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Estado de Minas

Saiba como 'Democracia em vertigem' tenta conquistar os votantes do Oscar

Document�rio da mineira Petra Costa que disputa a estatueta neste domingo (9) se posiciona como um alerta sobre o perigo da ascens�o da ultradireita no mundo


postado em 09/02/2020 04:00 / atualizado em 09/02/2020 11:59

Democracia em vertigem é centrado na crise política brasileira e teve sua indicação à estatueta aplaudida, mas também rechaçada no país, inclusive pelo governo(foto: Netflix/Divulgação)
Democracia em vertigem � centrado na crise pol�tica brasileira e teve sua indica��o � estatueta aplaudida, mas tamb�m recha�ada no pa�s, inclusive pelo governo (foto: Netflix/Divulga��o)

A participa��o brasileira no Oscar 2020 � completamente fora do comum. Em primeiro lugar, pela categoria na qual o pa�s tem um representante – a de document�rio, e n�o a de melhor filme internacional (como a Academia de Hollywood passou a denominar a disputa entre os filmes estrangeiros). Al�m disso, a indica��o de Democracia em vertigem, da mineira Petra Costa, foi recebida no Brasil com uma rea��o extremada – por parte de apoiadores incondicionais e de detratores virulentos.



Seguindo o estilo ensa�stico j� adotado em seus filmes anteriores, como Olmo e a gaivota, Elena e Olhos de ressaca, Petra Costa documentou a crise pol�tica brasileira no pa�s nos �ltimos anos a partir de uma perspectiva radicalmente pessoal. O filme mostra como ela viveu e assimilou (ou n�o) o desenrolar de fatos que culminaram no impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, na pris�o de Lula, em 2018, na ascens�o de Bolsonaro como l�der da direita antipetista e em sua chegada ao Pal�cio do Planalto.

Embora seja um filme a um s� tempo sobre o Brasil recente e a pr�pria diretora, Democracia em vertigem � apresentado aos votantes da Academia de Artes e Ci�ncias Cinematogr�ficas de Hollywood como exemplo de uma tend�ncia global – a chegada ao poder de uma direita ultraconservadora e ultranacionalista – que tem colocado a democracia (ao menos como ela � conhecida) em xeque.

Na v�spera de seu lan�amento pela Netflix, em junho passado, o longa recebeu uma cr�tica assinada por A. O Scott no di�rio The New York Times, na qual ele afirma que “o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, � um admirador da antiga ditadura e faz parte de uma tend�ncia global ao populismo autorit�rio e antiliberal, que atualmente floresce nas Filipinas, na Hungria e em muitos outros pa�ses”.

O jornal nova-iorquino ainda incluiu Democracia em vertigem em sua lista dos oito melhores filmes do ano, ao lado de outros futuros postulantes ao Oscar, como Parasita, Dor e gl�ria, Era uma vez em… Hollywood, O irland�s e o concorrente entre os document�rios Honeyland. E n�o foi o �nico �rg�o de m�dia internacional a apontar o filme de Petra Costa como exemplo de uma realidade mundial.

ADVERT�NCIA 

Para David Ehrlich, da IndieWire, “o deslizamento brasileiro em dire��o ao fascismo se torna uma hist�ria de advert�ncia. Parece uma pr�via do que est� chegando aos Estados Unidos”. Em sua cr�tica, tamb�m publicada em junho de 2019, ele questiona: “At� que ponto uma hist�ria sobre uma democracia em queda se torna uma hist�ria sobre todas as democracias? Talvez n�o haja como saber, at� j� ser tarde demais”.

Quando o filme conquistou uma vaga na briga pela estatueta, em dezembro passado, o cr�tico e professor carioca Pedro Butcher afirmou ao Estado de Minas: “� um assunto pol�mico no Brasil, mas que deu ao filme uma boa comunica��o com o p�blico de fora, que p�de entender melhor o que se passa aqui como uma situa��o comum internacionalmente. Bem ou mal, ela (Petra Costa) mostra paralelos existentes com a elei��o de Trump nos EUA e a ascens�o de uma nova direita, pr�xima de uma extrema direita, em v�rios pontos do mundo. Podem criticar o filme, mas essa conex�o � preciso reconhecer”.

A pr�pria diretora tem ressaltado esse aspecto na corrida pelo Oscar. Entre as v�rias postagens recentes no Twitter, muitas delas em ingl�s, ela destaca no topo da p�gina um v�deo em que o diretor alem�o Wim Wenders (presidente da Academia de Cinema Europeu), o ator norte-americano Tim Robbins e a cineata neozelandesa Jane Campion (uma das �nicas cinco mulheres j� indicadas ao Oscar de melhor dire��o e �nica a vencer a Palma de Ouro, com O piano) associam Democracia em vertigem com o contexto global.

