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Estado de Minas CANNABIS

Como a maconha afeta nossa cogni��o e psicologia, segundo novos estudos

Usada pelos seres humanos h� milhares de anos, a cannabis pode influenciar v�rios processos cognitivos e psicol�gicos


01/05/2022 16:34 - atualizado 02/05/2022 10:07


Folha de maconha
(foto: Getty Images)

A cannabis � usada pelos seres humanos h� milhares de anos — e � uma das drogas mais populares atualmente. Com efeitos como sensa��o de alegria e relaxamento, tamb�m pode ser legalmente receitada ou usada em v�rios pa�ses.

Mas como o uso da droga afeta a mente? Em tr�s estudos recentes, publicados no The Journal of Psychopharmacology, no Neuropsychopharmacology e no International Journal of Neuropsychopharmacology, mostramos que ela pode influenciar v�rios processos cognitivos e psicol�gicos.

O Escrit�rio das Na��es Unidas sobre Drogas e Crime informou que, em 2018, aproximadamente 192 milh�es de pessoas em todo o mundo com idades entre 15 e 64 anos usaram cannabis para fins recreativos.

Os adultos jovens s�o particularmente interessados, com 35% das pessoas entre 18 e 25 anos fazendo uso, em compara��o com apenas 10% daquelas com mais de 26 anos.

Isso indica que os principais usu�rios s�o adolescentes e adultos jovens, cujos c�rebros ainda est�o em desenvolvimento.

Eles podem, portanto, ser particularmente vulner�veis %u200B%u200Baos efeitos do uso de cannabis no c�rebro no longo prazo.

O tetrahidrocanabinol (THC) � o principal composto psicoativo da cannabis. Ele atua no "sistema endocanabinoide" do c�rebro, que s�o receptores que respondem aos componentes qu�micos da cannabis.

Os receptores de cannabis s�o densamente povoados nas �reas pr�-frontais e l�mbicas do c�rebro, envolvidas na recompensa e na motiva��o. Eles regulam a sinaliza��o das subst�ncias qu�micas cerebrais dopamina, �cido gama-aminobut�rico (GABA) e glutamato.

Sabemos que a dopamina est� envolvida na motiva��o, recompensa e aprendizado. O GABA e o glutamato desempenham um papel nos processos cognitivos, incluindo aprendizado e mem�ria.

Efeitos cognitivos

O uso de cannabis pode afetar a cogni��o, especialmente naqueles com transtorno por uso de cannabis. Isto � caracterizado pelo desejo persistente de usar a droga e pela interrup��o de atividades di�rias, como trabalho ou estudo.

Estima-se que aproximadamente 10% dos usu�rios de cannabis atendem aos crit�rios de diagn�stico para este transtorno.

Em nossa pesquisa, testamos a cogni��o de 39 pessoas com o transtorno (solicitadas a n�o usarem a droga no dia do teste) e comparamos com a de 20 pessoas que nunca ou raramente usavam cannabis.

Mostramos que os participantes com a condi��o apresentaram desempenho significativamente pior nos testes de mem�ria do CANTAB (Cambridge Neuropsychological Test Automated Battery, ou Bateria Automatizada de Teste Neuropsicol�gico de Cambridge, em tradu��o livre), em compara��o com os indiv�duos do grupo de controle, que nunca ou muito raramente usavam cannabis.

Tamb�m afetou negativamente suas "fun��es executivas", que s�o processos mentais, incluindo o pensamento flex�vel

Este efeito pareceu estar ligado � idade em que as pessoas come�aram a usar a droga — quanto mais jovens, mais prejudicadas eram suas fun��es executivas.

Defici�ncias cognitivas tamb�m foram observadas em usu�rios leves de cannabis. Estes usu�rios tendem a tomar decis�es mais arriscadas do que outros e apresentam mais problemas com planejamento.

Embora a maioria dos estudos tenha sido realizada em homens, h� evid�ncias de diferen�as entre os sexos no que se refere aos efeitos do uso de cannabis na cogni��o.

Mostramos que, enquanto a mem�ria dos usu�rios do sexo masculino de cannabis era mais fraca para reconhecer visualmente as coisas, as usu�rias mulheres apresentavam mais problemas relacionados � aten��o e fun��es executivas.


Cigarro de maconha sendo preparado
Em 2018, cerca de 192 milh�es de pessoas, entre 15 e 64 anos, usaram cannabis para fins recreativos (foto: Getty Images)

Estes efeitos atribu�dos a cada sexo persistiram ao controlar a idade; QI; uso de �lcool e nicotina; humor e sintomas de ansiedade; estabilidade emocional; e comportamento impulsivo.

