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Titanic: curiosidades sobre o famoso naufr�gio ocorrido h� 110 anos

A BBC News Brasil ouviu alguns especialistas para apresentar algumas curiosidades instigantes sobre esse naufr�gio que se tornou t�o famoso


14/04/2022 09:21 - atualizado 14/04/2022 14:54


Titanic no estaleiro em Belfast, Irlanda do Norte
Titanic no estaleiro em Belfast, Irlanda do Norte (foto: Getty Images)

Era noite e a maior parte dos passageiros dormia quando, exatamente 110 anos atr�s, um iceberg interrompeu aquela que seria a primeira viagem do mais impressionante navio de passageiros at� ent�o constru�do, o Titanic.

O navio estava a 41 quil�metros por hora. Menos de 3 horas depois, j� havia se tornado um naufr�gio, afundado nos confins do Atl�ntico.

Seus destro�os foram localizados apenas em setembro de 1985 — a embarca��o dividiu-se em duas partes, separadas a 800 metros de dist�ncia, a 3.843 metros de profundidade, a 650 quil�metros do Canad�.

A BBC News Brasil ouviu especialistas para apresentar algumas curiosidades instigantes sobre esse naufr�gio que se tornou t�o famoso.

'Inafund�vel'

"Nem Deus afunda o Titanic"? A fama de "inafund�vel" tinha l� suas raz�es. "Para a engenharia, o Titanic ficou famoso porque foi o primeiro navio em que houve a aplica��o de um conceito de projeto que visava a compartimentar o navio, dividindo-o em v�rios compartimentos, sendo que cada um seria estanque, ou seja, se a �gua inundasse um compartimento, n�o seria capaz de inundar o seguinte", explica o engenheiro naval Alexandre de Pinho Alho, professor do Departamento de Engenharia Naval e Oce�nica da Polit�cnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O problema, explica o professor, era que tal projeto esbarrou no desafio que era passar as tubula��es e cabos el�tricos ao longo do navio. "Qual foi a solu��o? Calcularam um limite razo�vel esperado [para inunda��o] em caso de avaria, conclu�ram que a �gua n�o chegaria at� o teto, e criaram compartimentos mais ou menos estanques, ou seja, foram l� e fizeram uma prote��o s� at� bem pr�ximo ao teto", diz Alho.

N�o � preciso lembrar que o choque com o iceberg foi t�o grande que tornou essa ideia insuficiente. "O rasgo que foi feito no casco alcan�ou metade do comprimento. L�gico que a �gua chegou at� o teto", acrescenta ele.

"O navio entrou em uma condi��o que chamamos de alagamento progressivo, um ponto a partir do qual n�o h� mais como salvar a embarca��o: voc� pode acionar todas as bombas, tomar todas as provid�ncias, n�o � poss�vel tirar a �gua numa vaz�o maior do que ela entra", contextualiza.

"O projeto j� tinha sido divulgado na �poca como o de um barco 'insubmers�vel'", complementa o engenheiro civil Thierry Stump, construtor naval e navegador.


Primeiras saídas do RMS Titanic após deixar estaleiro
Primeiras sa�das do RMS Titanic ap�s deixar estaleiro (foto: Getty Images)

"Uma das grandes defesas era que havia um monte de por�es separados, com paredes semiestanques entre eles, de maneira que ainda que se rasgassem dois consecutivos ainda n�o seria suficiente para afund�-los."

"Entretanto, o iceberg pegou lateralmente o barco e destruiu muitos anteparos e paredes transversais. Inundou muito mais do que a capacidade", salienta ele.

Professor na Universidade Federal Fluminense, o engenheiro de transportes Aur�lio Soares Murta ressalta que mesmo o sistema de fechamento dos tais compartimentos estanques acabou n�o funcionando como planejado. Culpa do forte impacto contra um material inferior ao a�o utilizado hoje em embarca��es do tipo.

"A batida foi t�o forte que ocasionou uma tor��o na estrutura do navio. Essas portas n�o conseguiram fechar. Elas emperraram", conta. "A metalurgia da �poca era diferente. O Titanic foi feito com o melhor a�o dispon�vel, mas isso � incompar�vel ao que temos hoje."

O engenheiro metal�rgico Jan Vatavuk, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, explica que at� a d�cada de 1940 os cascos de navios eram feitos com chapas met�licas rebitadas — s� a partir de ent�o passaram a ser pe�as soldadas.

"Houve uma evolu��o muito grande das t�cnicas e dos materiais. A solda � um processo mais agressivo em termos de mudan�a de microestrutura na regi�o fundida, j� que coloca um material derretido para unir as chapas", contextualiza ele.

"E a partir da segunda Guerra Mundial, o a�o passou a ser fabricado com uma porcentagem mais baixa de carbono e mais alta de mangan�s. O grau de limpeza dos materiais tamb�m melhorou. Hoje o a�o � um material mais tenaz, mais adequado a superestruturas."

Vatavuk define os navios contempor�neos como "vigas el�sticas", capazes de suportar a flex�o causada pelos constantes movimentos das ondas. "Em caso de grandes tempestades, suportam bem. Temos de evitar a fadiga dos materiais o m�ximo poss�vel."

Fl�mula Azul

Mas em grandes acidentes sempre � preciso lembrar que h� falhas humanas. Para os especialistas, no caso do Titanic havia um fator: a intensa press�o para que o navio fosse r�pido, mesmo precisando enfrentar adversidades como uma regi�o cheia de icebergs.

