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Primeiro livro de Fernanda Young � lan�ado postumamente

'Posso pedir perd�o, s� n�o posso deixar de pecar' foi escrito pela autora aos 17 anos e mantido in�dito. Ela planejava public�-lo em 2019, ano em que morreu, precocemente, aos 49


postado em 06/01/2020 04:00 / atualizado em 05/01/2020 20:26

Escritora, roteirista e apresentadora, Fernanda Young construiu uma carreira cheia de sucesso e de polêmicas, alimentadas por sua personalidade inquieta(foto: Bob Wolfenson/Divulgação)
Escritora, roteirista e apresentadora, Fernanda Young construiu uma carreira cheia de sucesso e de pol�micas, alimentadas por sua personalidade inquieta (foto: Bob Wolfenson/Divulga��o)

Aos 17 anos, quando se preparava para estudar letras na Universidade Federal Fluminense (UFF), Fernanda Young (1970-2019) escreveu seu primeiro romance – e nunca o publicou. Depois de reencontrar por acaso os originais que julgava perdidos, a escritora achou que Posso pedir perd�o, s� n�o posso deixar de pecar deveria vir � luz em 2019, como um fruto do fim dos anos 1980, que desafiaria conven��es num ambiente de conservadorismo crescente. Seria dif�cil de tragar para muita gente, ela imaginou.

A editora Leya Brasil e a fam�lia de Fernanda levaram adiante o projeto de colocar nas livrarias o livro gestado antes da fama pela autora (Vergonha dos p�s, A m�o esquerda de V�nus), roteirista (Os normais, Shippados), apresentadora (Saia justa, Irritando Fernanda Young) e atriz – Fernanda se preparava para estrear no teatro, em agosto do ano passado, quando n�o resistiu a uma crise de asma durante um fim de semana de descanso dos ensaios de Ainda nada de novo, em seu s�tio na cidade de Gon�alves, no Sul de Minas.

O lan�amento de Posso pedir perd�o, s� n�o posso deixar de pecar ganhou o tom de uma homenagem p�stuma, no qual se envolveu sobretudo a agente liter�ria Eug�nia Ribas-Vieira, editora e amiga da escritora. “Pensando de maneira abrangente, esse livro d� continuidade a um trabalho que v�nhamos fazendo desde A m�o esquerda de V�nus (2016) – o de recuperar a obra n�o editada da Fernanda”, afirma Eug�nia.

Ela conta que foi durante uma de suas arruma��es de casa que Fernanda encontrou o original do livro, escrito em 1987, o que a deixou euf�rica. “Nunca, at� ent�o, ela tinha relido, e disse que precis�vamos ler juntas. O livro era muito surpreendente. Tinha sua estranheza, suas manias, suas loucuras”, comenta Eug�nia. No di�logo que tiveram depois de conclu�da a leitura, Fernanda comentou que o livro era “muito louco, mas genial”, conta a agente. “E eu lhe disse: 'Fernanda, precisamos publicar'.”

Eug�nia ent�o apresentou a ideia de publicar a obra � diretora-geral da Leya Brasil, Leila Name, que gostou da ideia. “O livro mostrava a Fernanda que viria pela frente. Tudo j� se encontra ali ao leitor que a segue e que pode enxergar nas entrelinhas”, observa Eug�nia.

O pref�cio coube a uma das filhas da roteirista, Cec�lia Madonna Young, que nunca havia lido um livro da m�e e se surpreendeu. “Para aqueles que est�o, como eu, lendo um livro de Fernanda Young pela primeira vez: se entreguem a esse mundo. � louco, cativante e espinhoso – mas prometo que vale a pena”, sugere.

A trama tem como protagonista Nina Tiengo, uma garota que se assusta com sua primeira menstrua��o e vai descobrindo os prazeres da vida, como o sexo, a poesia e a m�sica. Na cidade pequena em que mora, as palavras do pastor Ortiz guiam os fi�is, incluindo sua fam�lia, mas Nina, criada para levar uma vida “dentro dos padr�es”, luta para vivenciar tudo o que lhe seduz.

VEEM�NCIA

Na avalia��o de Eug�nia, o que mais chama a aten��o no romance � a veem�ncia da escrita da autora e sua fluidez narrativa, caracter�stica que Fernanda iria manter e acentuar em sua produ��o futura. “Fernanda escrevia com f�. Escrevia r�pido e sabia tirar o leitor de um lugar de conforto. Essa manipula��o do leitor, a quem a autora d� as m�os no in�cio do livro e leva, calmamente, a um terreno in�dito, cheio de personagens inusitados (como a mulher que teve 125 filhos) e de pensamentos muito originais. Fernanda sempre ocupou este lugar de 'original'.”

Para ela, a escritora e amiga era uma pensadora que n�o estava no eixo do lugar-comum, em qualquer �poca que se tome como exemplo. “E esse primeiro romance tem isso: esse convite a visitarmos um ponto de vista muito original sobre a personagem Nina e uma vida que poderia ter seu rumo comum, numa cidade pequena do interior. Mas Nina faz tudo diferente. Ao modo Fernanda Young.”

