
Legalidade, longa do ga�cho Zeca Brito que estreia nesta quinta-feira (12), trata do movimento hom�nimo liderado em 1961 pelo ent�o governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola, que garantiu a posse de Jo�o Goulart como presidente da Rep�blica, ap�s a ren�ncia de J�nio Quadros.
Introduzindo um romance fict�cio na trama hist�rica, o longa promove a mem�ria dos acontecimentos e do ator Leonardo Machado, int�rprete do protagonista, que morreu de c�ncer no ano passado, aos 42 anos. Esse foi seu �ltimo papel no cinema.
“� uma hist�ria que ficou na garganta e na mem�ria de muita gente. Meu pai foi professor em uma escola p�blica constru�da por Brizola. J� na escola p�blica em que estudei, essa hist�ria n�o foi contada, mas sobreviveu pela mem�ria familiar”, diz o cineasta de 32 anos, diretor tamb�m da com�dia Em 97 era assim (2017) e do document�rio A vida extraordin�ria de Tarso de Castro (2018).
Brito diz que o roteiro come�ou a ser preparado em 2010, em parceria com Leo Garcia e recorrendo a pesquisas em torno do tema. “Al�m de disserta��es e teses, tamb�m lemos contos dos dias da Legalidade escritos por romancistas como Moacyr Scliar. Buscamos distintas vis�es da hist�ria”, afirma.
O filme come�a com a ren�ncia de J�nio Quadros narrada pelas r�dios e seguida das rea��es de Brizola (Leonardo Machado) e seus apoiadores. Preocupados com a iminente tentativa de golpe militar, Brizola lidera a articula��o para garantir que Jo�o Goulart, ent�o em viagem � China, retorne ao Brasil e tome posse, como previa a Constitui��o.%u201C� uma coisa bonita da arte, cristalizar a realidade. Foram coisas meio predestinadas. Era uma mensagem muito forte que o Leo (o ator Leonardo Machado, morto em 2018) tinha pra dar no filme, pela contribui��o que esse discurso tem para o Brasil contempor�neo. Ele morreu ano passado, mas segue vivo cada vez que a luz do cinema projeta imagens e sons%u201D
Zeca Brito, diretor
O vice de Quadros era visto como uma amea�a comunista pelos setores mais conservadores. Tudo isso � mostrado com poucos recursos digitais, cen�rios simplificados, em planos mais restritos aos personagens e seus di�logos.
Em meio a essa turbul�ncia, Cec�lia Ruiz (Cleo), correspondente do Washington Post, aparece com o objetivo declarado de escrever um perfil do governador ga�cho. Com comportamentos misteriosos, ela se envolve com Tonho (Jos� Henrique Ligabue), rep�rter fotogr�fico local.
Enquanto Brizola mobiliza a popula��o com discursos eloquentes, driblando a censura �s r�dios e sob risco de um bombardeio militar ao Pal�cio Piratini, a jornalista persegue seus objetivos em cenas repletas de clich�s nos di�logos e as a��es.
Ela manipula um dos irm�os e sente algo a mais por outro. Entre algumas cenas, a trama insere a persoangem Blanca (Let�cia Sabatella), filha da correspondente, que, em 2004, em Porto Alegre, pesquisa a real atua��o que sua m�e teve no passado.

Brito define os personagens fict�cios como uma s�ntese de v�rias figuras reais envolvidas no contexto, no caso dos dois irm�os, e uma met�fora, no caso de Cecilia Ruiz. “Ela � uma jornalista cobrindo uma tens�o pol�tica externa que, em 1964, serviu para condenar Brizola. Cinquenta anos ap�s a campanha da Legalidade, a CIA revelou que ele foi um dos homens mais investigados no Brasil. Criamos uma personagem que no cinema norte-americano � sempre vista com hero�smo e tentamos dar uma nova vis�o, pelas transforma��es que ela passa. � uma brincadeira com o soft power e com essa domina��o vazia.”
Lan�ado numa atualidade em que as tens�es pol�ticas se assemelham �s mostradas em cena (em uma delas, personagens trocam acusa��es de “comunista” e “golpista”), o filme destaca aspectos hist�ricos importantes, como a ades�o do 3º Ex�rcito, como era identificado o comando militar ga�cho, ao movimento que postergou o golpe contra o Estado democr�tico brasileiro.
“� um filme que tem um papel hist�rico de ressignificar o patriotismo. N�o � algo unilateral, nasce na diversidade nacional. O Brasil � um pa�s de muitas culturas, e pensar esse pa�s � muito importante”, afirma Zeca Brito.