Filme 'Adeus � noite discute' a rela��o dos jovens com o terrorismo
Estrelado por Catherine Deneuve, longa conta a hist�ria de uma av� �s voltas com o neto prestes a aderir � Jihad mu�ulmana. Longa aborda o livre-arb�trio e a op��o pelo sacrif�cio neste mundo individualista
postado em 12/09/2019 04:00 / atualizado em 11/09/2019 19:13
Catherine Deneuve interpreta Muriel, cujo neto decide se juntar � Jihad na S�ria
(foto: Pandora Filmes/divulga��o)
Em sua oitava parceria com Catherine Deneuve, Andr� T�chin� aborda um tema visceral: a radicaliza��o pol�tica e religiosa que est� no centro de cataclismos atuais. No filme Adeus � noite, que estreia nesta quinta (12) em BH, a estrela interpreta uma av� – Muriel ainda � uma bela mulher, como a pr�pria atriz, de 75 anos. Possui uma fazenda de cria��o de cavalos, uma escola de equita��o. Tudo nos conformes.
Mas a� chega o neto Alex (Kacey Mottet Klein), que vem se despedir. Diz que est� indo para o Canad�, mas ela o surpreende orando. Descobre que o rapaz e a namorada, Lila (Oulaya Amamra), converteram-se ao islamismo. Na verdade, o casal est� partindo para a S�ria com a inten��o de se integrar � Jihad mu�ulmana.
Adeus � noite dialoga muito bem com Meu filho querido, do tunisiano Mohamed Ben Attia, um dos mais belos filmes lan�ados este ano. Ben conta a hist�ria sobre um pai desesperado que segue a trilha do filho na S�ria, depois de o garoto partir sem dizer adeus.
Se pudesse, faria o mesmo que Muriel – teria, a qualquer custo, tentado impedi-lo de partir. Para complicar, no longa de T�chin� o neto se apropria de dinheiro da av� para entreg�-lo ao grupo que financia os jihadistas. Com isso, a narrativa ganha dimens�o de thriller.
Um dos m�ritos do diretor � evitar respostas f�ceis para quest�es intrincadas. H� algo no comportamento de Alex que funciona como alternativa um tanto alucinada. O que � melhor? Uma vida de t�dio ou uma morte gloriosa? O rapaz pergunta � namorada o que ela sentiria quando ele estivesse morto. A resposta: "Orgulho".
H� outras quest�es envolvidas. Como fica o livre-arb�trio quando uma pessoa decide cometer atos de viol�ncia e morrer em a��o? Deve-se deix�-la levar esse desejo �s �ltimas consequ�ncias ou impedi-la a qualquer custo, violando seu direito de escolha?
H� uma passagem interessante, quando Muriel pede ajuda a um "arrependido", para que ele fale com o neto e o conven�a a desistir. N�o importa aqui dizer como isso termina. Apenas destacar a resposta que o rapaz d� a Muriel quando ela lhe pergunta por que havia aderido ao radicalismo. Ele responde simplesmente: "Porque esse caminho oferecia a possibilidade de mudar completamente de vida".
Os jovens Alex (Kacey Mottet Klein) e Lila (Oulaya Amamra) t�m orgulho de sua op��o radical (foto: Pandora Filmes/divulga��o)
Na coletiva sobre o longa realizada no Festival de Berlim, em fevereiro, Catherine Deneuve falou sobre como foi dif�cil expressar o sentimento de Muriel. "Ela vive um dilema hamletiano. Ao impedir o neto de partir, pode achar que est� agindo certo, mas o est� impedindo de viver a vida dele, de ser ou n�o o que quer ser."
T�chin� revelou que seu filme nasceu de um profundo mal-estar. “Cresci meio isolado numa pequena cidade do Sul da Fran�a, em fam�lia de ascend�ncia espanhola. Era como se a gente vivesse num feudo. O cinema me fez descobrir o mundo e a cidadania, primeiro como cr�tico, depois como diretor. Sempre gostei de personagens que n�o se integram e carecem de pertencimento, pois muitas vezes me senti assim", contou.
Intelectual de forma��o cat�lica e marxista, Andr� T�chin� se interessou pelas quest�es dos refugiados e imigrantes, sobretudo na Fran�a. "Como todo mundo da minha gera��o, sofri com todos os ataques da Jihad, que colocam � prova no��es de humanidade e toler�ncia. Tentava me informar e ficar atualizado. O filme nasceu da converg�ncia de v�rios fatores. Havia o desejo de entendimento, mas creio que fundamental foi o livro de David Thomson, Les fran�ais jihadistes, que traz entrevistas com jovens que aderiram � causa isl�mica e � Jihad. S�o di�logos muito crus, muito diretos, que ficaram comigo. Comecei a pensar se seria capaz de criar uma mise-en-sc�ne para eles, se seria poss�vel transformar esse material de reportagem em fic��o cinematogr�fica. Foi assim que o filme come�ou a nascer."
O diretor franc�s se prop�e a entender a psicologia desses jovens. "Nesta era de tanto individualismo, eles elegem o sacrif�cio. Morrer por uma causa. Por qu�?", questiona T�chin�. Embora a palavra dos jovens tenha lhe fornecido o impulso inicial, ele observa: "Sentia que s� conseguiria ser honesto adotando o olhar de uma pessoa da minha gera��o, e foi assim que Muriel se foi delineando. Antes mesmo de contatar Deneuve, sabia que teria de t�-la nesse projeto. Conhe�o Catherine h� muito tempo, conhe�o sua inquieta��o. Nisso somos iguais. Gostamos de arriscar, de nos renovar. � um tema perigoso, mas sabia que teria de contar com ela.”