Recompensa, motiva��o e sa�de mental

O uso de cannabis tamb�m pode afetar como nos sentimos — influenciando ainda mais nosso pensamento.

Por exemplo, algumas pesquisas anteriores sugeriram que recompensa e motiva��o — junto aos circuitos cerebrais envolvidos nesses processos — podem ser afetadas quando usamos cannabis.

Isso pode atrapalhar nosso desempenho na escola ou no trabalho, uma vez que pode nos fazer sentir menos motivados a trabalhar duro e menos recompensados %u200B%u200Bquando nos sa�mos bem.

Em nosso estudo recente, usamos uma tarefa de imagem cerebral, na qual os participantes foram colocados em um aparelho de resson�ncia magn�tica e viram quadrados laranjas ou azuis.

Os quadrados laranjas levariam a uma recompensa monet�ria, ap�s um intervalo, se o participante desse uma resposta.

Esta configura��o nos ajudou a investigar como o c�rebro responde a recompensas. N�s nos concentramos particularmente no estriado ventral, que � uma regi�o chave no sistema de recompensa do c�rebro.

Descobrimos que os efeitos no sistema de recompensa no c�rebro eram sutis, sem efeitos diretos da cannabis no estriado ventral.

No entanto, os participantes do nosso estudo eram usu�rios moderados de cannabis.

Os efeitos podem ser mais pronunciados em usu�rios de cannabis que fazem uso mais intenso e cr�nico, como observado no transtorno por uso de cannabis.

H� tamb�m evid�ncias de que a cannabis pode levar a problemas de sa�de mental.

Mostramos que est� relacionada a uma maior "anedonia" — incapacidade de sentir prazer — em adolescentes. Curiosamente, este efeito foi particularmente pronunciado durante os lockdowns da pandemia de covid-19.

O uso de cannabis durante a adolesc�ncia tamb�m foi relatado como um fator de risco para o desenvolvimento de experi�ncias psic�ticas, assim como esquizofrenia.

Um estudo mostrou que o uso de cannabis aumenta moderadamente o risco de sintomas psic�ticos em jovens, mas tem um efeito muito mais forte naqueles com predisposi��o para psicose (com pontua��o alta em uma lista de sintomas de ideias paranoicas e psicoticismo).

Ao avaliar 2.437 adolescentes e adultos jovens (14-24 anos), os autores observaram um risco aumentado de seis pontos percentuais — de 15% para 21% — de sintomas psic�ticos em usu�rios de cannabis sem predisposi��o para psicose.

Mas houve um aumento de 26 pontos no risco — de 25% para 51% — de sintomas psic�ticos em usu�rios de cannabis com predisposi��o para psicose.

N�o sabemos, na verdade, por que a cannabis est� ligada a epis�dios psic�ticos, mas hip�teses sugerem que a dopamina e o glutamato podem ser importantes na neurobiologia destas condi��es.

Outro estudo com 780 adolescentes sugeriu que a associa��o entre o uso de cannabis e experi�ncias psic�ticas tamb�m estava ligada a uma regi�o do c�rebro chamada "uncus".

Encontra-se dentro do para-hipocampo (envolvido na mem�ria) e no bulbo olfat�rio (envolvido no processamento de cheiros) e possui uma grande quantidade de receptores canabinoides. Tamb�m j� foi associado com esquizofrenia e experi�ncias psic�ticas.

Os efeitos cognitivos e psicol�gicos do uso de cannabis provavelmente dependem, em certa medida, da dosagem (frequ�ncia, dura��o e for�a), sexo, vulnerabilidades gen�ticas e idade de in�cio.

Mas precisamos determinar se estes efeitos s�o tempor�rios ou permanentes.

Um artigo resumindo v�rios estudos sugeriu que, no caso do uso leve de cannabis, os efeitos podem diminuir ap�s per�odos de abstin�ncia.

Mas mesmo que seja este o caso, vale a pena considerar os efeitos que o uso prolongado de cannabis pode ter em nossas mentes — sobretudo em jovens cujos c�rebros ainda est�o em desenvolvimento.

*Barbara Jacquelyn Sahakian � professora de neuropsicologia cl�nica da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Christelle Langley � pesquisadora associada de p�s-doutorado em neuroci�ncia cognitiva na Universidade de Cambridge.

Martine Skumlien � estudante de doutorado em psiquiatria na Universidade de Cambridge.

Tianye Jia � professor de neuroci�ncia da popula��o da Universidade Fudan, na China.

Este artigo foi publicado originalmente no site de not�cias acad�micas The Conversation e republicado aqui sob uma licen�a Creative Commons. Leia aqui a vers�o original (em ingl�s).

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