Músicos da primeira formação da banda Planet Hemp olham para a câmera

A primeira forma��o do grupo carioca, perseguido por defender a legaliza��o da maconha: BNeg�o (C), Marcelo D2 (E), Rafael Crespo, Skunk e Formig�o (D)

Dani Dacorso/divulga��o

 

“Adivinha, doutor, quem t� de volta na pra�a? Planet Hemp! Ex-quadrilha da fuma�a.” O verso da segunda faixa do �lbum A invas�o do sagaz homem fuma�a (2000) rima com v�rios momentos de uma das bandas mais emblem�ticas e pol�micas do rock brasileiro, cuja trajet�ria � marcada por idas e vindas. A hist�ria do Planet Hemp, cuja g�nese chegou recentemente ao cinema como fic��o, volta � pra�a, mas desta vez sob a narrativa documental, na biografia escrita pelo jornalista Pedro de Luna. 

 

Autor de outras publica��es sobre o tema, como Niter�i rock underground 1990-2010, Pedro teve acesso a vasto material sobre o grupo criado por Marcelo D2, Skunk, BNeg�o, Rafael Crespo, Bacalhau e Formig�o. Ao perceber que a for�a da banda pedia uma biografia exclusiva, nasceu Planet Hemp: mantenha o respeito, lan�ado em dezembro pela editora Belas Letras.

Em 496 p�ginas, o livro mostra como tudo come�ou, as influ�ncias musicais de seus integrantes, como eles se conectaram e toda a caminhada at� a banda se tornar refer�ncia pela mistura do punk rock com hip-hop, pela contesta��o social e a milit�ncia declarada em defesa da legaliza��o da maconha.

“Foi uma feliz – ou infeliz – coincid�ncia o livro ter sa�do agora, neste contexto de conservadorismo, repress�o e ascens�o da extrema-direita. Parece distante, mas a gente sabe que h� 25 anos havia um cen�rio em que o Planet Hemp era uma banda muito perseguida. At� os f�s eram perseguidos”, diz Pedro. “Havia coisas absurdas, como ser abordado pela pol�cia e ter de tirar a camisa da banda para n�o ir preso. Isso mostra o quanto o discurso deles ainda � atual, sempre expondo as mazelas da sociedade e os preconceitos de g�nero, ra�a e classe econ�mica”, afirma Pedro de Luna.



BH O complicado contexto dos prim�rdios da banda est� presente em v�rios fatos resgatados pelo bi�grafo. Um deles se passou em Belo Horizonte. Em 1997, o grupo veio � capital mineira fazer show na Esta��o 767, que acabou cancelado. Durante a madrugada, no Studio Bar, m�sicos e a equipe foram abordados por policiais. Todos acabaram na delegacia, sob acusa��o de “apologia �s drogas”. Pedro de Luna conta que, na �poca, o caso n�o repercutiu muito na m�dia, porque sete pessoas morreram em um show do Raimundos, em Santos, na mesma noite.

“Esse � um dos epis�dios que eu mesmo n�o conhecia antes de come�ar a escrever o livro. Consegui ouvir v�rias vers�es deste fato. T�cnico de som, m�sicos e outras pessoas narram a hist�ria. Cada um estava num canto da balada e viu de um jeito. O pessoal ficou uma noite detido em BH, no Bairro da Lagoinha, e caiu na estrada no dia seguinte, rumo a Bras�lia, onde a banda acabou presa de verdade”, conta Luna. Desta vez, sob os holofotes da m�dia.

Outro fato hist�rico do Planet em BH: o primeiro show do grupo depois da morte do vocalista Skunk, em 1994, ocorreu na Pra�a da Esta��o.

ENERGIA Com muitas hist�rias – parte delas bem controversas –, o autor fez quest�o de incluir a linha do tempo nas �ltimas p�ginas, registrando os acontecimentos mais importantes ao longo de 25 anos de trajet�ria. H� vasto acervo de imagens, como fotos e cartazes.

“Esse trabalho consumiu dois anos de trabalho e energia. Como tudo � dos anos 1990, muita coisa n�o est� na internet. Pesquisei arquivos de amigos, parentes e f�s, al�m de v�rias entrevistas. Tem gente que tocou no Planet Hemp e ningu�m sabe. � o caso do Seu Jorge, percussionista do terceiro disco”, revela o escritor, referindo-se ao �lbum A invas�o do sagaz homem fuma�a.

No embalo da efem�ride dos 25 anos da banda, celebrados em 2018, o filme Legalize j� – A amizade nunca morre, estreou em outubro. No entanto, Pedro de Luna refor�a que sua biografia e a trama dirigida por Gustavo Bonaf� e Johnny Ara�jo, estrelada por Renato Go�s (Marcelo D2) e �caro Silva (Skunk), t�m abordagens totalmente distintas.

“O filme � centrado na amizade do D2 com o Skunk. Como � cinema, isso � romantizado. No filme, o primeiro encontro deles � fugindo da pol�cia, uma cena tensa. Na realidade, n�o foi assim. Foi mais tranquilo, uma coisa normal, no metr�. Fiz quest�o de contextualizar a cena musical daquele tempo. � importante entender essa cena para compreender o Planet Hemp”, destaca.

“N�o tinha boates tocando rock e hip-hop no Rio, era outra atmosfera”, observa. “A galera que veio a criar o Planet Hemp frequentava o Point Punk. Foi ali que eles conheceram DJs e tiveram contato com o punk e outras ideias musicais. O filme n�o mostra isso”, diz Pedro.

SKUNK O vocalista Skunk, antes de conhecer o rap, transitou por v�rios estilos de rock, at� mesmo pelo rockabilly. As mudan�as eram tantas que, segundo o bi�grafo, o apelido dele n�o era alus�o � droga. Certa vez, o fundador do Planet raspou a cabe�a, abrindo m�o do corte moicano, t�pico dos punks. Para se adequar ao novo emprego, ficou careca, como os skinheads. A� surgiu a brincadeira: “Um dia skin, um dia punk, Skunk”. “Ele era um cara fant�stico. O livro mostra isso de uma forma melhor do que o filme”, garante Luna.

Criativo, inteligente e antenado, Skunk foi amigo e fonte de inspira��o para D2. Ele morreu em 1994, de Aids. “A hist�ria deles � muito boa. S�o caras que cortaram um dobrado s� por causa do que cantavam. Eram amigos, mas brigavam muito. Leitores contam que riem muito de alguns casos, pois eles eram muito doidos. Tudo contado ali � verdade, sem nenhum floreio”, garante o autor.

PLANET HEMP: MANTENHA O RESPEITO
•  De Pedro de Luna
•  Belas Letras
•  496 p�ginas
•  R$ 70