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Estado de Minas

Bordadeiras de Caet� registram em livro pontos hist�ricos da cidade

Grupo se re�ne em torno de uma mesa de caf� e broa para bordar, e diz que a iniciativa contribui para preservar o patrim�nio material e o imaterial


postado em 21/02/2020 04:00 / atualizado em 20/02/2020 19:49

Grupo de oito bordadeiras reproduziu 13 monumentos de Caeté. Capa da obra tem o mapa de Minas e foi bordada a diversas mãos(foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
Grupo de oito bordadeiras reproduziu 13 monumentos de Caet�. Capa da obra tem o mapa de Minas e foi bordada a diversas m�os (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
A agulha perfura o tecido, mergulha na trama e segue seu destino, enquanto a linha d� cor aos desenhos e traduz, em beleza, o conhecimento de L�da, os sonhos de Z�lia, o talento de Helo�sa, os afetos de Olga, a delicadeza de Karina, as hist�rias de Mauniz, a habilidade de Francisca e o esmero de Maria de Lourdes.

Ponto a ponto, qualidades e dons passam de m�o em m�o carregando sentimentos, para se unir �s mem�rias de oito mulheres empenhadas em preservar bens culturais e fortalecer tradi��es com pura arte.
 
Em Caet�, na Grande BH, o grupo Bordadeiras-Historiarte mostra que entende do riscado e apresenta seus trabalhos: o livro Caet� em fios e la�adas, retratando 13 monumentos centen�rios, muitos deles surgidos na antiga Vila Nova da Rainha, e os quadros, emoldurados, dos originais bordados durante dois anos.

“A inspira��o vem da vida, passa pelo cora��o, se transforma em sentimentos e se materializa na m�os, sobre o linho, algod�o, enfim, um tecido”, afirma L�da das Gra�as Costa Ferreira, pedagoga aposentada e apaixonada a vida inteira pelo of�cio.
 
No ateli� que mant�m no Centro Hist�rico da cidade, ela re�ne a turma nas tardes de segunda-feira para dedica��o total ao bordado em ponto livre, com um detalhe saboroso: caf� quentinho, suco de frutas, broas e muita prosa entremeiam o traba- lho. “Al�m da preserva��o, queremos, na oficina, despertar a comunidade para a import�ncia do bordado, antes restrito aos enxovais, � intimidade dos casais, e hoje presente em almofadas, toalhas e roupas.”

Tudo come�ou em 2017, ap�s a realiza��o do projeto Bordando o Imagin�rio, no Museu Regional de Caet�, vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) – ali nasceu a proposta de resgatar a identidade hist�rica e cultural da cidade por meio da cria��o de desenhos e novas formas de express�o do bordado.

Na sequ�ncia, L�da abriu as portas do ateli�, onde morou a m�e e “mestre em bordado”, Odete Almeida Costa, para receber amigas e demais interessadas em juntar t�cnica, talento e vontade de aprimorar o ponto livre, dono de um estilo essencialmente decorativo e linha contempor�nea. “Nosso grupo est� crescendo e j� temos mais quatro participantes, que, no entanto, n�o fizeram os bordados referentes ao patrim�nio. Homens s�o bem-vindos, mas ainda n�o apareceram”, conta, com bom humor.

A turma de bordadeiras se reúne nas tardes de segunda-feira em Caeté(foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
A turma de bordadeiras se re�ne nas tardes de segunda-feira em Caet� (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
Os 13 quadros est�o expostos no ateli� e, antes de admir�-los, o visitante deve prestar aten��o na parede, revestida com telhas produzidas na antiga Cer�mica Jo�o Pinheiro, que pertenceu ao ex-governador de Minas Jo�o Pinheiro (1860-1908). L�da se orgulha da decora��o e vai mostrando cada obra ao lado das autoras. Os dela s�o tr�s: o Museu Regional de Caet�, que abriga o Museu de Arte Popular, uma casa constru�da no s�culo 18; o Santu�rio Nossa Senhora da Piedade, no alto da Serra da Piedade; e o Chafariz da Matriz, que fica ao lado da Matriz Nossa Senhora do Bom Sucesso.
 
O bate-papo com as bordadeiras rola solto, rende �timos momentos e ningu�m perde o fio da meada. Afinal, todas sabem de cor e salteado os meandros do of�cio, de grande tradi��o em Caet�. “Estamos fortalecendo o patrim�nio imaterial e preservando o material”, acredita L�da sobre os objetivos do livro, editado com recursos do Fundo Municipal de Cultura (Fumpac).