Um depoimento semelhante da jornalista e escritora espanhola Pilar Del R�o, presidente da Funda��o Jos� Saramago, tamb�m est� entre as muitas publica��es. Em outra, Petra Costa compartilhou trecho de entrevista do cientista pol�tico Steven Levitsky. “Tive a imensa honra de conhecer Steven Levitsky no ano passado. Seu livro Como as democracias morrem serviu como guia na jornada de Democracia em vertigem. Neste v�deo, ele compartilha seu ponto de vista sobre o que est� por tr�s da ascens�o de demagogos e populistas em todo o mundo #Oscars2020”, comentou, em ingl�s, acrescentando: “EUA, Reino Unido, Brasil, Hungria, Turquia e tantos outros. Haveria um fio subjacente entre o que est� acontecendo com as democracias em diferentes partes do mundo?”.

A cineasta belo-horizontina de 36 anos assinou um artigo no New York Times e deu entrevistas para publica��es internacionais recentemente, falando sobre o cen�rio pol�tico global e fazendo cr�ticas a Jair Bolsonaro. Diante da repercuss�o da indica��o do filme e das ideias difundidas por Petra Costa, a Secretaria de Comunica��o Social da Presid�ncia da Rep�blica a chamou de “militante anti-Brasil”. Membros do governo brasileiro, incluindo o presidente, j� haviam criticado a indica��o de Democracia em vertigem ao Oscar, no momento em que a lista dos finalistas foi anunciada, numa aberta torcida contr�ria � vit�ria do pa�s no principal pr�mio do cinema mundial.

Embora a alta voltagem pol�tica que cerca Democracia em vertigem possa beneficiar o filme aos olhos da comunidade de Hollywood, que vive sua pr�pria guerra particular contra o presidente Donald Trump, vencer o Oscar de document�rio n�o ser� tarefa f�cil para o concorrente brasileiro.

Numa categoria tradicionalmente disputada, os concorrentes de 2020 t�m tantos predicados que nenhum deles parece estar fora do p�reo, embora a m�dia americana aponte o document�rio produzido pelo casal Michelle e Barack Obama para a Netflix (Ind�stria americana) como o favorito.

Lutando pelos votos


Confira quais s�o os concorrentes de Democracia em vertigem

(foto: Channel 4/Divulgação)
(foto: Channel 4/Divulga��o)


For Sama 
A Sama do t�tulo � um beb� – a primeira filha da cineasta Waad Al-Kateab, que dirige o filme com Edward Watts. Waad � uma jornalista s�ria, que, ao longo de cinco anos da guerra civil em seu pa�s, vivendo em Aleppo, uma das cidades mais atingidas pelos combates entre os rebeldes e as for�as do ditador Bashar Al-Assad, se apaixonou, se casou e teve a menina.

 

Al�m da trajet�ria pessoal da diretora, o filme abre uma janela para a situa��o das mulheres na guerra. Numa de suas comoventes declara��es durante a campanha pelo Oscar, Waad Al-Kateab afirmou que fez o filme como um testamento para a filha, j� que tinha certeza de que morreria na guerra. 


(foto: Apolo Media/Divulgação)
(foto: Apolo Media/Divulga��o)


Honeyland
Produ��o da Maced�nia do Norte, � o primeiro filme de n�o fic��o a competir nas categorias de document�rio e filme internacional ao mesmo tempo. O projeto inicial dos documentaristas Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov era fazer um registro da biodiversidade e sustentabilidade para a Sociedade Ecol�gica da Maced�nia. Quando eles encontraram a apicultora Hatidze Muratova, o projeto mudou.



Documentar a vida dessa mulher que cuida da m�e muito doente, tem um pacto de sustentabilidade com as abelhas e precisa aprender a conviver com vizinhos (n�mades) que chegam com uma mentalidade diferente da dela passou a ser o cerne de Honeyland, que fechou seu foco numa pequena aldeia para enviar uma mensagem transnacional sobre o homem e sua rela��o com o planeta.

(foto: Netflix/Divulgação)
(foto: Netflix/Divulga��o)


Ind�stria americana
Primeiro resultado da parceria estabelecida entre o casal Obama e a Netflix, o filme centra seu foco na empresa chinesa Fuyao, uma das maiores produtoras de vidros automotivos do mundo. Mais especificamente, na filial inaugurada nos Estados Unidos em 2016, no espa�o onde antes havia uma f�brica da General Motors, em Ohio.



A conviv�ncia entre funcion�rios chineses e norte-americanos � o pano de fundo para um embate maior – entre duas economias, sociedades e culturas, do ponto de vista dos menos favorecidos. A dire��o � de Julia Reichert e Steven Bognar – ela em sua quarta indica��o ao Oscar; ele, na segunda.

(foto: National Geographic/Divulgação)
(foto: National Geographic/Divulga��o)


The cave 
Diretor de Os �ltimos homens em Aleppo, indicado ao Oscar em 2018, Feras Fayyad, que foi impedido de comparecer � cerim�nia pelo governo de Donald Trump, apresenta desta vez o retrato de um hospital subterr�neo em uma caverna (Cave, em ingl�s) no qual a equipe m�dica, sobretudo uma pediatra que surge como a protagonista da hist�ria, tenta salvar a vida de civis atingidos pela Guerra da S�ria. Com muitas crian�as entre as v�timas, a situa��o parece muitas vezes insuport�vel para a principal personagem de The cave – e para o espectador.



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