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Estado de Minas

Nova revista liter�ria chega ao mercado com diversidade de autores e indigna��o

Olympio re�ne o l�der ind�gena Ailton Krenak e outras vozes contundentes em um n�mero pautado pela indigna��o e pela discuss�o do papel da literatura no ''entardecer de sombras'' do pa�s


postado em 07/02/2020 06:00 / atualizado em 07/02/2020 11:39

Fotoperformance de 2015 da artista mineira Sara Não Tem Nome no ensaio Você eu nós, com curadoria de Patrícia Azevedo: %u201CCenas que se mostram pacíficas, mas que não escondem um debate em suspensão%u201D(foto: Reprodução)
Fotoperformance de 2015 da artista mineira Sara N�o Tem Nome no ensaio Voc� eu n�s, com curadoria de Patr�cia Azevedo: %u201CCenas que se mostram pac�ficas, mas que n�o escondem um debate em suspens�o%u201D (foto: Reprodu��o)

Esfor�o, esmero e inven��o se encontram novamente na Olympio, a classuda revista mineira que re�ne contos, poesias, perfis, mem�rias e outros g�neros liter�rios, al�m de ensaios visuais, em um s� volume. O n�mero 2 vem com um ingrediente a mais: a indigna��o. “Para onde estamos indo nesta marcha desenfreada rumo ao passado e ao atraso?”, pergunta o editorial da revista, que tamb�m provoca: “Para que serve a literatura neste entardecer de sombras?”. A resposta, ainda segundo o editorial, “n�o � ran�osa, nem melanc�lica, nem tampouco desesperadora. Ao contr�rio, respiramos aqui a alegria e a confian�a de pensar com liberdade, de escrever com liberdade.”

Em que pese a relev�ncia de contar com a colabora��o de nomes como o cineasta gal�s Peter Greenaway e o escritor argentino C�sar Aira, chama a aten��o na Olympio 2  a pot�ncia obtida a partir da reuni�o de vozes brasileiras de diferentes origens. Todas t�m alguma coisa a dizer. Urgentemente. Tal urg�ncia se reflete na escolha do l�der ind�gena Ailton Krenak para o depoimento que abre a publica��o da Tl�n Edi��es e Miguilin.

“Enquanto o homem estiver observando a vida de fora, ele est� condenado a uma esp�cie de eros�o”, alerta Krenak, autor de um dos best- sellers de 2019: Ideias para adiar o fim do mundo (Companhia das Letras), 30 mil exemplares vendidos. Uma das reflex�es de Krenak ganha maior relev�ncia depois das enchentes que alagaram e devastaram Belo Horizonte nas �ltimas semanas: “O c�u, apesar de parecer leve, � muito pesado; ele pode cair e rachar a terra.” 
Idealizadora e uma das editoras da revista, a escritora Maria Esther Maciel explica a decis�o de destacar o depoimento do l�der ind�gena: “Num contexto de destrui��es desenfreadas, vide os desmatamentos, as queimadas, as rupturas de barragens em Mariana e Brumadinho, a dizima��o de comunidades ind�genas em diversos lugares, o exterm�nio de esp�cies animais e vegetais, creio que a escolha de Ailton Krenak se justifica plenamente, por ser ele uma das principais vozes nativas a se posicionar de maneira consistente, contundente e original diante do agora do Brasil e do mundo”.

Krenak em Belo Horizonte

Krenak � um dos convidados para o lan�amento neste s�bado, na Livraria da Rua, a partir do meio-dia, com a presen�a dos quatro editores: Esther Maciel, Jos� Eduardo Gon�alves, Julio Abreu e Maur�cio Meirelles. Tamb�m ser� relan�ado o primeiro n�mero, de 2018, agora com nova identidade visual.

Al�m de Krenak, a contund�ncia est� representada na revista por um trecho das mem�rias do poeta Ricardo Aleixo (Cruz e Sousa & o lugar do negro), pela representa��o das di�sporas contempor�neas, na vis�o do angolano Kalaf Epalanga, e pelo resgate do poeta Ad�o Ventura (1939-2004), apresentado pelo escritor Carlos Herculano Lopes, e autor dos seguintes versos: “Para um negro/ A cor da pele � uma sombra/ Muitas vezes mais forte que um soco/ Para um negro/ A cor da pele/ � uma faca/ Que atinge/ Muito mais em cheio/ O cora��o”. 