Eug�nia Ribas-Vieira v� alguns pontos de contato entre Nina Tiengo e Fernanda Young. “A paix�o pela vida, a curiosidade sobre os outros. Fernanda sempre buscou os outros, sempre quis descobri-los, saber de suas hist�rias, de suas manias. Sempre, de alguma maneira, Fernanda se apaixonava pelos outros. Nina tem, por outro lado, uma ingenuidade que Fernanda n�o tinha. Claro que n�o conheci Fernanda nessa idade para saber, mas n�o acho que ela fosse ing�nua como Nina.”

Foi h� aproximadamente 15 anos que Eug�nia – na �poca editora-assistente da Rocco – e Fernanda se conheceram. “Fui promovida a cuidar dos autores nacionais da editora e Fernanda era um deles, para minha felicidade. Eu j� a acompanhava antes disso. Posso dizer que era uma f�”, afirma. Na primeira reuni�o, a escritora a recebeu em sua casa, e a agente liter�ria lembra como as duas eram t�o diferentes.

“Esteticamente, eu era seu completo oposto. Morena de praia, metida a intelectual – era assim que ela me descrevia (risos). E eu era supert�mida. Mas ela se apegou. E eu me apeguei. Uma vez, me disse: 'Eug�nia, com essa sua vozinha, voc� consegue tudo'. Hoje vejo que �ramos duas destemidas, duas corajosas. T�nhamos isso em comum.”

Com o passar dos anos, as duas se tornaram amigas e confidentes. Fernanda contava praticamente tudo para Eug�nia: problemas com dentista; com os filhos; conversas com o marido, Alexandre Machado; quest�es pol�ticas. “Ganhei a confian�a dela nos momentos mais cr�ticos como autora. Ela tinha muita inseguran�a, embora n�o passasse isso ao seu leitor. Um dia, antes de um lan�amento, dizia querer desistir. Podia ficar agressiva, �s vezes. Sempre estive bem perto. Sempre estive do seu lado. O tempo nos trouxe a confian�a. Era algo m�tuo”, afirma Eug�nia, que teve uma filha no ano passado e a chamou de Maria Fernanda, em homenagem � amiga.

Segundo a editora, Fernanda Young achava importante lan�ar o livro em 2019, dado o contexto pol�tico do pa�s e seus efeitos na �rea da cultura. “Fernanda estava muito assustada com o obscurantismo cultural ao qual o governo est� nos levando. Muito assustada. Ela me disse: 'V�o me queimar em pra�a p�blica, mas vamos publicar'. Cheguei a pedir duas edi��es no livro por causa do conte�do, que poderia ser considerado blasfemo. Mas ela me disse que n�o mudaria nada”, revela.


FALTA

A aus�ncia de Fernanda Young d�i na amiga, que sente falta especialmente de seu entusiasmo e de seu humor desconcertante. “Tento continuar ouvindo Fernanda dentro de mim. � como se continuasse falando comigo. Fal�vamos muito no dia a dia, tanto bobagens como assuntos s�rios. Tem sido dif�cil encarar sua falta. Foi tudo muito de repente.”

Eug�nia Ribas-Vieira lamenta n�o s� sua perda pessoal, mas tamb�m a perda da figura pensante para o pa�s. Ela considera que o cen�rio intelectual brasileiro se viu privado de uma artista �nica e original e uma for�a, infelizmente n�o devidamente valorizada. “Temos a tend�ncia colonialista de valorizar tudo o que vem de fora. (A artista s�rvia) Marina Abramovic � ovacionada, (a escritora francesa) Sophie Calle... Mas n�o conseguimos dar devido valor ao que t�nhamos aqui t�o pr�ximo, t�o ao nosso alcance. Fernanda era uma grande artista. N�o conseguimos separar vida e obra; tudo ela transformava e criava. Um vigor. Uma luz. E sempre nos tirando do lugar. Sempre. N�o h� quem n�o se comova com Fernanda, seja com amor ou �dio, ela nunca passou inc�lume. Resumindo: sua vida era continuidade de sua arte e sua arte, continuidade de sua vida. N�o dava para separar.”

Posso pedir perd�o, 
s� n�o posso deixar de pecar
• Fernanda Young
• Editora Leya Brasil (160 p�gs.)
• R$ 45


TRECHO 

“Posso pedir perd�o, s� n�o posso deixar de pecar. Tudo o que eu gosto me parece sempre um pr�-pecado. Por que teremos sempre que nos punir pelo que gostamos? Por que devo ser considerada uma alma ruim pela balb�rdia do prazer? O prazer ser� sempre uma motiva��o ego�sta? E a palavra ser� que sempre me mostrar� a verdade do que escuto? Ser� sempre pregada como palavra de cura e salva��o?


SOB O SIGNO DE TOURO

Fernanda Young era taurina do dia 1º de maio e tinha muito orgulho disso. Seu signo astrol�gico se faz presente no livro. O s�mbolo de Touro, que lembra um chifre (Y) e forma a inicial do sobrenome dela (Young), est� na primeira p�gina de cada cap�tulo. J� a capa, criada por uma de suas filhas, Estela May Young, que � ilustradora, traz um touro sendo domado por uma menina chamada J�ssica, uma personagem que a escritora incorporava quando estava com a fam�lia, para representar sua crian�a interior.


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