Isto porque havia um pr�mio, institu�do em 1839, chamado de Fl�mula Azul, que visava a reconhecer e dar publicidade aos navios mais r�pidos nas travessias transatl�nticas. E o Titanic era candidat�ssimo a ganhar a honraria.


Sala de ginástica no Titanic
Sala de gin�stica no Titanic (foto: Getty Images)

"Na �poca, os navios eram a maior obra de engenharia que a humanidade era capaz de realizar", ressalta Alho. "Havia uma disputa entre as principais companhias e tamb�m as principais na��es construtoras de navios do mundo. No caso, Inglaterra e Alemanha. Cada uma queria fazer o navio maior e mais r�pido."

O reconhecimento considerado oficial era o tal pr�mio. "Os pa�ses disputavam isso", comenta o professor.

E a primeira viagem de um navio era a melhor para conseguir bater esses recordes. Segundo o engenheiro, isso ocorre porque � quando a embarca��o "experimenta as melhores condi��es para a travessia".

"O casco e a h�lice est�o limpos, os motores em condi��es perfeitas… A primeira viagem � momento �timo para atingir a maior velocidade poss�vel. E o Titanic tentou fazer isso", diz ele.

H� relatos de sobreviventes dizendo que o comandante do navio, mesmo tendo recebido a not�cia de que havia icebergs nas proximidades, hesitou em diminuir a velocidade, justamente porque n�o queria perder a oportunidade de chegar o quanto antes ao destino final.

Irm�os do Titanic

O Titanic n�o foi filho �nico. No in�cio do s�culo 20, a empresa White Star Line encomendou tr�s navios transatl�nticos aos estaleiros da Harland and Wolff em Belfast. Projetados por uma equipe de ponta, deveriam ser os maiores, mais seguros e mais luxuosos navios do mundo.

"Os projetos foram muito divulgados na �poca", comenta o engenheiro Stump. As embarca��es foram feitas entre 1908 e 1915 e eram chamadas de Classe Olympic. Os dois primeiros a entrarem em produ��o foram o Olympic, em 1908, e o Titanic em 1909. O terceiro, originalmente chamado de Gigantic, come�ou a ser feito em 1911.


Rombo no casco do RMS Olympic, navio considerado 'irmão' do Titanic
Rombo no casco do RMS Olympic, navio considerado "irm�o" do Titanic (foto: Getty Images)

Curiosamente, os tr�s se envolveram em acidentes. O Olympic entrou em opera��o em junho de 1911 e, no mesmo ano, colidiu com um cruzador. Foi reparado e voltou a navegar. Durante a I Guerra Mundial, a embarca��o foi convocada pela Marinha Real Brit�nica para transporte de tropas — chegou a bater em um submarino alem�o em 1918.

Voltou � opera��o civil em 1920 e s� foi aposentado em 1935. Era chamado de "Velho Confi�vel".

A viagem inaugural do Titanic foi iniciada em 10 de abril de 1912. Por muito pouco o navio n�o colidiu com uma outra embarca��o logo na sa�da do porto de Southampton. Na noite de 14 de abril, houve o naufr�gio hist�rico.

O Gigantic tamb�m n�o teve carreira longa. Acabou rebatizado como Britannic e, requisitado pela Marinha Real Brit�nica, transformou-se em um navio hospital durante a I Guerra. Afundou em novembro de 1916.

Apesar de grandes para a �poca — tanto o Olympic quanto o Titanic foram os maiores do mundo quando ficaram prontos —, s�o navios de dimens�es modestas comparados aos transatl�nticos atuais.

"Era o possante da �poca, o gigante dos mares. Mas se comparado com um de hoje, parece um barquinho", comenta Murta.

O Titanic media 269 metros de comprimento. Entre tripula��o e passageiros, ele comportava cerca de 3,3 mil pessoas. O maior navio de passageiros do mundo atualmente � o Wonder of the Seas, que tem 362 metros de comprimento, acomoda 7 mil passageiros e 2,3 mil tripulantes.

Melhorias de seguran�a

O naufr�gio do Titanic, uma trag�dia que terminou com a morte de cerca de 1.500 pessoas, abriu um precedente para que diversas melhorias de seguran�a fossem adotadas. A evolu��o da tecnologia, de l� para c�, tamb�m contribuiu — � claro.


Detalhe do Titanic logo após sua construção
Detalhe do Titanic logo ap�s sua constru��o (foto: Getty Images)

A come�ar pelo uso de equipamentos como radar. Os primeiros equipamentos do tipo em alto mar foram utilizados apenas a partir da Segunda Guerra Mundial. "Naquela �poca [do Titanic], era tudo no recurso visual", explica Alho. "Um marinheiro ficava no alto do mastro para ver se conseguia localizar um iceberg. Era uma maneira prec�ria, ainda mais com o navio andando na velocidade m�xima."

Melhorias de protocolo tamb�m foram institu�das. O Titanic terminou com muitos mortos porque nem equipamentos de salva-vidas havia para todos. "Como o navio 'n�o ia afundar de jeito nenhum', eles reduziram a quantidade de botes pela metade", diz Alho.

"O acidente do Titanic foi um divisor de �guas para a seguran�a", comenta Murta. "Depois dele, navios passaram a ter normas estruturais para a fabrica��o, padr�es de seguran�a e planos de evacua��o consistentes."

"E, claro, hoje radares e sonares identificam icebergs muito antes de um navio encontrar com ele. Al�m disso, as cartas n�uticas, o mapeamento dos mares, tudo ficou muito mais sofisticado", acrescenta ele.

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