As 280 p�ginas do n�mero 2 da Olympio, contudo, comportam express�es art�sticas que v�o al�m da indigna��o. A (re) descoberta dos versos “anf�bios” da manauara Astrid Cabral, os �timos contos de Gustavo Pacheco, Jos� Eduardo Gon�alves e Evando Nascimento (este �ltimo, com apresenta��o de S�rgio Sant’anna), o resgate de valiosos escritos de Octavio de Faria e M�rio Peixoto,  a terna reconstitui��o da inf�ncia em Araraquara (SP) do diretor teatral Z� Celso Martinez Corr�a pelas lembran�as do amigo Ign�cio de Loyola Brand�o... “N�o h� o que n�o haja”, como professa o lema da revista.  

Convite a colaboradores

“Sem abrir m�o da imagina��o e dos sentidos, a Olympio vem tentando exercitar, de maneira expl�cita, a diversidade de autores e olhares sobre o pa�s e o mundo contempor�neo. Convidamos colaboradores de diferentes gera��es, estilos e proced�ncias sociais, �tnicas e geogr�ficas”, destaca Maria Esther. 

Para Jos� Eduardo Gon�alves, “a cultura est� no epicentro de uma guerra ideol�gica e muitas conquistas da sociedade civil est�o em risco. Portanto, uma revista liter�ria n�o pode ignorar o triste e alarmante horizonte de sombras. A revista precisa apontar para esta escurid�o e dizer que a cultura n�o vai esconder ou se acovardar”, defende o editor, que resume o posicionamento da Olympio: “Uma revista de literatura e arte tem a obriga��o �tica de se insurgir contra essa onda retr�grada.”

Ou, nas palavras escolhidas para a conclus�o do editorial: “N�s ficaremos ao lado dos que resistem. Na floresta, no teatro, nos livros. Na cultura, que a tudo atravessa. Na vida, que nos espanta todos os dias.”

(foto: Reprodução)
(foto: Reprodu��o)

Olympio – Literatura e arte
Lan�amento do n�mero 2 da revista e relan�amento do n�mero 1, com os editores e Ailton Krenak. Editoras Tl�n e Miguilim, 280 p�ginas. R$ 54 cada exemplar. S�bado, 8 de fevereiro, a partir do meio-dia. Livraria da Rua – R. Ant�nio de Albuquerque, 913, Savassi, Belo Horizonte. A revista pode ser encontrada tamb�m em BH nas livrarias Ouvidor, Quixote, Scriptum, Leitura, Canto do Livro e Usina das Letras.

Artigo

Gera��es em revista

Jos� Eduardo Gon�alves *

A tradi��o liter�ria � forte em Minas, especialmente em Belo Horizonte. A cidade mal havia nascido e j� em 1901 e 1902 registra a exist�ncia, ainda que breve, das revistas Minas Art�stica e Horus, respectivamente. Como bem disse o historiador e economista Jo�o Ant�nio de Paula, em seu livro Livraria Amadeu (Editora Conceito, 2006), as gera��es liter�rias de Belo Horizonte criaram revistas que, de certo modo, tentavam expressar refer�ncias culturais, est�ticas e mesmo pol�ticas de seus autores. 

A gera��o modernista criou A Revista, que teve tr�s n�meros entre 1925 e 1926, tendo Carlos Drummond de Andrade como um de seus diretores, o poeta Em�lio Moura como redator e Pedro Nava como colaborador. Foi uma revista ousada e disposta � expe- rimenta��o. Como rea��o a este grupo modernista, em 1929, surgiu o suplemento Leite Cri�lo, que circulou como encarte de O Estado de Minas.  

