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'Costuma ser o mal que vence', diz diretor de 'A odisseia dos tontos'

Longa argentino dirigido por Sebasti�n Borensztein � ambientado na crise econ�mica de 2001, tem Ricardo e Chino Dar�n no elenco e tenta uma vaga no Oscar


postado em 31/10/2019 04:00 / atualizado em 31/10/2019 12:56

Moradores da pequena cidade de Alsina se juntam para formar uma cooperativa e reativar uma distribuidora de grãos no filme(foto: Warner/Divulgação)
Moradores da pequena cidade de Alsina se juntam para formar uma cooperativa e reativar uma distribuidora de gr�os no filme (foto: Warner/Divulga��o)
Donos de um posto de gasolina em Alsina, uma pequena cidade argentina, o ex-jogador de futebol Ferm�n Perlassi (Ricardo Dar�n) e sua mulher, Lidia (Ver�nica Llin�s), prop�em ao borracheiro Fontana (Luis Brandoni), amigo do casal, reativar uma distribuidora de gr�os, por meio de uma cooperativa que reuniria outros trabalhadores e empreendedores locais, a convite do trio.
 
“– Neste momento, ser� que � uma boa ideia?”, pondera Fontana.

“– Claro que �. Este � um bom momento, porque pior do que est� n�o pode ficar”, argumenta Ferm�n.

E assim come�a o longa A odisseia dos tontos, que estreia nesta quinta-feira (31) no Brasil, com um grupo de amigos raspando suas economias para abrir um neg�cio, no ano de 2001. Ocorre que a fragilidade da economia argentina podia piorar – e muito.

No final daquele ano, o governo Fernando De La R�a decretou o chamado “corralito”, um congelamento de dep�sitos semelhante ao confisco que o presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) promovera uma d�cada antes no Brasil. A revolta (na vida real) foi gigantesca.
 
Os argentinos sa�ram �s ruas, num protesto conhecido como o “estampido”, amea�aram incendiar o Minist�rio da Economia, viram De La R�a abandonar a Casa Rosada de helic�ptero (era imposs�vel sair por terra, dada a multid�o que protestava na Pra�a de Mayo) e uma sucess�o-domin� em meio � crise, que levou o pa�s a ter cinco presidentes no espa�o de poucos dias.

Na Alsina desse longa de Sebasti�n Borensztein, a rea��o inicial � de tontura, apatia e culpa. Mas o roteiro, baseado no livro La noche de la usina, de Eduardo Sacheri, autor tamb�m do sucesso editorial e cinematogr�fico O segredo dos seus olhos (Juan Jos� Campanella, 2009), promove uma reviravolta quando os ex-futuros s�cios descobrem que foram v�timas de um golpe dentro do golpe.

Os milhares de d�lares que eles reuniram n�o estavam, de fato, apenas indispon�veis para eles, depois de transferidos de uma caixa de seguran�a banc�ria para a conta-corrente, na v�spera do “corralito”, de acordo com a sugest�o trapaceira do gerente do banco. O dinheiro do grupo e de todos os demais correntistas havia sido levado do banco pelo gerente e um comparsa.

Ao se dar conta de que havia sido roubado, o grupo decide reaver o que � seu. A odisseia � dos “tontos” porque se trata n�o apenas de pessoas facilmente engan�veis, mas sobretudo de indiv�duos que escolhem ter princ�pios num pa�s que n�o os tem. Mas a cr�tica social e o discurso pol�tico s�o apenas laterais no longa e surgem em  boutades como “o peronismo � uma rel�quia, mas ainda est� vivo”. Ressaltar esses aspectos n�o era seu objetivo, conforme afirma Borensztein na entrevista a seguir ao Estado de Minas.

O filme se move no terreno da com�dia e traz Ricardo Dar�n atuando pela primeira vez ao lado do filho, Chino Dar�n. Com esses ingredientes, A odisseia dos tontos j� levou 1,8 milh�o de espectadores ao cinema na Argentina e foi o t�tulo escolhido pelo pa�s vizinho para represent�-lo na corrida pelo Oscar de melhor filme internacional. Ou seja, melhor do que est� ainda pode ficar.
 
Ricardo Darín (centro) e Chino Darín (à dir.) vivem pai e filho no longa(foto: Warner/Divulgação)
Ricardo Dar�n (centro) e Chino Dar�n (� dir.) vivem pai e filho no longa (foto: Warner/Divulga��o)

A odisseia dos tontos estreia no Brasil num contexto em que h� protestos massivos em pa�ses como o Chile e o L�bano, e a Argentina acaba de sair de uma elei��o presidencial que restituiu o peronismo ao poder, em meio a um cen�rio econ�mico incerto. Quando voc�s filmaram, supunham que a frase “pior do que est� n�o pode ficar”, dita pelo personagem de Ricardo Dar�n inconsciente de que estava �s v�speras do “corralito”, pudesse ganhar essa esp�cie de eco?
Come�amos a fazer esse filme em 2016 e, desde ent�o, tudo foi mudando. Ningu�m imaginava que, na estreia, estar�amos de novo numa crise. Tudo o que quer�amos era contar essa hist�ria com emo��o, com humor, com aventura. Nosso objetivo era fazer um filme benfeito e que estivesse � altura do livro. O que acontece depois j� est� nas m�os do espectador, num contexto e num momento que j� n�o pertencem mais ao filme.

