F�s de eletr�nica d�o as costas a shows e v�o a festivais fazer festa
Sem interesse pelas atra��es principais, p�blico de nicho marca presen�a e impulsiona espa�os alternativos em grandes eventos, como o Festival Sarar�
Coletivo Alta Fidelidade toca em espa�o dedicado � m�sica eletr�nica, no Festival Sarar�, na Esplanada do Mineir�o, no �ltimo s�bado (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press)
S�o dezenas de atra��es, entre bandas e artistas solo ou com convidados especiais, ocupando dois ou tr�s palcos, simultaneamente. Os ingressos podem custar at� mais do que uma centena de reais, mas, para parte do p�blico de grandes festivais de m�sica, o melhor est� longe dos principais holofotes.
Nos �ltimos anos, a m�sica eletr�nica e as discotecagens ganharam espa�o e import�ncia em eventos voltados para outros ritmos. Com uma base de f�s fiel e propostas conceituais que agradam a curadores e produtores, o g�nero se firma como alternativa para muita gente que prefere trocar um show pela vibra��o festiva e dan�ante.
No �ltimo s�bado (31), o Festival Sarar�, na Esplanada do Mineir�o, fiel � sua proposta de ecletismo musical e celebra��o da diversidade, reuniu nesta edi��o as rimas de Djonga, com participa��o especial de Mano Brown; Baco Exu do Blues, o canto de Letrux com Marina Lima, Duda Beat com Pabllo Vittar, a melodia do Lagum, a pot�ncia das guitarras do BaianaSystem e o headliner Gilberto Gil.
Sem contar outro palco menor, dedicado a artistas independentes locais em in�cio de carreira. Por�m, a megaestrutura montada para receber 35 mil pessoas ainda reservava um espa�o ocupado por duas propostas musicais “mecanizadas”, que j� possuem sua hist�ria na capital mineira.
Durante 12 horas de programa��o, a Tenda Despertar, armada em uma �rea distante dos palcos principais, alternou entre as discotecagens dos coletivos Alta Fidelidade e 1010. O primeiro foi formado em BH h� 10 anos pelos DJs Fael, Garrell, Deivid e Kowalsky.
A proposta abra�a v�rios ritmos musicais, com hits do funk, soul, reggae, rock, disco, rap, brasilidades, reproduzidos sempre com discos de vinil. Mensalmente realizada como uma “festa” em casas noturnas da cidade, a proposta ganha outra propor��o quando sai para um campo aberto, como o do Sarar�.
“Gostamos muito desse tipo de pista. Se, por um lado, � diferente das festas mais intimistas, esse espa�o aberto e o tipo de energia nele nos permite tocar m�sicas com mais grave”, afirma Richard Garrell.
Segundo ele, o repert�rio n�o se diferencia tanto. “O que muda � a propor��o do timbre, que vai variar nesse tipo de sistema de som, com grave maior. Para montar o set e escolher os discos, pensamos no esp�rito do festival e em focar num som que tenha a ver com essa pista. O Sarar� � muito legal, porque � muito diverso”, diz o DJ, que neste ano foi atra��o do MecaInhotim .
O resultado s�o m�sicas muito conhecidas do p�blico numa batida intensa o suficiente para fazer quem est� na pista esquecer que h� uma banda ou um cantor no palco a alguns metros dali.
Quando a 1010 assume as pick-ups, a vibra��o fica mais intensa. No entanto, a proposta vai muito al�m do “tunts tunts”. Criado em 2015, o coletivo � um dos expoentes da cena eletr�nica contempor�nea de BH, assim como o Masterplano.
Al�m de celebrar os ritmos mecanizados, como house (mais suave) e techno (mais intenso), com o trabalho de seus DJs residentes e artistas convidados em algumas ocasi�es, o coletivo tenta promover o respeito e a representatividade, ocupando espa�os urbanos da cidade.
Poder participar de um grande festival de m�sica � “uma realiza��o” para os envolvidos, que t�m como principal objetivo “criar espa�os para a m�sica eletr�nica fora dos clubs”, onde, segundo eles, “prevalece uma l�gica heteronormativa”.
