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Estado de Minas

Filme sobre a rotina dos entregadores de aplicativos estreia no Brasil

'Voc� n�o estava aqui', de Ken Loach, emocionou o Festival de Cannes com seu olhar sobre os impactos nas fam�lias das mudan�as no mundo do trabalho


postado em 27/02/2020 04:00 / atualizado em 26/02/2020 19:25

Cena de 'Você não estava aqui', de Ken Loach (foto: Vitrine Filmes/Divulgação)
Cena de 'Voc� n�o estava aqui', de Ken Loach (foto: Vitrine Filmes/Divulga��o)
Quando terminou a filmagem de Eu, Daniel Blake (2016), o cineasta Ken Loach, de 83 anos, acreditava que seria seu �ltimo trabalho. Seria o encerramento de uma rigorosa carreira, marcada essencialmente pela cr�tica social e simpatia pelos desvalidos.
 
Mas, durante a pesquisa realizada para esse longa, ele e seu fiel roteirista Paul Laverty enveredaram por um ramo obscuro da sociedade: o da selva do livre mercado, em que as pessoas ganham por trabalho executado, geralmente como motoristas de aplicativos ou entregadores de mercadorias. Nascia ali a ideia para Voc� n�o estava aqui, filme que causou como��o no Festival de Cannes e estreia nesta quinta-feira (27) no Brasil. 

O longa acompanha Abbie e Ricky, casal apaixonado e esperan�oso de que o trabalho independente possa resolver seus problemas financeiros – ap�s a crise financeira mundial de 2008, eles sofrem a amea�a de perder a casa, que est� hipotecada. Ricky, ent�o, compra uma pequena van para trabalhar como motorista de entregas, crente que vai faturar um bom dinheiro.
 
O que ele n�o imagina � entrar em um sistema que exige longas jornadas, quase sem descanso (� obrigado a urinar em uma garrafa) e sem nenhuma garantia social. A rotina � t�o alucinante que s� consegue falar com os filhos por telefone. "Se ficar doente ou tiver um problema familiar, n�o recebe nada", comenta Loach, em entrevista realizada na manh� da �ltima ter�a-feira (25), por telefone. "� um novo tipo de explora��o, a chamada gig economy, que nos incentivou a rodar Voc� n�o estava aqui."

Segundo o Dicion�rio Cambridge, "gig economy � uma forma de trabalho baseada em pessoas que t�m empregos tempor�rios ou fazem atividades de trabalho freelancer, pagas separadamente, em vez de trabalhar para um empregador fixo". Ou seja, o vil�o n�o � mais uma institui��o ou um governo, mas os algoritmos que aceleram o trabalho dos entregadores, a fim de oferecer conforto e rapidez a quem paga pelo servi�o. Sobre o assunto, Loach respondeu �s quest�es a seguir.

O que o levou a colocar a gig economy como tema central do filme?

Quando film�vamos Eu, Daniel Blake, percebemos, (o roteirista) Paul (Laverty) e eu, que havia uma extens�o da forma de atividade dos trabalhadores pobres, ou seja, com a degrada��o social, muitos foram obrigados a trocar a seguran�a de um emprego com hor�rio regular, f�rias, seguro- sa�de e outras vantagens por uma atividade sem nenhuma seguran�a e tampouco garantia de estabilidade financeira. Isso provocava um estresse que essas pessoas levavam para casa, agravando ainda mais a situa��o, porque, em p�blico, mant�m-se uma postura; uma vez em casa, a pessoa entra em colapso total, n�o � flex�vel com a fam�lia.

O senhor diria que esse � um problema novo, ou seria algum antigo, mas com nova fei��o?

O problema � antigo, mas ganha nova fei��o por ser provocado pela tecnologia moderna. A explora��o ganhou novos meios no momento em que a tecnologia permitiu, por meio de aparelhos celulares, que o comprador de algum produto saiba onde exatamente est� o carro do entregador e quando exatamente sua compra vai chegar. Assim, o entregador tem de correr s�rios riscos para cumprir com o prometido. A explora��o � antiga, apenas a tecnologia � nova.
Foi preciso fazer muita pesquisa para o filme?

Paul (Laverty) fez a maior parte da pesquisa, depois que conhecemos algumas pessoas. N�o foi f�cil, pois, por temor, os motoristas n�o queriam falar para n�o arriscar seu emprego. Tamb�m n�o foi f�cil visitar os dep�sitos, mas tivemos a sorte de conhecer um homem que era gerente de um dep�sito e que nos deu conselhos valiosos sobre como construir o nosso dep�sito. Conseguimos contratar ex-motoristas, que aparecem no filme e sabiam exatamente como funcionava a rotina estressante e as press�es que seus colegas ainda passam.

Isso foi o que mais o impressionou nessa pesquisa?

Sim, descobrimos pessoas vivendo situa��es muito complicadas. � surpreendente a quantidade de horas que esses trabalhadores precisam empregar para garantir uma vida decente, ainda que sob muita inseguran�a. Pense bem, o risco � inteiramente deles, porque trabalham por conta pr�pria. Qualquer um pode perder muito dinheiro rapidamente.

O senhor acredita que o cinema, de alguma forma, possa ajudar a mudar os problemas?

Sou um contador de hist�rias muito pr�ximas das pessoas. Acredito que o cinema tem a for�a de dar destaque a determinados problemas e provocar questionamentos. Diferentemente do que normalmente ocorree Hol- lywood – l�, vemos belas pessoas que viajam, frequentam restaurantes sofisticados, mas n�o sabemos de onde tiram dinheiro para isso (risos). � um mundo de sonhos, mas prefiro longas que compartilham responsabilidades com o p�blico.

E o que dizer do Brexit?

O acordo com a Uni�o Europeia era especialmente econ�mico. Com a separa��o, os trabalhadores do Reino Unido ser�o mais explorados dentro do pr�prio Reino Unido, com a ajuda do primeiro-ministro (Boris Johnson). (Ag�ncia Estado)




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