a areia e o crescimento das algas da neve", afirma Mar�chal.

"Ao analisar essas part�culas, tentaremos determinar se a areia fornece nutrientes, metais ou algum elemento espec�fico que possa interferir, positiva ou negativamente, no crescimento das algas."

A equipe espera ampliar o �mbito de sua compreens�o para ver como os n�veis de ferro e de acidez na neve afetam o crescimento das algas vermelhas.

Eles tamb�m est�o estudando se outros micro-organismos e animais que vivem junto �s algas da neve podem desempenhar um papel nisso.

Segundo Mar�chal, os primeiros testes com as novas amostras coletadas em junho revelaram a presen�a de animais unicelulares, chamados zoopl�ncton, com as c�lulas das algas.

Embora mais comumente associados a oceanos e lagos, onde constituem um elemento-chave da cadeia alimentar, os zoopl�nctons tamb�m podem sobreviver nas �guas derretidas de geleiras e da neve.

A pesquisa deles est� ajudando a construir a imagem de que, embora a neve possa parecer inerte, na verdade est� repleta de vida.

"Conforme a neve cai, muitas vezes ela ret�m minerais e elementos como nitrog�nio e f�sforo, tanto antropog�nicos quanto de ocorr�ncia natural", diz Benning.

As algas da neve podem ent�o se alimentar deles, enquanto as bact�rias na neve tamb�m formam uma rela��o tr�fica com as algas.

"Nesse ecossistema, as algas da neve s�o os produtores prim�rios", explica Benning.

"Quando florescem, elas fazem fotoss�ntese, consomem nutrientes enquanto produzem res�duos, como a��cares e outros componentes, que servem como poss�vel alimento para bact�rias e outros micro-organismos."

De acordo com Mar�chal, as algas, que precisam apenas de di�xido de carbono e luz, parecem formar a base de um ecossistema mais complexo e maduro que envolve bact�rias, fungos e animais unicelulares, como o zoopl�ncton.

Mas, embora essas manchas coloridas na neve flores�am com vida — elas tamb�m t�m vida curta, aparecendo apenas por algumas semanas durante o ano.

Quando o tempo esfria novamente, a cor desaparece, e a neve volta a ser branca.

Isso levanta uma quest�o intrigante — o que realmente acontece com as algas vermelhas durante o inverno?

"Uma teoria � que elas hibernam e se tornam quase transparentes conforme congelam", diz Benning.

"Quando n�o � mais necess�rio, eles perdem a pigmenta��o, j� que � um processo que consome energia."

Enquanto o pigmento vermelho voltar a cada ano com o Sol e o calor do fim da primavera e in�cio do ver�o, Benning e seus colegas cientistas estar�o l� observando as manchas na neve de perto para ver o que mais podem nos ensinar.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.

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