
''N�o � cinema, n�o � TV, n�o � performance, mas uma nova linguagem que surgiu e dentro da qual tivemos que criar enquanto ela surgia''
Fernanda Nobre, atriz
Entre todas as atividades art�sticas, o teatro certamente foi uma das mais afetadas pela pandemia do novo coronav�rus. Por sua din�mica necessariamente aglomerativa para o p�blico, somada � intera��o corporal entre atores e atrizes em espa�o fechado, pe�as foram suspensas desde mar�o passado, quando a Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) declarou a pandemia.
Ap�s meses de incertezas, ang�stias, mas tamb�m de cria��o e inspira��o, espet�culos encontram um caminho de transi��o, voltando aos palcos sem a presen�a do p�blico e reencontrando a audi�ncia via internet. � o que prop�em iniciativas como o festival #EmCasaComOSesc, que nesta quarta-feira (7), �s 21h, exibe A desumaniza��o, com Fernanda Nobre e Maria Helena Chira.
Dirigida por Jos� Roberto Jardim, a pe�a � uma adapta��o do livro hom�nimo do escritor portugu�s Valter Hugo M�e, que esteve presente em uma das exibi��es da montagem no ano passado, quando o espet�culo estreou.
Em cena, as duas atrizes fazem uma interpreta��o espelhada da protagonista Halldora, que, depois de deixar sua cidade natal, na Isl�ndia, vive um conflito existencial, atormentada pela morte da irm� g�mea e outras quest�es �ntimas.
As atrizes se apresentam ao vivo, do teatro Sesc Santana, em S�o Paulo, mas sem a plat�ia in loco. “Nosso trabalho � completamente feito na presen�a, mas descobrimos um novo lugar de cria��o com a tecnologia, de pensar dramaturgia, narrativas, em que fosse poss�vel apresentar algo on-line”, diz Fernanda Nobre.
“N�o � cinema, n�o � TV, n�o � performance, mas uma nova linguagem que surgiu e dentro da qual tivemos que criar enquanto ela surgia”, afirma a atriz. Fernanda conta que acompanhou o modo como outras experi�ncias teatrais se adaptaram �s restri��es provocadas pela pandemia.
“A cada semana de isolamento, a linguagem ganhava saltos, for�a. E ela crescia na forma de transmiss�o e na cria��o. Por um lado, conseguimos colocar para fora nossos impulsos art�sticos, nossas ang�stias do isolamento. Ent�o descobrimos uma maneira de fazer pela internet, mas nada se compara com o palco”, afirma.
Para Maria Helena Chira, apresentar-se para o p�blico, mas sem a presen�a dele � algo que tamb�m causa estranheza. Contudo, a atriz entende como uma “transi��o” importante. “A sensa��o dessa transmiss�o ao vivo, sem a refer�ncia do p�blico, que � o grande diferencial do teatro, torna muito forte uma pe�a num teatro vazio, mesmo sabendo que muito mais gente estar� vendo pela internet. � um momento de transi��o importante, para n�o esquecermos do que est� acontecendo. Um momento �nico, que nos d� no��o da nossa responsabilidade como artista e de que uma hora ser� poss�vel voltar a encontrar o p�blico”, afirma.

