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Estado de Minas MERCADO EDITORIAL

Colapso � vista para a ind�stria do livro no Brasi

Queda das vendas praticamente paralisou o setor. Editoras adiam lan�amentos, cortam tiragens e reivindicam medidas de apoio do governo


postado em 02/05/2020 04:00 / atualizado em 01/05/2020 20:48



O que � essencial nesta quarentena? Em Montevid�u, Uruguai, nas cestas b�sicas distribu�das para pessoas em situa��o social vulner�vel havia livros infantis, juvenis e tamb�m de autores como J�lio Verne e Aldous Huxley. Na It�lia e na Espanha, as bancas de jornais permaneceram abertas durante o per�odo mais cr�tico da pandemia de coronav�rus. Em alguns pa�ses da Europa, as livrarias j� come�am a ser reabertas.
 
“Durante uma crise, o livro � visto por parte da popula��o como sup�rfluo. S� que ele � muito mais do que um produto. Neste momento, o conhecimento e a educa��o s�o essenciais”, comenta o economista Henrique Farinha, fundador da Editora �vora.
A crise econ�mica, acirrada no pa�s com o fechamento do com�rcio durante o per�odo de isolamento social, faz v�timas em todos os setores. O meio editorial, por suas especificidades, vem sofrendo ainda mais.
 
O Projeto de lei 2.148/2020, apresentado pelo senador Jean Paul Prates (PT/RN), tenta alterar a Pol�tica Nacional do Livro (Lei 10.753/2003) para ajudar as micros, pequenas e m�dias empresas. O dispositivo prev� que institui��es financeiras e ag�ncias p�blicas de fomento abram linhas de cr�dito para empresas, refinanciem empr�stimos j� existentes e flexibilizem requisitos de an�lise de cr�dito, entre outras alternativas de socorro.
 

"Em vez de 10 t�tulos, lan�amos dois"

Rejane Dias, s�cia do Grupo Aut�ntica

 
 
O PL veio na sequ�ncia de pedidos que editores e entidades do setor apresentaram ao Minist�rio da Economia e ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES). “O car�ter de emerg�ncia faz com que projetos de lei como esse tenham andamento eventualmente mais r�pido”, afirma Henrique Farinha. N�o poder� ser de outra forma, ele completa, “pois n�o adianta dar rem�dio para o paciente quando ele est� na UTI, entubado.”
 
As especificidades do meio editorial (livrarias, editoras e distribuidoras de livros)  o colocam numa situa��o alarmante em compara��o a outros segmentos de consumo. “Uma das caracter�sticas importantes do livro � que voc� n�o tem concorr�ncia estabelecida. Quando lan�o um romance ou um livro de poesia, com o que ele vai concorrer? �, ainda, um mercado que tem muito mais itens do que o de alimentos, por exemplo. Um hipermercado tem at� 60 mil itens. Uma livraria pequena pode ter 100 mil t�tulos”, comenta Farinha.
 
E tamb�m h� o aspecto financeiro. “Nesse mercado, habitualmente, trabalha-se com consigna��o (� exce��o de livros did�ticos). O editor necessita de capital de giro muito grande, pois tem que pagar toda a produ��o do livro, fabricar xis exemplares para colocar no mercado sem receber e nem saber quando isso vai acontecer. No setor aliment�cio, voc� vendeu e faturou, mesmo que seja em 21, 28 dias. O editor n�o tem a seguran�a de que o livro vai vender”, explica.
 

"2020 j� acabou" Nathan Matos, s�cio da Editora Moinhos

 

ADIAMENTO Exemplos do estrago causado pela pandemia n�o faltam. Uma das maiores e mais prestigiosas editoras brasileiras, a Companhia das Letras, adiou todos os lan�amentos liter�rios previstos para abril. Se nas grandes est� assim, nas pequenas a situa��o � pior. Fundador da belo-horizontina Moinhos, que completa quatro anos em maio, Nathan Matos afirma que “2020 j� acabou” para ele.
 
“Pedido de livraria n�o tenho nenhum. Mesmo que consiga manter neg�cios no site, a venda caiu uns 90%.” Dessa maneira, ele adiou os lan�amentos deste semestre para o pr�ximo. Os t�tulos previstos para sair a partir de julho dever�o ser publicados somente em 2021.
 
“Quando as coisas voltarem, haver� uma enxurrada de publica��es, ent�o n�o vai valer a pena lan�ar tudo. Estamos analisando, cortando tiragens pela metade, fazendo lan�amentos quase que sob demanda”, afirma Matos.
 

