
Um ano pode variar entre a multiplicidade de ritmos e, ao final, soar como uma batida animada ou uma triste melodia. A ind�stria fonogr�fica seguiu seu caminho de transforma��es em 2019, marcado tanto pelo surgimento de jovens talentos quanto pelo retorno estrondoso de antigos �dolos. Nesta era em que a quantidade de discos vendidos deu lugar ao n�mero de “views” e “plays” na internet para mensurar o sucesso de um artista, o sertanejo e o funk consolidaram seu dom�nio sobre o mercado brasileiro, que tamb�m cedeu �s rimas do rap mineiro, contundentes ao falar das mazelas do pa�s. L� fora, a mistura de sonoridades foi o que mais chamou a aten��o.
No final de 2018, ningu�m conhecia Lil Nas X. Montero Hill, na �poca com 19 anos, era s� mais um norte-americano entusiasta das ferramentas virtuais que possibilitam a produ��o musical caseira. Em julho de 2019, ele se tornou o dono da m�sica mais ouvida do planeta. Virou o fen�meno Lil Nas X, com sua mistura de rap e country criada com a batida comprada em um site especializado, somada � criatividade da letra e lan�ada na web em clipe montado com cenas do game Red Dead Redemption II.

O sucesso no universo digital logo chamou a aten��o da Columbia Records. Foi assim que Lil Nas X se tornou parceiro de Billy Ray Cyrus, pai de Miley e astro do country estadunidense, na grava��o do remix de Old town road. A vers�o passou 19 semanas no topo do ranking Hot 100 da Billboard, a principal parada musical do planeta, cravando um novo recorde hist�rico de perman�ncia na posi��o.
Apesar da popularidade e import�ncia do country na cena pop norte-americana, tamanho sucesso pode se explicar por sua criativa alquimia com o hip-hop, g�nero hoje dominante nos EUA. Mais que isso, o trabalho de Lil Nas X tem forte apelo representativo, pois o artista � negro e homossexual. Seu sucesso veio quebrar paradigmas e preconceitos historicamente arraigados nesses dois estilos.
Em agosto, Lil perdeu a lideran�a no Billboard para algu�m ainda mais jovem. Aos 17 anos, a cantora e compositora norte-americana Billie Elish chegou ao posto com a can��o Bad guy. Flutuando entre pop e indie, ela tamb�m come�ou a despontar de forma independente nas plataformas digitais, at� que em 2019 lan�ou o �lbum de estreia When we all fall asleep, where do we go?, que lhe garantiu indica��es �s quatro principais categorias do Grammy, cujos pr�mios ser�o entregues em 26 de janeiro.
De acordo com dados do Spotify, o artista mais ouvido na plataforma em 2019 tamb�m � do rap: o nova-iorquino Post Malone. Este ano, ele lan�ou Hollywood’s bleeding, seu terceiro �lbum de est�dio, o segundo mais tocado mundialmente pelos usu�rios do streaming este ano, atr�s apenas do disco de Billie Elish.
Entre os 10 artistas preferidos pela audi�ncia do Spotify est� a estrela pop Ariana Grande, que lan�ou o badalado 7 rings em janeiro, �lbum que permaneceu entre os mais escutados at� agora. Se�orita, a m�sica mais ouvida no planeta em 2019, tamb�m � de jovens astros do pop: Camila Cabello e Shawn Mendes.
BRASIL Dados do Spotify demonstram o dom�nio do sertanejo e do funk entre as prefer�ncias do p�blico brasileiro. Mar�lia Mendon�a, Z� Neto & Cristiano, Anitta, Gusttavo Lima e MC Kevin O Chris ocupam as cinco primeiras posi��es da lista de artistas mais populares de 2019.
Entre os 10 campe�es de audi�ncia, o �nico que fugiu da dobradinha “sofr�ncia-batid�o” � o pagodeiro Dilsinho, com o �lbum ao vivo Terra do nunca. Nesta �poca em que cantores preferem lan�ar sucessos a conta-gotas, os singles, em vez de investir no disco (mesmo em formato virtual), os �lbuns mais ouvidos em 2019 no Brasil foram gravados em shows: Todos os cantos Vol. 1, de Mar�lia Mendon�a, O embaixador, de Gusttavo Lima, e Esquece o mundo l� fora – Deluxe, de Z� Neto & Cristiano.
Por�m, o velho disco n�o perdeu seu prest�gio conceitual no mercado fonogr�fico. Em 2019, alguns lan�amentos se destacaram pela popularidade do artista, como � o caso de Kisses, de Anitta, que n�o gravava um �lbum desde 2015. Divulgado em abril, com faixas em portugu�s, ingl�s e espanhol, reuniu parcerias da brasileira com artistas de renome – os estrangeiros Snoop Dogg, Alesso e Becky G e os compatriotas Caetano Veloso e Ludmilla.
Em outros casos, o sucesso veio da relev�ncia do conte�do, sobretudo neste momento marcado por tantas tens�es pol�ticas e sociais. Um dos �lbuns mais celebrados pela cr�tica brasileira foi Ladr�o, lan�ado em mar�o pelo rapper mineiro Djonga, de 25 anos. Em pouco mais de um m�s, as 10 faixas in�ditas do �lbum j� superavam 40 milh�es de visualiza��es no YouTube e Spotify. As rimas trazem mensagens viscerais sobre racismo e exclus�o social. Na Virada Cultural de BH, Djonga foi uma das principais atra��es, fechando a programa��o diante de 40 mil pessoas na Pra�a da Esta��o.
MINAS Al�m do rap, a m�sica mineira se projetou nacionalmente com jovens artistas tamb�m na faixa dos 20 anos. Depois de estourar em 2018, a banda Lagum lan�ou o disco Coisas da gera��o, consolidando-se como nome de ponta do pop rock brasileiro. O grupo se apresentou no Lollapalooza e no Rock in Rio, os maiores festivais realizados no pa�s.
Na contram�o da ascens�o de uns, o ano foi o fim da linha para outros. Em novembro, o Skank comunicou ao p�blico sua separa��o depois de quase 30 anos de carreira, que ocorrer� depois da turn� de despedida em 2020. De acordo com publica��es oficiais do grupo, a decis�o foi pac�fica e consensual. “N�o precisa nem da decad�ncia nem da guerra para terminar alguma coisa”, disse o vocalista e guitarrista Samuel Rosa.
Enquanto uns se v�o, outros voltaram em 2019. Separada desde 2008, a dupla formada pelos irm�os Sandy e J�nior, fen�meno do pop nacional nos anos 1990, ressurgiu em turn� avassaladora, que passou por 11 capitais brasileiras, al�m de Nova York e Lisboa, com ingressos esgotados em quase todos os shows. Cerca de 600 mil pessoas prestigiaram o revival.
A turn� Nossa hist�ria celebrou os 30 anos da primeira apresenta��o televisiva dos filhos do sertanejo Xoror�, com hits que marcaram a inf�ncia e adolesc�ncia de quem hoje est� na faixa dos 30 – p�blico numeroso e apaixonado. Para se ter ideia da for�a da nostalgia, as 24 mil entradas para a apresenta��o em Belo Horizonte, realizada em agosto, na Esplanada do Mineir�o, esgotaram-se em poucas horas em mar�o, assim que o evento foi anunciado. Os pre�os variaram de R$ 70 a R$ 480. No mercado paralelo, havia ingressos oferecidos por inacredit�veis R$ 11 mil para a temporada carioca.