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Estado de Minas

Livreiro do Alem�o defende literatura democratizada

Aos 9 anos, Ot�vio J�nior achou um exemplar de Don Gat�n em um lix�o da Zona Norte do Rio. O 'presente' transformou a sua vida e hoje, aos 36 anos, o escritor defende que a os livros precisam ser difundidos em regi�es mais populares


postado em 30/09/2019 04:00

Otávio Júnior, o Livreiro do Alemão, participou ontem de sessão de autógrafos e de mesa no encerramento do FLI-BH (foto: Fotos: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Ot�vio J�nior, o Livreiro do Alem�o, participou ontem de sess�o de aut�grafos e de mesa no encerramento do FLI-BH (foto: Fotos: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

"(A literatura) precisa ser difundida, democratizada, porque vivemos em um pa�s que n�o valoriza os fazedores de arte. Sobretudo, os de literatura, hist�ria escrita, datada"

Ot�vio J�nior, o Livreiro do Alem�o, escritor

Um livro achado em um lix�o mudou a hist�ria do carioca Ot�vio J�nior, conhecido como o Livreiro do Alem�o. Ele lembra que tinha 9 anos, morava no Complexo do Alem�o, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e saiu para jogar bola com os amigos. Mas, no meio do caminho, deparou com o livro Don Gat�n dentro de uma velha caixa de brinquedos. A obra lhe chamou a aten��o. Ao folhear o livrinho, sentiu ali, naquele momento, que a literatura poderia mudar radicalmente a trajet�ria de sua vida.

E foi exatamente isto que ocorreu, garante o escritor, hoje com 36 anos. Ot�vio conta que descobriu sua grande paix�o pela literatura a partir daquele dia, no lix�o. Desde ent�o, ele passou a frequentar a pequena sala de leitura da escola, depois as bibliotecas do bairro e, posteriormente, as da cidade. Assim nasceu a vontade de se tornar escritor. O autor de Chef�o l� do morro e O garoto da camisa vermelha, ambos pela Editora Aut�ntica, participou ontem em Belo Horizonte da mesa “Encontro com o escritor: O Livreiro do Alem�o e suas hist�rias”, no encerramento do Festival Liter�rio Internacional (FLI-BH), onde tamb�m autografou sua obra.

Ot�vio lembra que encontrar aquele velho livrinho foi uma experi�ncia transformadora e que deu origem, anos depois, ao projeto Ler � 10 – Leia Favela, que busca aproximar a literatura dos moradores das comunidades e formar leitores. O escritor conta que projeto virou ponto de leitura oficial em 2011, com o apoio da Funda��o Biblioteca Nacional e, hoje, soma diversos pr�mios – um deles concedido pelo Comit� da Dire��o da Biblioteca Popular Maria Teresa, de Buenos Aires.

Para o Livreiro do Alem�o, sua hist�ria ainda est� sendo constru�da. Mas ele faz quest�o de ressaltar que j� tem grande parte dela vivida e escrita. “Denomino minha hist�ria como um conto de encantamento ambientado na favela, pois todas as vezes que a conto, ela tem um grau de emo��o muito grande. E esta emo��o me toma, de certa maneira, que chego a ficar impressionado. Ao contar a minha hist�ria, consigo arrepiar e emocionar muitas pessoas.”

O escritor garante que sua trajet�ria, al�m de ser contada com amor e carinho, tem um prop�sito. “Acredito que aquele livro encontrado no meio do lix�o n�o estava ali por acaso. Creio que fui escolhido para representar milh�es de pessoas que vivem no contexto de favela e querem ser representadas nas diversas esferas culturais, como a literatura, cinema, artes, TV e m�sica.”

A literatura chegou para Ot�vio em forma de presente. “Em uma caixa, no meio do lixo, onde as pessoas de certa forma descartam tantas coisas. Eu, crian�a, caminhando no meio do lix�o, indo para uma das grandes paix�es de minha vida, que � tamb�m o futebol, e   encontro ali, dentro de uma velha caixa, um objeto que acabou transformando a minha vida. A partir desta transforma��o, meu desejo foi o de transformar a vida de outras pessoas, por�m usando a literatura como ferramenta.”

Ot�vio conta que j� parou para pensar por diversas vezes na trajet�ria de sua vida, uma vez que v�rios meninos passaram pelo mesmo caminho e nem deram conta do livro ali jogado. “Acredito que eu at� poderia ter, de certa forma, outros contatos com a literatura no decorrer de minha vida. Acredito tamb�m que n�o fugiria disso, mas da forma como aconteceu foi justamente para valorizar mais o objeto livro.”

