(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas perigo

Lix�o sideral

�rbita terrestre est� dominada por detritos de sat�lites e naves que podem provocar colis�es e graves acidentes


04/06/2023 04:00 - atualizado 03/06/2023 23:28
669

Ilustração mostra como o lixo espacial pode representar um perigo para a Terra
A ilustra��o mostra como o lixo espacial pode representar um perigo para a Terra. Os restos de naves e sat�lites somam quase 11 mil toneladas (foto: Mark A. Garlick/markgarlick.co/Divulga��o)


Ao voltar os olhos para o c�u, muitas pessoas n�o t�m ideia de que, al�m de estrelas, planetas e meteoros, o espa�o est� cheio de lixo. Assim como ocorre no solo terrestre e nos oceanos, a atividade humana polui a �rbita com detritos que colocam em risco a seguran�a da Terra. Desde 1957, quando come�ou a corrida espacial, quase 11 mil toneladas de restos de naves e sat�lites artificiais foram acumulados, sem contar os mais de 100 milh�es de objetos n�o rastreados (veja quadro). Com a futura expans�o das incurs�es, especialmente no setor de telecomunica��es, as expectativas s�o de que o problema se agrave. H� duas semanas, um objeto cil�ndrico de metal e com temperatura bastante quente atingiu um carro em Santos, no litoral de S�o Paulo. A partir das caracter�sticas e dos relatos do dono do ve�culo, especialistas n�o descartam a possibilidade de ser lixo espacial. 

A estimativa � de que os sat�lites em atividade saltem dos 9,7 mil de hoje para mais de 60 mil em 2030. Temendo que a situa��o se descontrole, como ocorreu com o ac�mulo de pl�stico nos oceanos, os cientistas, agora, querem um tratado internacional que proteja a �rbita da Terra. Recentemente, um grupo de especialistas em tecnologia e meio ambiente publicou, na revista Science, um apelo para que, inspirados pelo instrumento juridicamente vinculativo que dever� garantir a sa�de dos mares ap�s 20 anos de negocia��es, governos de todo o mundo olhem para cima.

"Passei a maior parte da minha carreira trabalhando no ac�mulo de lixo pl�stico no ambiente marinho, os danos que podem trazer e as poss�veis solu��es. � muito claro que grande parte da polui��o que vemos hoje poderia ter sido evitada. Quanto ao ac�mulo de detritos no espa�o, h� muito que pode ser aprendido com os erros cometidos em nossos oceanos", destaca Richard Thompson, chefe da Unidade Internacional de Pesquisa de Lixo Marinho da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, e um dos pesquisadores que assinam o artigo. No texto, o grupo sustenta que, sem medidas de impacto, "grandes partes dos arredores imediatos do nosso planeta correm o risco de ter o mesmo destino do alto-mar, onde a governan�a insubstancial levou a pesca predat�ria, destrui��o de habitat, explora��o mineira e polui��o pl�stica."

Os cientistas reconhecem os benef�cios dos sat�lites artificiais e dizem que muitas ind�strias come�am a se preocupar com solu��es sustent�veis na produ��o desses objetos. Por�m, destacam que boa parte da �rbita terrestre pode ser inutilizada com o avan�o dos detritos artificiais. At� porque os pr�prios instrumentos lan�ados no espa�o com diversos fins, desde meteorol�gicos a telecomunica��es, podem ser prejudicados caso colidam com o lixo.

Segundo a Ag�ncia Espacial Europeia, mesmo fragmentos de 10cm podem provocar estragos, destruindo espa�onaves milion�rias ou atingindo a Esta��o Espacial Internacional, que � tripulada. Isso j� ocorreu. O supertelesc�pio Hubble, por exemplo, sofreu um dano a uma das antenas atribu�do ao lixo espacial. Em 2019, o sat�lite militar chin�s Yunhai foi destru�do depois de colidir com um objeto com di�metro estimado entre 10cm e 50cm.

Taxa de uso 

Para Imogen Napper, pesquisadora da Universidade de Plymouth, l�der do grupo de cientistas que publicou o artigo na Science, n�o h� tempo a perder. "Com o ac�mulo de detritos espaciais, estamos em uma situa��o semelhante � da polui��o de oceanos. Considerando o que aprendemos em alto-mar, podemos evitar cometer os mesmos erros e trabalhar coletivamente para evitar uma trag�dia no espa�o. Sem um acordo global, poderemos nos encontrar em um caminho semelhante ao da polui��o pl�stica", disse, em um comunicado. Para a especialista, um acordo internacional deve incluir medidas para responsabilizar dos fabricantes aos respons�veis pelo lan�amento dos sat�lites a partir do momento em que chegam ao espa�o.

Uma das poss�veis solu��es que devem constar de um acordo internacional � cobrar taxas de uso orbital das operadoras para cada sat�lite lan�ado, defende Mathew Burgess, pesquisador do Instituto Cooperativo de Pesquisa Ambiental da Universidade de Colorado, em Boulder, nos Estados Unidos. O economista � um dos autores de um artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas) no qual diz que essa � a maneira mais eficaz de resolver o problema do lixo espacial.

Para o pesquisador, a remo��o de detritos espaciais pode motivar os operadores a lan�arem mais sat�lites, aumentando ainda mais o lixo na �rbita baixa da Terra (menos de 1,2 mil quil�metros) e, consequentemente, o risco de colis�o. A cobran�a de taxas estimularia as companhias a retirarem do espa�o os instrumentos que n�o s�o mais necess�rios, acredita. O valor aumentaria com o tempo do objeto em �rbita. No modelo dos especialistas da Universidade de Colorado, haveria um reajuste de 14% por ano-sat�lite, at� 2040.