Em 1946, surgiu a revista Edif�cio, que reuniu a gera��o de Francisco Iglesias, S�bato Magaldi e Autran Dourado, entre tantos outros. Essa gera��o, que reunia n�o s� escritores, mas tamb�m jornalistas e professores, distinguiu-se da anterior por um “engajamento mais expl�cito e militante”, como diz Jo�o Ant�nio. Um ano depois, H�lio Pellegrino criou a revista Nenhum, que n�o passou do primeiro n�mero. Nos anos 1950, surgiram as revistas Voca��o, Tend�ncia e Complemento. Esta gera��o Complemento, segundo o professor Wander de Melo Miranda, � a primeira que vai romper “radicalmente” com o tradicional que dominava a cidade nos campos da cultura, do comportamento e da pol�tica.

 Os anos 1960 viram surgir a revista Est�ria, que durou seis edi��es. A d�cada de 1970 registrou um forte movimento de resist�ncia, com o aparecimento (e quase sempre o precoce fechamento) das revistas Bel’Contos, Sil�ncio, Circus e In�ditos. De l� pra c�, a cena editorial liter�ria minguou (a revista Palavra, editada entre 1999 e 2000, era dedicada � cultura em geral). A se destacar apenas a respeit�vel continuidade, at� os dias de hoje, do Suplemento Liter�rio de Minas Gerais, fundado por Murilo Rubi�o, em 1966. Como se v�, j� se passaram alguns anos. Neste sentido, o escritor Silviano Santiago j� disse, sobre a Olympio, que “esse trabalho editorial, quase in�dito em termos das �ltimas d�cadas, garante o retorno de Minas ao mapa liter�rio contempor�neo”. Eu diria que h� uma nova gera��o que se apresenta para dar o seu recado.

* Jornalista, editor e escritor. Foi editor da revista Palavra

Ilustração de Denilson Baniwa para o depoimento de Ailton Krenak(foto: Reprodução)
Ilustra��o de Denilson Baniwa para o depoimento de Ailton Krenak (foto: Reprodu��o)

Poemas


Anivers�rio
Nicolas Behr

esperando, desde cedo,
aquele telefonema
que n�o vir�

do amigo profundo,
desconhecido, talvez morto,
talvez nem nascido ainda

no orelh�o
o fio pendurado
balan�a

• • •

Enredo
Tha�s Guimar�es

A voz � uma aranha que se enrola
num fio longo e invis�vel que nos toca
espera as moscas mortas
por seu veneno �cido
se torna uma lagarta peluda
solta gosma e raiva silenciosa
A voz fina corta
a ponta de um bisturi
As m�os se tornam patas
Opera-se a metamorfose
A aranha rasga a fr�gil teia
se enrosca na pr�pria cabeleira
A lagarta transmuda-se
em bruxa que vagueia
Os insetos tensos
respiram antes do ataque:
salto na loucura
voo no escuro
Os insetos 
caem

• • •

Passar�s
Astrid Cabral

Entre folhas secas ou verdes
canta ao balc�o da janela
um p�ssaro estrangeiro.

Tal o olhasse sem enxerg�-lo
conhe�o-lhe o passar�s
sem jamais decifrar-lhe a voz.

N�o � de hoje que me aflige
essa terr�vel surdez
a vedar-me sua msensagem.

C�us, s�o tantas as linguagens
que sempre me deixam � margem
cega ao que p�ssaros sabem.



Trechos

• Ailton Krenak
“Ecologia n�o � voc� adaptar a natureza ao seu gosto. � voc� estar dentro do gosto da natureza.”

“N�o creio que as cidades possam ser sustent�veis. As cidades nasceram inspiradas nas fortalezas antigas que tinham a fun��o de proteger a comunidade humana das intemp�ries, dos ataques das feras, das guerras. Em tempos de paz elas v�o ficando mais perme�veis, mas chamar de ‘sustent�vel’ um lugar que confina milh�es de pessoas � uma licen�a meio exagerada. Algumas cidades s�o verdadeiras armadilhas; se acabar o suprimento de energia morre todo mundo l�.”