P�blico curte a Tenda Despertar do Festival Sarar�, embalada por DJs (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press)
“Estar no festival � totalmente diferente dos nossos eventos nas ruas, mas � tudo sobre alcan�ar espa�os. Somos uma festa que come�ou debaixo de um viaduto e hoje estamos no maior festival de Minas, mostrando o lado B da m�sica eletr�nica e do underground de BH, que fica apagado o ano inteiro. � o sonho de pessoas perif�ricas, de pessoas trans e travestis, que formam nosso p�blico. � muito bom o festival nos dar esse protagonismo”, diz Arthur Cobat, produtor e criador do 1010, que tamb�m esteve no MecaInhotim.
Fren�tico na pista de dan�a, o p�blico confirma os discursos. Afonso Fernandes, redator de 25 anos, preferiu a discotecagem do Alta Fidelidade ao show do Lagum, no momento em que a banda mineira estava no palco principal.
“N�o sou t�o f� da banda e essa batida aqui me agrada mais. Mas transito entre as duas �reas, de acordo com O que est� rolando”, disse. Como a Tenda Despertar ficava sob a sombra do est�dio, tamb�m foi um reduto para quem procurava fugir do sol escaldante da tarde, como fez a estudante de artes visuais Let�cia Rodrigues, de 21, que acabou gostando e ficando.
Se uns transitam de acordo com os interesses moment�neos, outros tinham o palco eletr�nico como seu destino principal no festival. � o caso da produtora de eventos Roberta Rocha, de 23. “Aqui o som � melhor do que em qualquer outro lugar do festival. A 1010 � minha prioridade”, disse. � o mesmo para a atendente Roberta Lopes, de 38.
“Tanto o p�blico quanto a m�sica s�o melhores aqui (na Tenda Despertar). Os DJs est�o arrasando. At� fui ver um show no outro palco, mas preferi ficar aqui, pela 1010 e pela Alta Fidelidade.” Amigo dela, o maquiador Mayson Mak, de 25, disse: “Meu prop�sito no festival � a 1010. At� tenho acesso ao camarote open bar, mas aqui � minha origem, � de onde venho e onde me encontro”.
O maquiador Mayson Mak com a amiga Roberta Lopes: %u201CAqui � minha origem, � de onde venho e onde me encontro%u201D (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press)
CENA
A conex�o com esse p�blico e a proposta conceitual tornam o eletr�nico atraente para os festivais. Victor Diniz, um dos s�cios respons�veis pela curadoria do Sarar�, entende que a inclus�o de coletivos como a 1010 casa muito bem com a proposta do evento. “BH tem a sorte de ter uma cena muito legal de coletivos que ocupam ruas e levam o techno para fora das boates. Somos f�s da Masterplano e da 1010. Ent�o � um jeito legal de ampliar e trazer um p�blico mais jovem, que n�o est� t�o ligado nas bandas autorais e ainda prestigiar essa cena espec�fica, pois trazer esse movimentos das ruas est� no DNA do Sarar�”, afirma.
“Al�m disso, embora seja um evento paralelo para uns, � uma surpresa para outros. Muita gente acha que jamais curtiria uma rave e acaba conhecendo e gostando. Construir essas pontes tamb�m � nosso objetivo aqui”, argumenta.
Neste m�s de setembro, o Rock In Rio novamente dedicar� um de seus palcos ao eletr�nico, mas desta vez com muito mais for�a. Chamado New Dance, o palco ter� 65 metros de extens�o, 24 de altura e um tel�o de 560 metros quadrados de LED. Por ele passar�o alguns dos principais DJs do mundo, como Alesso, Tropkillaz, Vintage Culture e Infected Mushroom.
Mas tamb�m haver� espa�o para a nova gera��o, com representa��o especial para Minas Gerais, com a DJ Barja, o duo Breaking Beattz e o DJ KVSH, que esteve na edi��o deste ano do Lollapalooza, em S�o Paulo. O Rock In Rio ser� realizado nos dias 27, 28 e 29 de setembro, e em 3,4,5 e 6 de outubro.