A preocupa��o com o ac�mulo de lixo na �rbita levou um grupo de pesquisadores da Universidade de Warwick, no Reino Unido, a criar um Centro de Conscientiza��o do Dom�nio Espacial. A ideia � pensar estrat�gias sobre o uso sustent�vel do espa�o, incluindo o desenvolvimento de m�todos para rastrear os detritos. "A maior parte da sociedade moderna depende do espa�o. Mas, agora, temos um problema de tr�fego espacial. Mais cedo ou mais tarde, tudo isso se tornar� um grande problema. Do nosso ponto de vista, a ideia � come�ar a pensar em solu��es muito antes que isso aconte�a", argumenta Don Pollacco, diretor do novo centro e professor do Departamento de F�sica.

Uma das preocupa��es, segundo Pollacco, � que pouco se sabe sobre a realidade do lixo espacial. "N�o sabemos sobre a distribui��o orbital, mas sabemos que existem algumas �rbitas que cont�m detritos significativos. S�o materiais que est�o se movendo muito r�pido, e mesmo algo muito pequeno pode derrubar uma espa�onave inteira."

O tamanho do problema

Catalogados

– Lan�amentos de foguetes desde o in�cio da era espacial (1957), excluindo os que falharam: 6.380
– Sat�lites que esses foguetes colocaram na �rbita da Terra: 15.430
– Sat�lites que ainda est�o no espa�o: 9.680
– Sat�lites no espa�o ainda em funcionamento: 7.400
– Detritos rastreados regularmente pela Rede de Vigil�ncia Espacial da Ag�ncia Espacial Europeia: 31.990
– Separa��es, explos�es, colis�es ou eventos an�malos resultando em fragmenta��o de material no espa�o: 640
– Massa total de objetos espaciais na �rbita da Terra: 10.700 toneladas

Estimados

Nem todos os objetos s�o rastreados e catalogados. Quantidade de detritos estimadas com base em modelos estat�sticos:
– 36.500 objetos maiores que 10cm
– 100.0000 objetos de 1cm a 10cm
– 130 milh�es de objetos de 1mm a 1cm

Fonte: Escrit�rio de Detritos Espaciais da Ag�ncia Espacial Europeia (dados atualizados em dezembro de 2022)

Palavra de especialista

Melissa Thorpe chefe do aeroporto espacial Spaceport Cornwall, na Inglaterra
(foto: Spaceport Cornwall/Divulga��o)

Melissa Thorpe 
chefe do aeroporto espacial Spaceport Cornwall, na Inglaterra

A��ES URGENTES

"Os sat�lites s�o vitais para a sa�de de nosso povo, nossas economias, nossa seguran�a e a da pr�pria Terra. No entanto, o uso do espa�o para beneficiar as pessoas e o planeta est� em risco. Ao comparar como tratamos nossos mares, podemos ser proativos antes de prejudicar o uso do espa�o para as gera��es futuras. A humanidade precisa assumir a responsabilidade por nossos comportamentos no espa�o agora, n�o mais tarde. Encorajo todos os l�deres a tomarem nota, reconhecerem a import�ncia dessa quest�o e se tornarem conjuntamente respons�veis."

Megaconstela��es atrapalham observa��es astron�micas

Traço luminoso deixado pela Starlink no céu do Uruguai
Tra�o luminoso deixado pela Starlink no c�u do Uruguai: sat�lites podem confundir cientistas (foto: Mariana SUAREZ/AFP)

As chamadas megaconstela��es de sat�lites, como a Starlink da SpaceX, que re�nem um n�mero imenso desses objetos para telecomunica��o, se tornaram n�o apenas um potencial gerador de lixo espacial, mas est�o provocando a polui��o luminosa. Trata-se de uma s�ria amea�a para a astronomia, alega uma equipe liderada por John Barentine, pesquisador da Dark Sky Consulting, que publicou, recentemente, um artigo sobre o assunto na revista Nature Astronomy.

“Tememos que sinais astrof�sicos fracos se percam cada vez mais no ru�do devido a megaconstela��es de sat�lites", escreveu a equipe. A busca por asteroides pr�ximos da Terra (NEAs) potencialmente perigosos � uma poss�vel v�tima da quantidade desenfreada de sat�lites, alegam. "Esses objetos geralmente aparecem em nossos c�us nas horas do crep�sculo, ao p�r do Sol e ao nascer do Sol, momentos em que sat�lites e detritos espaciais t�m maior probabilidade de interferir nas observa��es."

Em 2021, um estudo publicado na revista da Royal Astronomical Society demonstrou que a luz acumulada refletida por todos os objetos espaciais grandes e pequenos tornou o c�u noturno no z�nite at� 10% mais brilhante do que foi no in�cio da era espacial, no fim dos anos 1950. Essa situa��o ocorre mesmo em lugares remotos, onde a polui��o luminosa praticamente n�o existe, disseram os pesquisadores.

"A melhor medida para evitar isso �, sem d�vida, parar com o lan�amento descontrolado dessas constela��es de sat�lites na �rbita baixa da Terra", comenta a astr�noma Olga Zamora, da Sociedade Astron�mica Espanhola, que estuda o impacto das megaconstela��es nas observa��es astron�micas. "O marco regulat�rio internacional sobre o uso do espa�o sideral precisa ser alterado, tarefa que n�o parece f�cil, apesar dos esfor�os que j� foram feitos nesse sentido. A perda n�o � apenas para a astronomia, mas para a humanidade. Portanto, al�m de convocar os cientistas a se mobilizarem, outras a��es devem ser implantadas para obter o apoio p�blico."


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)