“Nossa hist�ria est� entrela�ada com a hist�ria do mundo. Mas o pa�s despreza essa hist�ria (…). Um desprezo t�o grande que fica descartada a possibilidade de uma reconcilia��o da nossa ideia de povo e de pa�s como territ�rio.” 

• Ign�cio de Loyola Brand�o
Z� Celso, que nunca ser� feio

“�ramos unha e carne. Eu seguia, silente e fascinado, o Z�, como sigo at� hoje, sua divina loucura, irracionalidade, arrojo, briga, facilidade verbal, aud�cia, o mundo maravilhoso que criou, cria, vai criar, sua capacidade de analisar globalmente, de visualizar cenas, de colocar o mundo e o Brasil sob uma perspectiva t�o l�cida, mas t�o l�cida que, muitas vezes, fica a falar sozinho num mundo uniforme, globalizado, fodido, chato, dominado pela gan�ncia, dinheiro, assepsia, populariza��o. Fico deslumbrado com a sua aus�ncia de medo, eu que tenho medo de tudo.”

• Ricardo Aleixo
Cruz e Souza & o lugar do negro

“� �bvio que Cruz e Sousa � negro. E � poeta. E se sabia negro, com toda a ambival�ncia que a palavra ainda hoje comporta. S� nessa medida pode ser considerado um 'poeta negro', ou um 'negro poeta', tanto faz. Importa � ler a sua poesia, separar nela o que � mera exibi��o virtuos�stica de um simbolista ainda preso, no plano formal, � est�tica parnasiana, e o que resiste a um cotejo com, por exemplo, as obras do maranhense Maranh�o Sobrinho (1879-1916) e do baiano Pedro Kilkerry (1885-1917), para nos restringirmos ao contexto do simbolismo brasileiro, em sua 'face mallarmaica' (Haroldo de Campos). O resto n�o importa.”


Entrevistas com os editores

Maria Esther Maciel
(escritora e idealizadora da Olympio) 

Quais as principais diferen�as entre o primeiro e segundo n�meros da revista? 
Os princ�pios que norteiam os dois n�meros s�o os mesmos: a transversalidade, a pluralidade e a diversidade. Mas o volume de textos aumentou no segundo n�mero e o projeto visual foi totalmente reformulado.  Com a parceria feita com a Editora Miguilim, o Est�dio Guayabo passou a atuar como nossa equipe de design e reformulou todo o trabalho gr�fico. Agora temos uma revista em novo formato, com recursos visuais mais ousados. O primeiro n�mero, que estava esgotado, tamb�m mereceu uma reformata��o e est� sendo relan�ado com nova roupagem.

Por que o editorial afirma que a nova edi��o est� “carregada de indigna��o”? E o que � poss�vel fazer com esta indigna��o?
Diante do cen�rio catastr�fico do Brasil atual, n�o h� como n�o nos indignarmos. Cultura, educa��o, meio ambiente, direitos humanos, tudo est� sendo desmantelado por esse governo retr�grado, perverso e irrespons�vel. Buscamos trazer para este segundo n�mero da Olympio reflex�es, depoimentos, imagens, cria��es po�ticas e ficcionais que se ofere�am como contrapontos a esse cen�rio.  Tanto que o “personagem” principal da edi��o � o l�der ind�gena Ailton Krenak, com suas ideias instigantes sobre como “adiar o fim do mundo”, sua sensibilidade social e ecol�gica, seu olhar cr�tico sobre o que tem acontecido no nosso pa�s. Buscamos transformar a indigna��o em arte, poesia, pensamentos n�o ortodoxos, de forma a fazer frente, via sensibilidade e reflex�o cr�tica, a este momento desalentador em que vivemos.


Julio Abreu
(designer)

Como se chegou � linguagem gr�fica do segundo volume e � unidade com o n�mero um?
A Olympio � uma revista independente, dirigida pelos quatro editores e financiada com recursos pr�prios, mas que s� consegue se viabilizar, efetivamente, com o aporte de parcerias fundamentais. A primeira edi��o contou com o apoio da Editora Aut�ntica. Agora, a segunda edi��o s� foi poss�vel com a entrada das editoras Tl�n e Miguilim, em associa��o que pretende ser defi- nitiva. Foi o editor da Miguilim, Alexandre Machado, quem defendeu a ideia de um novo conceito de design e nos provocou a reformular o projeto gr�fico. A proposta apresentada pelo Est�dio Guayabo nos agradou bastante, de forma que n�o s� a adotamos como decidimos aplic�-la na reedi��o da Olympio 1, que estava esgotada.  Com isso, n�s temos agora uma unidade visual entre as duas edi��es. � com esta cara que a revista vai seguir adiante.