Durante a solenidade comemorativa dos 306 anos de Caet�, no �ltimo dia 14, diante da Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, Helo�sa Helena Urias Pinto C�ndido ressaltou n�o s� o gosto do grupo pela atividade, como o desejo de valorizar as riquezas da cidade, surgida no Ciclo do Ouro e palco da Guerra dos Emboabas (1707-1709). “Queremos crescer dentro da 'nossa' casa, fazer a arte florescer e dar frutos no munic�pio”, observa a tamb�m pedagoga, casada, m�e de aviador e filha de Jos� Maria Urias, modelador e m�sico.

Considerada pelas colegas como c�lula mater da oficina de bordados, pelo empenho, Helo�sa Helena bordou a Cer�mica Jo�o Pinheiro, fundada em 1894, e a Igreja Nossa Senhora do Bom Sucesso, erguida entre 1752 e 1758.

Dizem que no interior quase todo mundo tem parentesco, e esse grau fica bem claro nos encontros das segundas-feiras. Helo�sa, por exemplo, � filha de Mauniz Profeta Urias Pinto e sobrinha de Maria de Lourdes Val�ria Costa e de Z�lia Maria Urias S�rgio. Av� de um aviador e com muitas hist�rias para recordar, Mauniz gosta de dar asas � imagina��o. Os seus dois quadros, recriando a Pharm�cia Ideal, t�m nuvens sobre o estabelecimento, aberto em 1918, e a esta��o ferrovi�ria. “Quando bordo, fico meio a�rea”, conta, com a experi�ncia de 79 anos e uma fam�lia de tr�s filhos e tr�s netos.
 
Olhando para sua obra, a Capela e Cemit�rio de Nossa Senhora do Ros�rio, “de arquitetura barroca”, a dona de casa Z�lia, de 73, encontra na palavra “amor” a melhor de todas para descrever a voca��o do grupo para o bordado. “Esta oficina funciona como terapia, na verdade, arteterapia”. Ao lado, a ca�ula da turma, Karina Aparecida Gomes, de 37, formada em gest�o ambiental, tem a certeza de que o bordado resulta de t�cnica, gosto e vontade, al�m de ser �tima companhia. Das m�os dela brotaram o Chafariz da Cadeia Velha, de 1800, e o Pelourinho do Poder, de 1772.

Trazendo a experi�ncia de quem foi aluna da mestra em bainha aberta Maria Xavier, falecida h� sete anos e famosa pelos bordados aprendidos com a m�e, dona Lica, do distrito de Morro Vermelho, Olga Coelho Ferreira Marques acrescenta ao curr�culo os ensinamentos passados pela av� e as tias. No livro, puxou os fios do novelo para dar forma � Casa Jo�o Pinheiro – Solar do Tinoco, im�vel que pertenceu ao Bar�o de Cocais e guardi�o da mem�ria da fam�lia Pinheiro.

Tamb�m com a arte no sangue, Francisca Paulina Figueiredo conta que ficou 28 anos fora de Caet� e, teve, na oficina, um aconchegante retorno � sua hist�ria. O quadro que “bordou” � Capela Santa Fructuosa, constru�da de taipa e adobes no fim do s�culo 18 ou princ�pios do 19. J� Maria de Lourdes Val�ria Costa, com alegria pela voca��o de bordadeira, se inspirou na Igreja S�o Francisco de Assis para deixar seu nome gravado na hist�ria de Caet�.

A capa do livro foi feita pelas bordadeiras a ‘16 m�os’ e traz o mapa de Minas com cinco dos monumentos mostrados. O cuidado � tanto que, at� na apresenta��o e nos textos, a caneta foi substitu�da pela agulha e pela linha, assim como nos contornos do mapa do Centro de Caet�.

“Aqui � muito democr�tico, tudo � conversado e escolhido pelo grupo. Para comprar o material, n�s nos cotizamos”, conta L�da, que teve apoio, no ateli�, da filha Raquel Coelho Ferreira, tamb�m encarregada da diagrama��o e das fotografias da obra.

Caet� em fios e la�adas
Grupo de Bordadeiras Historiarte
R$ 35
� venda no ateli� do grupo, que fica na Avenida Dr. Jo�o Pinheiro, 745, Centro, Caet�. Pedidos pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (31) 98890-1366.



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