Pedro Corr�a do Lago lan�a a fotobiografia do av�, Oswaldo Aranha
Pol�tico ga�cho participou de momentos cruciais da trajet�ria do Brasil
11/07/2017 08:00
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atualizado 06/03/2023 22:09
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Oswaldo Aranha e Get�lio Vargas em Petr�polis, em 1953 (foto: Capivara/reprodu��o)
�ngela Faria
Oswaldo Aranha – Uma fotobiografia (Editora Capivara), de Pedro Corr�a do Lago, � um livro oportuno. Chega em boa hora a este Brasil mergulhado em Lava-Jatos, mensal�es e dela��es premiadas, cujo povo rejeita a pol�tica e os pol�ticos. Mostra como a famosa “arte do poss�vel” era exercitada com gosto e devo��o por aquele ga�cho de Alegrete, que dedicou 35 de seus 65 anos � vida p�blica.
Oswaldo Aranha lutou – no front – nas revolu��es ga�chas dos anos 1920. Um tiro estra�alhou-lhe o calcanhar. Articulou a ascens�o de Get�lio Vargas ao poder em 1930, atuou decisivamente para que o Brasil apoiasse os Aliados na 2ª Guerra Mundial, embora o “chefe” ensaiasse se aliar a Hitler e Mussolini. Comandou a reuni�o da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) que criou o Estado de Israel. Na noite que antecedeu ao suic�dio de Vargas, ele e Tancredo Neves se propuseram a defender – a bala – o mandato constitucional do presidente, pressionado a renunciar pelos militares. Enterrado Get�lio, o mineiro e o ga�cho articularam, praticamente � beira do t�mulo, a vitoriosa candidatura de Juscelino Kubitschek.
Sem minimizar contradi��es e complexidades de Aranha e de Get�lio, Pedro Corr�a do Lago diz que seu livro dialoga com o Brasil contempor�neo por evocar uma gera��o “cuja postura diante da coisa p�blica era diametralmente oposta �quela adotada hoje pelos pol�ticos”. Julgado severamente pela ditadura que implantou, Get�lio jamais foi acusado de corrup��o, lembra o autor.
Oswaldo Aranha no Rio de Janeiro (foto: Editora Capivara/Reprodu��o)
Filho de abastados cl�s ga�chos e paulistas, Oswaldo Aranha deixou como heran�a uma casa no Cosme Velho, no Rio de Janeiro, a��es de uma revendedora de autom�veis e uma fazenda em Barra do Pira� (RJ), lembra o neto, autor da fotobiografia. Detalhe: aquele homem havia comandado os minist�rios da Fazenda (duas vezes), das Rela��es Exteriores e da Justi�a.
“Naqueles tempos, o que conferia prest�gio �s fam�lias n�o era o dinheiro, mas a fun��o p�blica”, observa Corr�a do Lago. Atualmente, ocupar cargo p�blico, em vez de trazer orgulho, � quase motivo de vergonha, compara. De fato. A �ltima pesquisa Datafolha d� bem o tamanho do descr�dito: 65% dos brasileiros n�o confiam nem no ocupante da Presid�ncia da Rep�blica nem nos integrantes do Congresso Nacional...
O autor, que tinha 2 anos quando Oswaldo Aranha morreu, n�o escreveu um livro imparcial. De cara, na p�gina 15, cita o padre Ant�nio Vieira: “Todas as penas nasceram em carne, sangue, e todos, nas tintas de escrever, misturam as cores do seu afeto”. As 411 p�ginas trazem 600 imagens e 500 cita��es.
O irm�o de Pedro, Luiz Aranha do Lago, doutor em economia pela Universidade de Harvard, assina o texto introdut�rio. No pref�cio, o historiador Jorge Caldeira destaca o “desafio imposs�vel entre proximidade e objetividade” enfrentado pela dupla para rememorar o legado do av�. Por�m, a mem�ria familiar pode ser �til � hist�ria. Neste caso, ajuda a elucidar sob novos prismas a complexa rela��o entre Vargas e Aranha, marcada por alian�as e rupturas.
Oswaldo Aranha com a mulher, Vindinha, e os fillhos e netos, em 1948 (foto: Capivara/reprodu��o)
Oswaldo e Minas
O jovem “subversivo” ga�cho de 1923 e 1926, de certa forma, evitou que Get�lio compusesse com as for�as da Rep�blica Velha que o derrotaram (fraudulentamente) nas urnas na elei��o para a Presid�ncia. Oswaldo articulou ativamente a Revolu��o de 1930, que p�s o chefe no Pal�cio do Catete. Em 1933, os dois “trombaram”. Motivo: Minas. Oleg�rio Maciel, que governava o estado, morreu no Pal�cio da Liberdade. O jovem apoiou seu amigo Virgilio de Mello Franco na disputa com o interventor interino Gustavo Capanema. Perdeu. Get�lio, espertamente, optou pelo desconhecido Benedito Valadares – seu homem de confian�a.
