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Estado de Minas OLHE PARA CIMA

Entre microsc�pios e telesc�pios, mulher de 22 anos descobre 25 asteroides

Um deles � considerado raro por sua rota diferenciada


22/01/2022 17:36 - atualizado 22/01/2022 17:45

Verena Paccola Menezes
Verena Paccola Menezes (foto: Neila Rocha (ASCOM/SEAPC/MCTI))
� entre microsc�pios e telesc�pios que a estudante de medicina Verena Paccola Menezes, de 22 anos, passa boa parte de seu tempo. Se, por um lado, o primeiro instrumento a ajuda nos caminhos que trilha para se tornar uma neurocirurgi�, � pelo telesc�pio que ela anteviu uma outra possibilidade: a medicina espacial, paix�o que surgiu ap�s, nos momentos de hobby, ter descoberto 25 asteroides. Um deles, classificado como raro pela �rbita diferenciada que poder� coloc�-lo na dire��o da Terra.


“A ci�ncia sempre esteve presente na minha vida. Nem lembro quando comecei a me interessar. Brinco que j� nasci cientista porque, para mim, fazer ci�ncia e ser cientista � fazer perguntas, questionar o mundo e ir atr�s das respostas por conta pr�pria, sem se contentar com o superficial. Sempre vivi dessa forma. Sempre fui uma crian�a muito curiosa para descobrir o mundo”, disse a estudante de Medicina da Universidade de S�o Paulo (USP), que � tamb�m t�cnica de Enfermagem.

Brinquedo na escola

 
Verena ganhou o primeiro microsc�pio quando tinha apenas 4 anos de idade. “Eu o levava como brinquedo para a escola, enquanto minhas amigas levavam bonecas e jogos”, lembra. O telesc�pio veio um pouco depois, aos 8 anos. “Tenho ele at� hoje no meu quarto principalmente para olhar a Lua”, disse a estudante, que h� dois anos cursa a faculdade da USP em Ribeir�o Preto, onde faz pesquisas sobre Alzheimer.

“Microsc�pio e telesc�pio representam coisas diferentes na minha vida. O microsc�pio � mais voltado para minha profiss�o porque envolve o que quero trabalhar, que � a medicina e a �rea acad�mica. O telesc�pio � mais um hobby, devido � minha curiosidade – o que abrange tamb�m c�u e espa�o. Sempre tive curiosidade para saber o que existe para al�m do que a gente pode ver. Amo os dois instrumentos”, resume ela � Ag�ncia Brasil.

O curso t�cnico de enfermagem foi feito durante o ensino m�dio, na Unicamp entre 2015 e 2017. Foi ali que ela come�ou a viver o ambiente hospitalar de forma mais profissional para, em seguida, j� formada e no Hospital Albert Einstein (SP), fazer pesquisas na �rea de neuroci�ncia computacional para crian�as do espectro autista.

Em 2019, representou o Brasil na Assembleia da Juventude nas Na��es Unidas (ONU) e se mudou para o Canad�, onde iniciou gradua��o em neuroci�ncia. “S� que sempre sonhei em fazer medicina na USP, o que acabou voltando aos meus planos ap�s ter de retornar ao Brasil porque, em termos financeiros, estava invi�vel continuar no Canad�”.

Recome�o

 
O problema � que a jovem, que j� era uma pesquisadora, teve de come�ar tudo de novo, para entrar na USP. “Fazia muito tempo que eu tinha feito o curso m�dio, e j� n�o lembrava bem do conte�do. Tive de reaprender tudo do zero. N�o foi uma fase legal, depois de fazer tanta pesquisa, voltar a estudar as mat�rias do ensino m�dio. Vivi muita press�o”.

E foi exatamente a ang�stia de n�o praticar ci�ncia que a fez avan�ar em uma outra paix�o: a astronomia. “Eu precisava de algo cient�fico para me estimular. Foi quando me deparei, em um grupo de whatsapp, com essa oportunidade de aprender a ca�ar asteroide”.

Ela fez ent�o todo um treinamento que a capacitou para o novo hobby. “Gostei muito disso. Depois de capacitada, comecei a usar o software que eles usam para ca�ar asteroides. Eu recebia imagens tiradas por um telesc�pio do Hava�. Cada pacote de imagens feitas pelo telesc�pio era composto de quatro imagens tiradas com diferen�a de segundos. Eu pegava esse pacote de imagens e o jogava no software que as piscava seguidamente, em ordem. Como elas tinham diferen�a de tempo, dava para perceber se alguma coisa se movia no espa�o”.