O contexto da hist�ria � o “estampido” social de 2001. No entanto, o filme se concentra num grupo de personagens que est�o fora do epicentro da crise. A ideia era retratar uma esp�cie de “estampido” individual?
Trabalhamos com a ideia de uma esp�cie de Ex�rcito de Brancaleone que vai para uma empreitada para a qual n�o est� nem minimamente preparado. Mas, diante da impot�ncia, decidem tomar as r�deas da situa��o. Esse era o foco. Se voc� observar, o grupo forma uma esp�cie de met�fora da sociedade. S�o pessoas que v�m de diferentes estratos sociais, desde o indigente rural at� a dona de uma empresa de transportes. H� um corte transversal e vertical do que � a sociedade. A ideia original era tomar essa met�fora social e, claro, mostrar como todos sofrem os efeitos diretos e colaterais do que foi a grande crise de 2001.

Ricardo Darín, Verónica Llinás e Luis Brandoni, em cena de 'A odisseia dos tontos'(foto: Warner/Divulgação)
Ricardo Dar�n, Ver�nica Llin�s e Luis Brandoni, em cena de 'A odisseia dos tontos' (foto: Warner/Divulga��o)
A estreia coincide com uma discuss�o a respeito do sentido e das consequ�ncias das manifesta��es antissistema, que se d� inclusive no �mbito do cinema, em filmes como Coringa. Acredita que seu longa se inclua nesse debate do papel do indiv�duo frente as institui��es?
O que percebo das manifesta��es que estamos vendo � um cansa�o geral com as institui��es e os governos. As pessoas est�o cansadas de se sentir usadas, de n�o ser levadas em conta, de ser as minorias que ficam com os benef�cios e os privil�gios, enquanto, para a maioria, o esfor�o da vida inteira se reduz, no melhor dos casos, a comer e ter um teto. Estamos num momento em que tudo isso est� tendo um s�rio questionamento. E o modo como esse questionamento est� sendo feito � por convoca��o espont�nea. S�o ent�o dois fen�menos: o cansa�o geral das pessoas e a tecnologia, que permite que as pessoas se autoconvoquem sem uma lideran�a.

No caso de Coringa, o “cansa�o” deriva numa rea��o de extrema viol�ncia. A odisseia dos tontos parece refutar toda viol�ncia, com personagens trabalhadores que se orgulham de “n�o roubar nenhum peso” e quer ter de volta apenas o que � seu e nada mais, sem ferir ningu�m. � uma tomada de posi��o pela n�o viol�ncia?
Na verdade, o que o filme prop�e n�o � uma rea��o coletiva, � uma rea��o de um grupo que sofre um golpe muito particular no contexto do “corralito”. As manifesta��es t�m a ver com esse cansa�o advindo do fato de o mais fraco na sociedade ser desprezado pelo mais forte. � o que acontece no Coringa – um sujeito que tem problemas mentais e, em vez de escut�-lo e estender a m�o, tudo o que fazem � rejeit�-lo. � lament�vel que a rea��o n�o seja pac�fica. Mas no nosso filme � diferente, porque n�o estamos contando a realidade, estamos contando de certa forma uma f�bula. Sabemos muito bem que um ex�rcito t�o pouco preparado para uma empreitada como aquela nunca vence. Costuma ser o mal que vence, n�o o bem. Mas estamos amparados pelo espa�o da f�bula.

Como voc� lidou com o fato de ser o diretor da primeira atua��o conjunta de Ricardo e Chino Dar�n, um momento certamente aguardado pelos f�s do cinema argentino?
Com muita naturalidade, porque conhe�o Chino desde que ele nasceu. Al�m disso, j� trabalhei com meu pai e sei como pode ser o v�nculo profissional entre pai e filho. E os dois, para al�m de ser pai e filho, s�o dois profissionais que se comportam como profissionais no set.

Tem expectativa em rela��o ao Oscar?
N�o faz muito sentido ter expectativa, porque nem sequer sabemos como � a competi��o. Conhecemos seis ou setes filmes e os outros oitenta e tantos nem fazemos ideia de como s�o. [Est�o inscritos 93 longas na categoria melhor filme internacional. O Brasil apresentou A vida invis�vel, de Karim A�nouz.] � uma boa fantasia, mas tratamos isso com ilus�o e com cautela. O filme fez 1,8 milh�o de espectadores at� agora na Argentina e deve ficar em cartaz at� dezembro. � um bom buzz, mas n�o � garantia de nada e sabemos bem disso.

A trilha de A odisseia dos tontos tem m�sica de Gustavo Santaolalla, amigo do presidente eleito, Alberto Fern�ndez. Por outro lado, o ator Luis Brandoni, que interpreta um dos protagonistas, foi o respons�vel por convocar, ao lado do cineasta Juan Jos� Campanella, uma das maiores manifesta��es de apoio a Mauricio Macri durante a campanha eleitoral. Como os artistas argentinos t�m lidado com a cis�o pol�tica?
N�s, artistas, n�o temos nos rendido a essas diferen�as. O elenco era multi-ideol�gico. Al�m de Brandoni, t�nhamos outras pessoas que vestem outras camisas na equipe. Mas fizemos a mesma coisa que os personagens fazem no filme – as diferen�as ficam de lado. E assim curtimos o nosso trabalho, que � o que mais gostamos de fazer. Tivemos uma �tima conviv�ncia e �timos momentos juntos. Foi o que eu chamo de uma fant�stica experi�ncia anticis�o.


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