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Estado de Minas

'Os miser�veis', que dividiu pr�mio com 'Bacurau' em Cannes, estreia no Brasil

A��o de trio de policiais em Montfermeuil, periferia parisiense onde se desenrola o romance de Victor Hugo, move a trama do longa, que concorre ao Oscar


17/01/2020 04:00 - atualizado 16/01/2020 20:27

Ação de trio de policiais em Montfermeuil, periferia parisiense onde se desenrola o romance de Victor Hugo, move a trama de Os miseráveis(foto: Diamond Films/Divulgação)
A��o de trio de policiais em Montfermeuil, periferia parisiense onde se desenrola o romance de Victor Hugo, move a trama de Os miser�veis (foto: Diamond Films/Divulga��o)
Na Fran�a, os policiais de ronda andam em trio, n�o em duplas, como no Brasil. Isso explica a conforma��o no carro de Os miser�veis, o longa franc�s do maliano Ladj Ly, que estreou nesta semana no Brasil. Desde o Festival de Cannes do ano passado, em que dividiu o pr�mio do j�ri com Bacurau, de Kleber Mendon�a Filho e Juliano Dornelles, Os miser�veis tem sido um dos expoentes da tend�ncia que se pode definir como “revolta dos exclu�dos”.
 
Foi indicado ao Globo de Ouro e concorre ao Oscar de melhor filme internacional. N�o vai ganhar, porque est� trombando em todas essas disputas com Parasita, do sul-coreano Bong Joon-ho, que disputa seis categorias do Oscar, incluindo a de melhor filme. Dois atores do filme, Alexis Manenti e Almamy Manout�, estiveram no Festival do Rio, em dezembro passado. Manenti � corroteirista do longa, com o diretor.
 
Na origem de Os miser�veis est� um curta escrito por Manenti. Entre os dois filmes, h� uma diferen�a e tanto. Ambos mostram o funcionamento da for�a policial pelo olhar de um novato na vizinhan�a. No curta, o policial que est� chegando comete a infra��o que pode levar o mundo – aquele mundo – � explos�o. No longa, � testemunha, e a quest�o � como reagir�.

Manout� � negro, mu�ulmano. Faz o dono da mercearia que serve de palco para alguns confrontos. Num filme em que ningu�m tem raz�o – os policiais certamente n�o –, seu personagem tem grande for�a e dignidade. “Foi um presente de Ladj. Ele pr�prio � negro e mu�ulmano, natural do Mali. Conhece o sentimento de n�o pertencimento que muitos de n�s, sen�o todos, conhecemos na Fran�a”, diz Manout�. Dois policiais brancos, o novato e o veterano, e um negro.
 
A conforma��o racial dentro do carro funciona como um microcosmo, e todo o filme tem essa dimens�o. Do particular para o universal, e vice-versa. “A pobreza n�o tem cor nem nacionalidade, o abuso policial � uma realidade cotidiana nas sociedades baseadas na desigualdade social. Na Fran�a, tem havido muitas cr�ticas � coniv�ncia das autoridades com a repress�o policial, embora setores mais � direita defendam os excessos em nome da seguran�a. Pelo que sei do Brasil, aqui � ainda pior”, diz Manenti.

S�o v�rias hist�rias cruzadas, incluindo as dos policiais e as dos moradores de Montfermeuil, na periferia de Paris. “S� para lembrar, � em Montfermeuil que Victor Hugo situa a a��o de seu romance cl�ssico, Os miser�veis, que j� aborda a desigualdade e a forma��o da identidade francesa. Victor Hugo n�o foi apenas um grande nome da literatura, foi um vision�rio que de alguma forma intuiu o que ocorreria no pa�s. A Fran�a sempre teve dificuldade de conviver com seu passado colonial, e hoje a integra��o dos descendentes de colonizados segue sendo um problema grave.”

EXPLOSIVO

 Um dos epis�dios, e certamente o mais explosivo do filme, diz respeito ao sequestro de um filhote de le�o. A garotada (e um garoto, em especial) se apossam do le�ozinho. O dono do circo e seus seguran�as reagem de forma brutal, amea�am iniciar uma guerra. A norma em Os miser�veis � o confronto, nunca a negocia��o.
 
“Foi por isso que Ladj resolveu iniciar o filme com as imagens da confraterniza��o da Copa do Mundo, com o Arco do Triunfo ao fundo. Aquele � um cen�rio tur�stico, h� uma idealiza��o. O esporte re�ne todo mundo, independentemente de ra�a, condi��o social ou religi�o. Mas o congra�amento termina ali."
 
"Na sequ�ncia come�a o confronto. A cena n�o existia no roteiro. Foi acrescentada ao cabo de muita reflex�o. Todo o processo do filme foi muito reflexivo para a equipe. Discut�amos cada cena, suas implica��es. �amos conscientes de cada inten��o. Se o filme passa um sentimento de urg�ncia, de tens�o, de nervosismo, � gra�as � montagem. Participei da escrita e da interpreta��o, mas sei que o filme toma forma na montagem”, diz Manenti.
 
E Manout� acrescenta que “Ladj e todos n�s conhecemos aquela vizinhan�a. Era fundamental que o filme passasse a verdade do lugar. A fala, a paisagem, o sentimento. Em Os miser�veis tudo � fruto da nossa viv�ncia”. Os policiais, inclusive o interpretado por Manenti, pintado como um respons�vel pai de fam�lia, s�o abusivos.
 
Outro garoto, n�o o que sequestra o filhote, tem um drone com o qual filma as meninas trocando de roupa pelas janelas dos apartamentos no pr�dio popular. A mesma c�mera capta o abuso da pol�cia. O garoto do le�o � gravemente atingido. Pode morrer. O trio divide-se, parte para o confronto interno. E agora o spoiler – toda a constru��o dram�tica de Os miser�veis converge para o desfecho. 

H� uma explos�o c�nica, uma calmaria e, de novo, arma-se o confronto. O garoto mascarado, � maneira do Coringa, e o policial, ambos armados – bomba caseira contra rev�lver –, est�o ali no caminho sem voltas, prontos para explodir. A beleza desse desfecho est� na constru��o do olhar. Como o espectador recebe a cena. Uma escada. Quem est� no topo, quem est� abaixo. Manenti e Ladj Ly em nenhum momento criam “her�is”. O mundo � muito mais complexo do que isso, mas o olhar do diretor rompe uma poss�vel imparcialidade e toma partido. 


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