''Uma coisa � ir para o palco fazer espet�culo, dar risada, bater papo com o p�blico, abra�ar, tirar foto depois da pe�a, � maravilhoso. Agora ficamos nesse isolamento dentro de um quarto, dentro de casa, mas � isso. Pensamos nesse ensaio virtual, cada um na sua casa, e fizemos. Seguimos com a luta, a mudan�a � n�o estar no palco, o que j� � muito diferente''
Teuda Bara, atriz
RETORNO
A sequ�ncia da programa��o do Teatro #EmCasaComSesc, nessa nova fase de retorno dos artistas aos palcos, ainda ter� outro espet�culo ao vivo nesta semana. Na sexta-feira (9), direto do Sesc Ipiranga, tamb�m na capital paulista, ser� transmitido o espet�culo Lugar nenhum, da Companhia do Lat�o.Inspirada na obra do autor russo Anton Tchekhov (1860-1904) e escrita e dirigida por S�rgio de Carvalho, a pe�a prop�e reflex�o atual sobre aspectos que acompanham a sociedade brasileira desde o per�odo colonial, como explora��o do trabalho, racismo e viol�ncia institucional.
Antes desse novo momento nos palcos, o projeto #EmCasaComOSesc apresentou 81 espet�culos virtuais, a maioria mon�logos, com artistas encenando de suas pr�prias casas. Danilo Miranda, diretor do Sesc-SP, destaca que o retorno aos palcos � uma reaproxima��o “de onde a cena acontece em sua forma mais tradicional”, al�m de garantir vantagens de infraestrutura ao espet�culo, como ilumina��o, espa�o e cen�rio adequados, assim como a possibilidade de haver di�logos e intera��o entre artistas, dentro dos protocolos sanit�rios.
“� uma segunda fase, uma fase mais pr�xima da realidade do teatro. Nesse per�odo de pandemia, desde abril, iniciamos apresenta��es e algumas manifesta��es art�sticas, primeiro com m�sica, depois teatro e dan�a, fizemos uma ampla programa��o virtual, que est� no ar, que � nossa maneira de estar em contato com o p�blico realizando nossa perspectiva de trabalho de maneira plena. Estamos satisfeitos, apesar do clima de perda e de luto da pandemia, que � terr�vel, � o pano de fundo para tudo que acontece no momento”, diz Miranda.
O diretor do Sesc tem a perspectiva de uma retomada gradual � normalidade. “Temos muita esperan�a de que ela aconte�a de maneira cada vez mais completa. No palco se resolve mais facilmente que a volta da plateia, para a qual ser� necess�rio mais um tempo”, afirma.
Mesmo nos casos de quem ainda n�o p�de retornar aos palcos, as plataformas virtuais representam uma possibilidade importante de reencontrar a atividade art�stica depois de alguns meses.
A mineira Teuda Bara, uma das fundadoras do Galp�o, � uma das atra��es do Festival Arte como Respiro – Edi��o C�nicas, realizado virtualmente nesta semana pelo Ita� Cultural. A programa��o apresentar� Luta live, vers�o virtual de Luta, pe�a que estreou em 2019.
Trata-se de uma adapta��o do livro Comunista demais para ser chacrete, biografia da atriz publicada em 2016 por Jo�o Santos, que assina o texto da pe�a e a dire��o, ao lado de Cl�o Magalh�es e Marina Viana.
Em Luta live, o trio interage com Teuda em uma transmiss�o virtual, que inclui grava��es da exibi��o da pe�a durante a �ltima Campanha de Populariza��o do Teatro e da Dan�a.
Sob a premissa de que “a luta continua, mesmo que a dist�ncia”, Teuda diz que a proposta foi desafiadora. “Uma coisa � ir para o palco fazer espet�culo, dar risada, bater papo com o p�blico, abra�ar, tirar foto depois da pe�a, � maravilhoso. Agora ficamos nesse isolamento dentro de um quarto, dentro de casa, mas � isso. Pensamos nesse ensaio virtual, cada um na sua casa, e fizemos. Seguimos com a luta, a mudan�a � n�o estar no palco, o que j� � muito diferente.”
Segundo a atriz, “adaptar-se a um quadradinho na tela � muito dif�cil, � um processo criativo que d� um n� na cabe�a. Para o cinema, a c�mara j� est� l�, e o diretor fala o que � preciso fazer. Nesse caso, a luz, o enquadramento, fica tudo por nossa conta”.
''A sensa��o dessa transmiss�o ao vivo, sem a refer�ncia do p�blico, que � o grande diferencial do teatro, torna muito forte uma pe�a num teatro vazio, mesmo sabendo que muito mais gente estar� vendo pela internet''
Maria Helena Chira, atriz

QUATROLOSCINCO REL� SUAS PE�AS
O grupo belo-horizontino Quatroloscinco – Teatro do Comum lan�a nesta quinta-feira (8) o segundo epis�dio do projeto Quatroloscinco em Leitura, no qual os atores da companhia fazem uma releitura, em grava��o de v�deo, de trechos de alguns de seus espet�culos, propondo novos olhares a partir da situa��o do isolamento e da aus�ncia de encontros. A exibi��o ser� no canal do Memorial Minas Vale no YouTube, a partir das 19h30.

S�RGIO CARDOSO FESTEJA 40 ANOS
Para festejar seus 40 anos de funda��o, o Teatro S�rgio Cardoso, localizado no bairro do Bixiga, em S�o Paulo, oferece programa��o gratuita de dan�a, teatro e m�sica, desta sexta-feira (9) at� a pr�xima ter�a, 13 de outubro, data do anivers�rio. O m�sico e poeta Lirinha, acompanhado pelo tamb�m m�sico Jo�o Le�o, neto do ator S�rgio Cardoso, abre a programa��o, que inclui shows de Nando Reis, Bixiga 70, Faf� de Bel�m, al�m de apresenta��o de dois n�meros musicais de Claudia Raia, no dia 13. Tudo poder� ser visto pelo site, no qual a programa��o detalhada tamb�m est� dispon�vel.