Quando Verena encontrava algum pontinho se movimentando, fazia a an�lise num�rica do objeto para ver se ele se encaixava nos padr�es de um asteroide. Caso o resultado fosse positivo, ela gerava um relat�rio e o enviava para o centro internacional que estuda isso em Harvard (EUA).

Foi dessa forma que ela descobriu nada menos que 25 novos asteroides. Diante do feito, foi convidada, em dezembro do ano passado, a receber uma medalha de ordem ao m�rito, dada pelo Minist�rio da Ci�ncia, Tecnologia e Inova��es, em Bras�lia, durante a Semana Nacional de Ci�ncia e Tecnologia.
 
Verena Paccola Menezes recebe medalha de ordem ao mérito do MCTI
Verena Paccola Menezes recebe medalha de ordem ao m�rito do MCTI (foto: Neila Rocha (ASCOM/SEAPC/MCTI))
 
 

Asteroide raro

 
“Acabei recebendo mais que uma medalha. Quando achei que a premia��o tinha acabado, me chamaram novamente ao palco para receber um trof�u. Foi ali que me contaram que eu havia descoberto um asteroide importante e raro, que segue uma �rbita diferente em torno do Sol”.

Normalmente os asteroides do Sistema Solar est�o localizados entre Marte e J�piter, onde fica o chamado Cintur�o Principal. Um dos asteroides descobertos por Verena seguia uma �rbita diferente da dos demais, o que aumenta as possibilidades de sua rota coincidir com a do planeta Terra.

“Agora a gente tem de ver para onde ele est� indo, de forma a prever poss�veis impactos com a Terra. N�o sei se isso vai acontecer. A possibilidade existe, mas se a gente olhar para as dimens�es do Universo, vemos que a probabilidade � muito pequena”, diz ela, esperan�osa de que sua descoberta n�o seja algo apocal�ptico semelhante � hist�ria contada no filme N�o Olhe para o Cima, na qual uma pesquisadora descobre um cometa com rota em dire��o a Terra, que dar� fim � vida no planeta.

“Fiquei chocada com esse filme. Ele � muito bom at� do ponto de vista cient�fico. � tamb�m o retrato da sociedade e da mulher na ci�ncia. Claro que me identifiquei muito com a personagem por tamb�m ser uma mulher na ci�ncia. E, na ci�ncia, as mulheres, al�m de n�o serem ouvidas, vivem em um contexto no qual � o homem quem leva a maioria dos cr�ditos. No filme, ela inclusive foi tachada de louca”.

Na avalia��o da estudante ca�adora de asteroides, o filme vai al�m, abordando a humanidade atual como um todo. “Fala muito sobre essa onda negacionista que vivemos no Brasil. D� para relacionar a muitos assuntos, al�m de um cometa ou um asteroide. � tamb�m uma met�fora para a quest�o do aquecimento global, que os cientistas tanto falam que est� acontecendo e que ningu�m ouve. Mostra tamb�m o peso da economia em decis�es”, argumenta.

Futuro

 
As oportunidades abertas pela astronomia � estudante de medicina est�o fazendo-a repensar os planos para o futuro. “Tenho certeza de que realizarei o sonho de me formar em medicina. Estou no segundo ano do curso e tudo segue para que eu fa�a resid�ncia em neurocirurgia”, diz a ca�adora de asteroides. “S� que agora eu tenho uma pulga atr�s da orelha”, acrescentou.

Essa “pulga” foi colocada pelo presidente da Ag�ncia Espacial Brasileira, Carlos Moura. “Depois da premia��o em Bras�lia, visitei a ag�ncia. L�, ele me falou sobre medicina espacial, que at� ent�o eu n�o conhecia porque n�o � uma �rea muito divulgada aqui no Brasil como especializa��o”.

O assunto despertou o interesse de Verena. “Comecei ent�o a pesquisar e vi que tem m�dicos que est�o no espa�o agora, fazendo pesquisas em gravidade zero para ver como determinados tecidos se desenvolvem; como algumas c�lulas se multiplicam. � muito legal. E tem m�dicos desenvolvendo tecnologias para as pessoas irem ao espa�o. � uma �rea muito grande que eu nem imaginava existir. Agora, � uma nova �rea para explorar e considerar para o meu futuro. Mas vamos ver”.

“Por enquanto, vou continuar ca�ando asteroides e, se tudo der certo, ser tamb�m treinadora de ca�adores de asteroides para que outras pessoas fa�am o mesmo e formemos equipes. Planejo fazer isso pelo meu Instagram”, completou. 


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