Aranha se demitiu do Minist�rio da Fazenda. Mas logo depois aceitou ser embaixador do Brasil nos EUA. Tornou-se amigo de Walt Disney e aproximou o Brasil do governo Roosevelt. Em 1937, quando Get�lio virou ditador, o ga�cho deixou o cargo por rejeitar o Estado Novo arquitetado por seu desafeto, o mineiro Francisco Campos. Por�m, um ano depois, assumia o Minist�rio das Rela��es Exteriores, articulando o apoio do Brasil e de Vargas aos Aliados na 2ª Guerra Mundial.
Gra�as a ele, o Rio de Janeiro entrou, definitivamente, no radar americano. Disney desembarcou em Copacabana e criou o personagem Z� Carioca. O g�nio do cinema Orson Welles veio ao pa�s rodar o document�rio It’s all true. O filme n�o saiu, mas o “pai” do Cidad�o Kane esteve em Ouro Preto e BH – deu at� entrevista ao Estado de Minas em 1942.
Candidat�ssimo a candidato � sucess�o de Get�lio, o ga�cho foi “abatido” pelo chefe em pleno voo. Em 1944, o ditador mandou fechar a Sociedade dos Amigos da Am�rica, onde o chanceler discursaria. Aranha deixou o minist�rio. Veio a crise: deposto Vargas, Oswaldo apoiou a candidatura oposicionista de Eduardo Gomes ao Pal�cio do Catete. Venceu o marechal Eurico Dutra, com apoio dos getulistas. Em 1947, o novo presidente o convidou para chefiar a delega��o brasileira na Organiza��o das Na��es Unidas. Israel foi criado gra�as � forma como Aranha conduziu, em Nova York, a reuni�o da ONU que decidiu a partilha da Palestina.
Pedro Corr�a do Lago acredita que a fotobiografia vem recolocar seu “quase esquecido” av� no horizonte do brasileiro, pois s� se lembram dele por causa do fil� batizado com seu nome.
“Oswaldo Aranha mal � mencionado em recentes publica��es sobre a hist�ria do Brasil”, lamenta. Experiente livreiro – sua Editora Capivara lan�ou importantes registros iconogr�ficos sobre a hist�ria do Brasil –, o intelectual carioca procurou dar “palavras �s imagens”, como gosta de dizer. Aquelas fotos, charges, p�ginas de jornais e revistas n�o registram apenas a trajet�ria de um homem p�blico. Documentam o per�odo em que a imprensa escrita se consolidou como formadora de opini�o no pa�s.
Se pudesse dar um conselho ao av�, Pedro lhe diria para ser menos fiel a Vargas. Naquela “conturbada amizade”, acredita, Aranha tinha mais apre�o por Vargas do que o presidente pelo pupilo, sempre afastado do poder quando surgia a possibilidade de substituir o chefe. “Meu av� tinha uma no��o rom�ntica de lealdade”, acredita.
Caso de fam�lia
Por falar em lealdade, Pedro driblou uma armadilha das biografias “de fam�lia”: o sil�ncio. Em seu livro, ele n�o escamoteou o relacionamento extraconjugal do av� com a cantora l�rica Yolanda Norris, que lhe deu o filho Luiz Oswaldo. Revela que Aranha visitava o menino e a amante, na hora do almo�o, mas jantava em casa com a embaixatriz, dona Vindinha, m�e de seus quatro filhos “oficiais”.
A fotobiografia traz imagens do garoto com Yolanda. Na p�gina 312, l� est�o Aranha, a esposa e o cl� oficial, enquanto bem ao lado, na p�gina 313, o embaixador aparece com Yolanda, as netas dela e o filho Luiz Oswaldo. Detalhe: Oswaldo Aranha era padrinho de uma das netas da amante.
Durante suas pesquisas, Pedro, que s� rapazinho tomara conhecimento da exist�ncia do “tio torto”, bateu � porta de Luiz Oswaldo, no Rio de Janeiro. Pediu-lhe fotos, sem muita esperan�a, mas o pacote veio – e cheio de surpresas, como as imagens de Oswaldo e Yolanda juntos.
Dona Vindinha morreu sem saber do outro filho do marido. A m�e de Pedro e as tias custaram a descobrir o “segredo” – ali�s, bem guardado, h� tempos, pelos homens do cl�.
Fato � que Luiz Oswaldo Norris Aranha, de 78 anos, compareceu ao lan�amento de Oswaldo Aranha – Uma fotobiografia, no Rio de Janeiro. Alguns dias antes, fora a primeira pessoa a receber um exemplar das m�os do autor, que viajou de carro de S�o Paulo ao Rio especialmente para lhe entregar o livro. A delicadeza n�o deixou de ser um gesto diplom�tico, pol�tico. Daqueles com “p” mai�sculo – t�o escassos neste Brasil das dela��es premiadas...
(foto: Capivara/reprodu��o)
OSWALDO ARANHA: UMA FOTOBIOGRAFIA
De Pedro Corr�a do Lago Editora Capivara 412 p�ginas R$ 70
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