
Um olhar autenticamente brasileiro � o que prop�e a primeira Mostra Periferia Cinema do Mundo, que ser� aberta nesta quarta (6) e prossegue at� o pr�ximo dia 17, no MIS Cine Santa Tereza. O evento apresenta um panorama da produ��o de cineastas da periferia de Belo Horizonte e regi�o metropolitana. “A ideia surgiu quando observei a crescente produ��o de realizadores fora do circuito. Do Barreiro a Venda Nova, tem gente produzindo. O MIS, sendo um espa�o p�blico, tem a obriga��o de acolher esse novo cinema”, afirma o curador C�sar Gilcevi.
A programa��o – inteiramente gratuita – inclui aproximadamente 50 filmes, entre curtas, m�dias e longas-metragens e tamb�m s�ries. Muitos t�tulos tiveram notoriedade n�o apenas circuito mineiro, mas tamb�m nacional e internacional, circulando por festivais. O evento ainda traz debates, bate-papos, mesas-redondas e uma oficina ministrada pelo cineasta Adirley Queir�s (Branco sai, preto fica e A cidade � uma s�?).
O t�tulo que abre o festival � No cora��o do mundo, dos diretores Maur�lio e Gabriel Martins, lan�ado neste ano pela premiada produtora Filmes de Pl�stico, de Contagem, que ter� uma retrospectiva de seus curtas exibida na mostra. O curador tamb�m destaca as anima��es surrealistas de Leonardo Cata Preta; o cinema que tem sido produzido na Cabana do Pai Tom�s, que re�ne diretores como o casal Marcus e Dea Vieira e o veterano �berson Martins; a produ��o realizada por mulheres, como Karen Suzane, Labibe Ara�jo, Simone Moura, Ana Pi e a produtora Renca Produ��es; e, por fim, o trabalho de Artur Ranne em torno da reflex�o e do questionamento sobre o racismo no Brasil.
QUEBRADA
O curador julga que a produ��o audiovisual na periferia de BH e arredores � uma das mais potentes e inventivas da atualidade e ressalta seu car�ter universal. “O moleque da quebrada filma com um celular na m�o e v�rias ideias na cabe�a. Leva para a tela o seu universo particular, que � o mesmo de qualquer favela, seja ela tupiniquim, da Europa ou da �ndia. Essa produ��o ainda vai crescer muito, devido � amplia��o do acesso aos meios tecnol�gicos e �s ferramentas audiovisuais. Creio que, nos pr�ximos anos, teremos um n�mero ainda maior de realizadores audiovisuais nas periferias e favelas. H� tamb�m cada vez mais mulheres produzindo, subvertendo as regras do nosso cinema, que � majoritariamente masculino”, afirma.
C�sar Gilcevi salienta que, embora essa produ��o seja a cara do Brasil e aborde a realidade das periferias e favelas, n�o se trata de um cinema panflet�rio. “H� muitos filmes que falam da periferia, mas sempre com uma vis�o de fora, feita por quem n�o pertence ou n�o tem a viv�ncia daquele cotidiano. Esse novo cinema tem como protagonistas as pessoas que, al�m de pertencer �quela realidade, fazem dessa arte seu lugar de fala e envolvem suas comunidades nos processos de filmagem”, observa.
Num contexto conturbado para o cinema e as artes em geral, o curador enfatiza o poder de resist�ncia e de supera��o dos cineastas. “A cultura tem sido sucateada de forma agressiva pelo novo governo. Mesmo assim, a produ��o cinematogr�fica n�o para. Tanto � que s�o mais de 50 filmes nessa mostra. Se n�o h� meios, o jovem cineasta hoje filma at� com celular. A expectativa � de que o nosso evento sirva como um registro e um alerta de que a grande produ��o cultural de BH hoje vem das periferias. Nossa expectativa no MIS Cine Santa Tereza � que a Mostra Periferia Cinema do Mundo aconte�a anualmente, com a perspectiva de se tornar um panorama nacional nas pr�ximas edi��es.”
MOSTRA PERIFERIA CINEMA DO MUNDO
Desta quarta (6) a 17 de novembro, no MIS Santa Tereza – Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza. (31) 3277-4699. Programa��o gratuita. Abertura hoje (6), �s 19h30, com o filme No cora��o do mundo, de Gabriel e Maur�lio Martins.