Fernanda Montenegro alerta sobre 'retrocesso' no Brasil

Fernanda Montenegro sente na pele os efeitos da pandemia e torce pela vacina que salve a humanidade do coronav�rus, mas preferiu deixar esse assunto de lado na entrevista de lan�amento da s�rie Amor e sorte, concedida na quarta-feira (2), via internet. Com 90 anos e 75 de carreira, a atriz optou por chamar a aten��o para a situa��o da cultura no Brasil. “H� uma imbecilidade, um retrocesso gigantesco e tr�gico”, alertou.

�nica brasileira indicada ao Oscar de Melhor Atriz por sua atua��o em Central do Brasil, em 1999, Fernanda diz que a cultura � o caminho do ser humano para a transcend�ncia. “N�o seremos n�s que ficaremos no fundo da terra. N�o seremos mesmo. � s� ter paci�ncia. � um ciclo pelo qual vamos passar. Com maior dificuldade, interfer�ncias, estamos existindo, estamos vivos e atuantes. Fiz um discurso (sobre isso), mas botei minha alma junto”, afirmou.

 

 

 

 

 

Fernanda Montenegro, atriz

 

 

Fernanda Montenegro e a filha, Fernanda Torres, fazem parte do elenco da s�rie dirigida por Jorge Furtado, com quatro epis�dios. Al�m de “Gilda e L�cia” com as duas, que estreia na pr�xima ter�a-feira (8), v�o ao ar “Linha de racioc�nio”, com Ta�s Ara�jo e L�zaro Ramos (dia 15); “Territ�rios”, com Em�lio Dantas e Fabiula Nascimento (dia 22); e “A beleza salvar� o mundo”, com Caio Blat e Luisa Arraes (dia 29 de setembro).

Jorge Furtado define a s�rie como um mutir�o de atores, autores e equipe marcado pela ousadia. Com pouco tempo para execu��o do projeto, o diretor recorreu � m�e e � filha e a casais que pudessem gravar as cenas em sua pr�pria casa, durante o confinamento social.

O argumento de “Gilda e L�cia” come�ou a ser constru�do por Fernanda Torres e Jorge. O time de roteiristas se completou com Chico Mattoso e Ant�nio Prata. “A coincid�ncia desse epis�dio � o fato de ter as duas atrizes e a fam�lia. Ali�s, n�o � uma fam�lia, � uma equipe em quarentena. Tinha c�mera, tinha som, tinha tudo. Foi outra experi�ncia”, revela o diretor.

Fernanda Montenegro trabalhou com Fernanda Torres e o genro, Andrucha Waddington, al�m de netos e parentes que se dividiram em v�rias fun��es no set. “Gilda e L�cia” � uma exce��o, com 25 pessoas no set e nas equipes remotas. Nos outros tr�s epis�dios, os casais se encarregaram de tudo: fotografia, maquiagem, contrarregragem e figurino.

O roteiro passou por v�rias fases. Furtado queria contar a hist�ria da m�e que, para continuar “quarentenando”, esconde da filha a descoberta da vacina. “Uma situa��o dif�cil para levar por todo o epis�dio. O Prata e o Chico vieram com a m�e que foi jovem nos anos 1960 e 1970, �poca em que viver n�o fazia mal. N�o se tratava de uma mulher da terceira idade que n�o podia fazer nada. Era uma pessoa de 90 anos ativa, que gosta de tomar sua caipirinha na praia”, diz Fernanda Torres. “A filha � muito mais careta do que a m�e. Esse conflito d� o caldo para o epis�dio”, conta.

Se na fic��o m�e e filha se desentendem, na vida real as duas atrizes, confinadas na serra fluminense, dividiram alegrias. Fernandona diz que h� anos elas n�o conviviam sob o mesmo teto. “Eu me vi amparada diante de uma mulher que luta pela vida, sabe o que quer, � honesta no que quer, � respons�vel como cidad�, tem uma sensibilidade diversificada muito qualificada. � um ser humano cheio de talento para o que quiser na vida”,  garante. “E � ela. N�o � separada de mim como filha. Est� l�. Isso, para uma m�e, � a comprova��o de que aquele ser humano � livre. Foi isso o que aprendi nesses quatros meses”.

Fernanda Torres diz que estava cercada por dois workaholics: a m�e e o marido, Andrucha Waddington. “Com a pandemia, senti a mam�e projetando no futuro o que isso significava em termos de trabalho. Ao longo desses quatros meses, ela foi acalmando. Foi uma conviv�ncia incr�vel.”

Andrucha desempenhou papel fundamental nesse processo. “Dizem que genro n�o � parente, mas o Andrucha foi muito importante nesses quatro meses. Ele � muito gentil, muito atencioso, muito alegre. Uma figura de liga��o muito importante para a nossa conviv�ncia ser harmoniosa”, elogia Fernanda Torres.

Bem-humorada, Fernandinha comenta que se viu diante de dois desafios. “Andrucha � apavorante, gente! E a mam�e vai na dele. Eles s�o mancomunados”. Para a atriz, em pior situa��o est� Ant�nio Prata, casado com uma jornalista. “Todos os dias, ela volta para casa e lembra a ele o horror que est� a vida a� fora”.

 

Prata tranquiliza Fernanda. Garante que a mulher, J�lia, n�o leva o not�ci�rio para casa. Jorge Furtado comenta que � dif�cil lidar com algumas manchetes da vida real, citando o caso da deputada federal Flordelis, acusada de matar o ex-marido com ajuda dos filhos. “N�o estou conseguindo acompanhar todas as nuances, s�o muitos detalhes”, diz.

“Isso � impens�vel como tema de qualquer coisa”, opinou Fernanda Montenegro. “Uma com�dia boa d�, n�? Cinquenta filhos em um swing... � um porn� evang�lico de terror”, resumiu Jorge Furtado.