ENGAJAMENTO

Ele entende que a literatura tem o poder de fazer com que muitas pessoas possam desviar o seu caminho, evitando o lado errado. “Fa�o algumas an�lises nessa quest�o da literatura, do engajamento que ela tem, da sua potencialidade em transformar vidas. Mas ela precisa ser difundida, democratizada, porque vivemos em um pa�s que n�o valoriza os fazedores de arte. Sobretudo, os de literatura, hist�ria escrita, datada. Percebo � que se fosse dado a import�ncia que ela merece nas comunidades, zonas rurais, periferia, ribeirinhas, ela poderia potencializar muitas pessoas, sou prova viva dessa transforma��o.”

Assim, o escritor acredita que, como sua vida foi transformada, a de outras pessoas tamb�m poderia ser. “Tenho experi�ncia nessa quest�o da democratiza��o, do acesso � literatura em zonas populares. Desenvolvi projeto Ler � 10 – Leia Favela justamente com o objetivo de aproximar pessoas de classes menos favorecidas do objeto livro. Tive muitas oportunidades de me capacitar na �rea de promo��o de leitura, conta��o de hist�rias, escrita de textos, media��o de leitura.”

Ot�vio defende ainda que as oportunidades que ele teve de se capacitar devam ser retornadas para a sociedade. “Todos os conhecimentos que adquiri, oportunidades que tive em rela��o � literatura devem ser devolvidos � sociedade. Sou um grande sonhador. Acho que o �pice do ser humano � ter seus sonhos realizados e, por causa da literatura, estou tendo esse privil�gio de realizar um sonho.”

O escritor tamb�m quer capacitar outras pessoas para replicarem o que aprenderam e vivenciaram em suas comunidades. “Isto seria transformador. O Livreiro do Alem�o � de 2011 e surgiu, justamente, por causa desta demanda de contar as minhas hist�rias de supera��o, sobretudo com os projetos e promo��o de leitura. Queria muito que contassem as minhas experi�ncias para que outras pessoas tivessem as a��es devidas para replic�-las em outros lugares, n�o s� no ambiente perif�rico, mas no rural, ribeirinho, enfim servir como inspira��o.”

NA TELONA

Um dos projetos de Ot�vio � conseguir transformar a hist�ria de sua vida em um filme. “Atualmente, estou me capacitando, estudando roteiro, cinema e produ��o para que possa fazer a adapta��o para o cinema. Paralelamente a esse projeto, pretendo fazer uma s�rie infantil, ambientada na favela, pois tamb�m escrevi Da minha janela (Cia. Das Letrinhas) e o Grande circo favela (Estrela). ”

No caso do Livreiro do Alem�o, o escritor lembra que se inspirou muito no contador de hist�rias mineiro Roberto Carlos. “Ele teve um longa-metragem inspirado na vida dele e a minha ideia � fazer algo similar. Assim como ele inspirou muita gente, acredito que a minha hist�ria tamb�m possa inspirar outras pessoas. Vejo que h� uma car�ncia de inspira��es, de bons exemplos.”

FLI-BH destaca for�a da oralidade

Fãs de literatura passaram pelos diversos estandes do FLI-BH, no encerramento do festival literário neste domingo no Parque Municipal
F�s de literatura passaram pelos diversos estandes do FLI-BH, no encerramento do festival liter�rio neste domingo no Parque Municipal
De acordo com L�dia Mendes, gerente de Bibliotecas e Promo��o da leitura da Prefeitura de Belo Horizonte e coordenadora da edi��o 2019 do Festival Liter�rio Internacional (FLI-BH), o evento ficou dentro das expectativas dos organizadores. Segundo ela, os n�meros ser�o divulgados no decorrer da semana.  “Posso dizer que tivemos um p�blico bastante interessante, principalmente na abertura, que foi em homenagem ao poeta mineiro Ad�o Ventura.”

L�dia conta que esta edi��o lembra um pouco, em termos de estrutura e prop�sito, a de 2015, que tamb�m foi realizada no Parque Municipal. “S� que com algumas inova��es, tanto na execu��o quanto na vis�o de curadoria, que trouxe a for�a da oralidade como origin�ria da literatura. O FLI-BH � uma grande celebra��o em torno do livro e de como que ele pode disparar e fazer nascer outras a��es de promo��o da leitura, da escrita, a partir disso.”
A coordenadora ressalta que a edi��o do FLI-BH/2021 j� est� garantida, mas ainda sem data marcada para a sua realiza��o.  


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