"N�o h� como competir com a Amazon" Pedro Fonseca, s�cio da Editora �yin�

 
 
Um dos s�cios da �yin�, que tem uma sede em Belo Horizonte e outra em Veneza, na It�lia, Pedro Fonseca acredita que o e-commerce n�o resolve o problema. “Nunca investimos em venda on-line porque somos contra editora fazer venda direta. Estamos realizando, durante esse per�odo, a venda no site, mas � muito pouco. Esse n�o � nosso foco, pois n�o h� como competir com a Amazon.”
 
No Dia Mundial do Livro (23 de abril), t�tulos da empresa – A pol�tica do imposs�vel, de Stig Dagerman, e Contra as elei��es, de David van Reybrouck – estavam sendo vendidos na gigante do e-commerce com desconto de 80%, informa Fonseca. “As editoras t�m de entender que a Amazon n�o pode continuar dando o desconto que quer, ou vai matar o mercado brasileiro. Na Fran�a, por exemplo, o desconto s� pode ser de 5%.”

ARTICULA��O Vice-presidente da C�mara Mineira do Livro (CML), que tem 60 empresas associadas (entre livrarias, editoras e distribuidoras), Leida Reis comenta que h� um movimento do meio editorial do estado para tentar diminuir a sangria. “Todas est�o vendendo muito pouco. O com�rcio on-line representa 20%, 30% do que elas venderiam com as portas abertas. As editoras adiaram lan�amentos, e � no lan�amento que voc� gira o seu capital. Eventos, que movimentam bastante, foram adiados. N�o houve a Flipo�os em abril, a Bienal foi transferida para setembro.”
A CML pediu ajuda aos governos de BH e de Minas. “Enviamos of�cios solicitando cr�ditos para livrarias, editoras e distribuidoras. H� tamb�m uma quest�o pontual. A Secretaria Municipal de Educa��o de Belo Horizonte tem o kit liter�rio e o kit afro, com livros distribu�dos nas escolas municipais. S�o entre 2 mil e 3 mil exemplares de cada t�tulo escolhido. A �ltima compra ocorreu em 2017. Houve novo edital, em janeiro, cujo resultado estava previsto para o meio deste ano. Solicitamos que ele seja antecipado para que as compras ocorram ainda neste semestre. Seria uma forma de capitalizar as editoras.”
 
Em meio a todas essas quest�es, h� quem veja novas possibilidades surgidas durante a pandemia. Uma das maiores empresas do setor no estado, o Grupo Editorial Aut�ntica – que conta com quatro editoras e cat�logo de quase 1,5 mil t�tulos ativos – vem registrando pequena queda no per�odo se comparada com o cen�rio geral.
 
“Em mar�o, houve redu��o de venda no varejo s� de 8,2% em rela��o ao mesmo per�odo de 2019. Isso, considerando o fechamento das lojas f�sicas (que funcionaram normalmente na primeira quinzena do m�s). Em abril, a queda total ser� de 15% (em rela��o a abril do ano passado), considerando a agressividade da Amazon, que absorveu a quase  totalidade do mercado on-line”, comenta Rejane Dias, fundadora do grupo.
 
A editora, que at� a pandemia n�o investia em venda pr�pria on-line, passou a realiz�-la. “Sempre escolhemos n�o fazer vendas pelo site para n�o competir com os livreiros. A� voc� come�a a perceber que por mais que se esforce para proteger os livreiros, n�o h� o mesmo esfor�o da parte deles para preservar as editoras. Muitos dos nossos clientes (no caso, livrarias) n�o pagaram o m�s de mar�o, acerto de consigna��o de livros vendidos h� 90 dias. � um anacronismo, pois em fun��o da crise n�o v�o nos pagar por algo que receberam h� meses.”

on-line De acordo com Rejane, ao incentivar a pr�pria loja on-line, a Aut�ntica comercializou “o equivalente a 30 vezes o que vendia em um m�s (na venda virtual)”. A editora prossegue com lan�amentos, mas em outro ritmo. “Em vez de 10 t�tulos, lan�amos dois”, afirma.
 
Para ela, a crise existe e � grande. “S� n�o sou catastr�fica. O mais importante que aconteceu com a gente – n�o s� agora, mas de dois anos para c� – � que escolhemos ficar com o leitor mais profissional, que tem o h�bito de uma leitura regular e consistente. Hoje, vendemos Freud espantosamente bem e estamos ampliando a nossa linha de cl�ssicos. Mesmo quando h� crise, o livro continua fazendo parte da vida desse leitor.”


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