
Desde que a pe�a M�sica para cortar os pulsos, de Rafael Gomes, estreou em 2010, muita coisa pode ter mudado nas formas de se representar o amor. Outras permaneceram iguais. � essa complexidade que o diretor transporta agora para o cinema, em M�sica para morrer de amor, adapta��o escrita e dirigida por ele de seu espet�culo, premiado pela Associa��o Paulista dos Cr�ticos de Arte (APCA) como melhor pe�a jovem. Depois de circular por festivais no ano passado, o longa chega nesta quarta-feira (19) aos servi�os de v�deo sob demanda.
Rafael Gomes afirma que a ponte entre o palco e a tela existe porque a pe�a nunca se encerrou. “A origem, h� 10 anos, funcionou como um intenso laborat�rio, em m�ltiplos sentidos. A pe�a fez mais sucesso do que poder�amos imaginar. Ela durou muito tempo viva, jamais parou de existir. A experi�ncia de troca com diversas plateias, em tr�s anos de apresenta��es, foi nos dando a certeza e o incentivo para retomar constantemente esses assuntos”, argumenta.
''Notamos a car�ncia muito grande de uma dramaturgia brasileira que fale para o p�blico p�s-adolescente, dos 20 e poucos aos 30 anos, sobre vida interior, afetividade, emo��o''
Rafael Gomes, diretor
AFETO
A continuidade passa tamb�m por uma lacuna tem�tica. “Notamos a car�ncia muito grande de uma dramaturgia brasileira que fale para o p�blico p�s-adolescente, dos 20 e poucos aos 30 anos, sobre vida interior, afetividade, emo��o. Poucos filmes se debru�am centralmente sobre esses assuntos, com tudo acontecendo dentro de uma l�gica de sexualidade bem resolvida e fluida”, afirma o cineasta e dramaturgo.Os atores Mayara Constantino e Victor Mendes, nos pap�is de Izabela e Ricardo, acompanham o diretor nessa ponte entre o teatro e o cinema. A forte amizade entre os dois � interrompida quando ela decide morar com o namorado Gabriel (�caro Silva), que parte o cora��o da jovem ao se mudar de cidade e frustrar os planos tanto de casamento quanto de atua��o do casal na pe�a Romeu & Julieta. Surge, ent�o, Felipe (Caio Horowicz), por quem Ricardo se apaixona, mas que acaba se interessando por Isabela.
A melodram�tica teia amorosa, que conta com outros personagens, aborda a diversidade e a complexidade das rela��es afetivas nestes tempos marcados pela media��o das redes sociais e pela fluidez amorosa.
No meio de tudo isso, surge outro elemento fundamental: a m�sica. Al�m da trilha sonora, as cenas contam com a presen�a pontual de Milton Nascimento, Maria Gadu, Tim Bernardes e Clarice Falc�o, entre outros, trazendo can��es visualmente representadas como parte dos di�logos.
A m�sica � o grande elo entre tantos amores. “No teatro, tocava a m�sica, mas havia uma inst�ncia, que era a cita��o como medida de como a m�sica est� presente em nossos imagin�rio e cotidiano. O desafio foi dar corpo a ela na transposi��o para o cinema”, explica Rafael Gomes.
CAN��ES
“A trilha sonora � extensa e presente. Por�m, quer�amos can��es que tocassem n�o s� como trilha, mas aparecessem na hist�ria. Ent�o, personagens dan�am numa festa, dan�am sozinhos, dan�am numa aula de dan�a. Um personagem cruza com a m�sica na rua, conversa sobre ela, escuta m�sica no fone, canta no karaok�. Essa onipresen�a a torna personagem”, observa o diretor.
A ideia encenada nos palcos h� 10 anos foi adaptada para a tela. O diretor e roteirista destaca a adequa��o para di�logos presenciais daquilo que era relatado, num tempo passado, por cada personagem isolado no texto teatral. “Isso d� ao personagem outra consci�ncia. No passado, o racioc�nio j� est� elaborado anteriormente. Na cena do filme, aquilo � quente e se d� no momento, possibilitando a cria��o de conflitos, pois h� a contraposi��o de ideias por um interlocutor.”
O fio central da trama foi mantido. “� um filme sobre pessoas que vivem sob certa fabula��o, pela m�sica acima de tudo, mas n�o s� por ela. H� teatro, literatura e cinema, seja em forma de cita��es ou outros elementos. S�o personagens que preenchem o cotidiano com certa po�tica”, define o diretor.
Depois de o filme passar pelo NEW FEST – Festival de Cinema LGBTQ+ de Nova York e pelo 52º Festival de Bras�lia, ambos em 2019, o plano era estrear em junho de 2020 nas salas comerciais, aproveitando o Dia dos Namorados. Veio a pandemia, e a op��o pelo streaming, depois de entrar em cartaz em drive-ins em algumas capitais, deve-se � preocupa��o com a satura��o do mercado no futuro.
“� muito incerto para todo mundo, especificamente para o neg�cio do cinema. N�o sabemos como e nem quando o cinema voltar� �s salas (de exibi��o). A fila de lan�amentos � gigantesca, muitas dessas salas podem nem reabrir, estranguladas pela crise. Ent�o, tomamos a decis�o de lan�ar o filme no streaming, j� que ele estava pronto”, conclui Rafael Gomes.
M�SICA PARA MORRER DE AMOR
• Filme de Rafael Gomes
• Com Mayara Constantino, Victor Mendes, �caro Silva e Caio Horowicz
• Dispon�vel no Now, Vivo Play e Oi Play