Como se chegou � imagem da capa? O que ela representa?
Diferentemente da Olympio 1, em que a imagem da capa foi retirada do ensaio visual do Eust�quio Neves publicado na revista, a Olympio 2 traz na capa uma imagem que n�o se desloca de nenhum conte�do. A imagem da capa tem essa autonomia, quer�amos que desse conta da diversidade de textos que comp�em a revista, por isso uma imagem aut�noma e mais conceitual. Acreditamos que foi um bom achado. Trata-se de um trabalho de Nydia Negromonte, B�ssola, um objeto de bronze: uma faca fincada num chuchu. A b�ssola determina uma dire��o, uma orienta��o, que nos coloca quest�es ligadas � espacialidade. Mas por sua forma, evoca tamb�m o rel�gio de sol de jardim, inserindo-o ent�o numa dimens�o temporal. Dessa maneira, o objeto torna-se uma s�ntese espa�o-temporal. E responde bem ao que o leitor encontrar� neste n�mero.



Maur�cio Meirelles
(arquiteto e escritor)

O que mais o impressionou no depoimento de Ailton Krenak?
Ailton Krenak � um pensador – n�o apenas da cultura ind�gena e de seus modos de ser e de estar no mundo, mas um pensador que transita pela tradi��o do pensamento ocidental em �reas como antropologia, etnologia, filosofia. Ele � um xam� cultural, j� que tem a habilidade de cruzar as fronteiras entre os universos “ind�gena” e “n�o ind�gena”, por assim dizer, administrando as conflituosas rela��es entre eles. Essa caracter�stica est� presente em sua fala, inclusive, j� que Ailton usa o pronome “n�s” para se referir ao coletivo humano, de uma maneira ampla, ou especificamente ao grupo humano dos ind�genas, dependendo do contexto em que ele se coloca. Ailton Krenak � tamb�m um escritor. Mas, em vez de escrever os textos, ele os elabora de maneira oral, seguindo a tradi��o de seus antepassados. Ele tece poeticamente as hist�rias e organiza suas ideias � medida que fala. Ou seja, � um processo de escrita em que a presen�a do outro � fundamental. 

Como foi o trabalho de recupera��o de uma importante passagem da biografia de Ailton Krenak na Assembleia Nacional Constituinte? O que h� de revelador no epis�dio?
A atualidade da manifesta��o que Ailton Krenak fez ao Congresso Nacional, em 1987, evidencia a perman�ncia e a import�ncia das quest�es levantadas por ele durante a Constituinte: o direito dos povos origin�rios ao territ�rio que j� ocupavam milhares de anos antes da chegada dos primeiros europeus a esse lugar, que, s� ent�o, passou a se chamar Brasil. A a��o de Ailton foi fundamental para a inclus�o, na Carta de 1988, dos dispositivos que asseguram aos ind�genas direitos legais n�o apenas �s suas terras, mas tamb�m � sua autodetermina��o. Direitos constitucionais que v�m sendo sistem�tica e intencionalmente desrespeitados pelo governo federal – a quem cumpre proteg�-los. Naquela performance em que Ailton, vestindo um terno branco – ele tinha sido impedido de entrar no plen�rio com a roupa casual que usava –, pinta o rosto com a pasta de jenipapo, assistimos ao nascimento simb�lico n�o apenas de um dos principais l�deres e ativistas ind�genas do pa�s, mas tamb�m de um artista. Usando seu corpo como territ�rio de a��o biopol�tica, Ailton Krenak antecipa, j� em 1987, algumas das preocupa��es centrais da arte contempor�nea.


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