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Estado de Minas Dia Internacional da Menina

'Nada me preparou para o �dio que encontrei na internet', diz estrela da s�rie da Netflix Eu Nunca...

Ataques e abusos online fazem pelo menos 1 em cada 5 mulheres parar ou reduzir significativamente seu tempo na rede social onde acontecia mais abusos, afirmam pesquisadores da ONG Plan International.


11/10/2020 06:57 - atualizado 11/10/2020 22:46

Maitreyi Ramakrishnan enfrentou ataques e abusos na internet após estrelar série da Netflix, e agora se tornou porta-voz pelos direitos das jovens mulheres(foto: Getty Images)
Maitreyi Ramakrishnan enfrentou ataques e abusos na internet ap�s estrelar s�rie da Netflix, e agora se tornou porta-voz pelos direitos das jovens mulheres (foto: Getty Images)

Maitreyi Ramakrishnan admite ter precisado de bastante desenvoltura para conseguir lidar com a reviravolta no roteiro de sua vida.

A jovem canadense de 18 anos alcan�ou a fama ao conquistar o papel principal de Eu Nunca…, s�rie de com�dia da Netflix, depois de deixar para tr�s 15 mil concorrentes.

Da noite para o dia, ela passou a ser exaltada como o destaque desta hist�ria de amadurecimento que retrata uma adolescente indo-americana de primeira gera��o. A s�rie se tornou um grande sucesso de p�blico, sendo um dos programas originais mais assistidos na plataforma de streaming em 2020.

Mas se de um lado Ramakrishnan afirma � BBC que transita pela grande maioria dos coment�rios nas redes sociais, de outro ela revela que foi pega totalmente de surpresa por um aspecto da s�bita fama.

"Eu me preparei para a s�rie em si e para coisas como esta entrevista. A �nica coisa para a qual n�o pude me preparar foi para o �dio", diz.

O �dio a que Ramakrishnan se refere s�o os ataques violentos nas redes sociais.

"Eu sabia que isso aconteceria porque � o mundo em que vivemos."

"Voc� sabe o que � um coment�rio nojento ou uma amea�a de morte… Mas � diferente quando isso acontece de verdade."

A atriz canadense afirma que ter recorrido a afastamento tempor�rios de suas contas de rede social quando se sentiu oprimida por experi�ncias negativas.

"Eu me garanto de que todas as minhas contas de rede social sejam operadas por mim, pois quero ser minha voz aut�ntica", explica. "Mas �s vezes tenho feito pausas e me distanciado."

'Maioria das mulheres atacadas online'

Infelizmente Ramakrishnan n�o est� sozinha, e ent�o ela se tornou uma embaixadora da Plan International, uma ONG de direitos da crian�a focada na igualdade de g�nero para ajudar a aumentar a conscientiza��o sobre esta batalha cont�nua.

Mais de 14 mil meninas e jovens mulheres, de 15 a 22 anos, de 20 pa�ses diferentes responderam a uma pesquisa recente sobre vivenciar experi�ncias semelhantes na internet.

Os resultados, divulgados para coincidir com o Dia Internacional das Meninas (11 de outubro), apontam um quadro preocupante.


Ramakrishnan diz sofrer ameaças de morte na internet(foto: Plan International)
Ramakrishnan diz sofrer amea�as de morte na internet (foto: Plan International)

Mais da metade das entrevistadas (58%) disse ter sofrido ataques ou abusos nas plataformas de rede social.

E quase 9 em cada 10 afirmaram ter sofrido v�rios tipos de ass�dio, desde o uso de linguagem abusiva e ofensiva at� coment�rios racistas e amea�as de viol�ncia sexual.

"Isso n�o est� certo", diz Ramakrishnan.

"A internet � uma ferramenta incr�vel de se ter quando se trata de encontrar respostas e aprender mais sobre o que est� acontecendo no mundo, mas ataques s�o ataques e essa situa��o s� aumenta a press�o que as meninas j� enfrentam", acrescenta.

Esse tipo de abuso est� afastando algumas mulheres das redes sociais

Os pesquisadores da Plan International descobriram que a ang�stia causada por esse ataques online fez com que pelo menos 1 em cada 5 mulheres parasse ou reduzisse significativamente seu tempo na plataforma de rede social onde acontecia mais abusos.

De acordo com a pesquisa, isso ocorreu principalmente no Facebook e no Instagram.

A CEO da Plan International, Anne-Birgitte Albrectsen, afirmou � BBC que tal afastamento em massa das redes sociais foi bastante prejudicial, especialmente durante a pandemia de covid-19, quando as jovens dependiam tanto de suas vidas digitais.

"Tirar as meninas dos espa�os online � extremamente 'desempoderador', em um mundo cada vez mais digital, e prejudica a capacidade delas de serem vistas, ouvidas e de se tornarem l�deres", diz Albrectsen.

"Esses ataques podem n�o ser f�sicos, mas geralmente s�o amea�adores, implac�veis e limitam a liberdade de express�o das meninas."

Ativista atacada com xenofobia e amea�as de viol�ncia

Tudo isso � algo muito familiar para Nadiuska, ativista feminista de 19 anos, que participou da pesquisa da Plan International.

A nicaraguense diz que teve de lidar com "uma boa quantidade de ataques em seu pa�s", mas foram os incidentes no exterior que a chocaram seriamente.

Enquanto estava na Espanha no ano passado, para participar de uma marcha contra as mudan�as clim�ticas, ela disse que recebeu amea�as em suas contas de rede social.


Ativista nicaranguense Nadiuska, 19, diz que passou a fazer terapia depois dos ataques na internet(foto: Plan International)
Ativista nicaranguense Nadiuska, 19, diz que passou a fazer terapia depois dos ataques na internet (foto: Plan International)

"Eu recebi uma mensagem xen�foba de um perfil me dizendo que eles tinham modos de me deportar e de me agredir", relembra. "Eu fico com medo. N�o me senti segura online."

Nadiuska diz que epis�dios frequentes de ataques violentos afetaram sua sa�de mental e teve que fazer terapia e tomar medicamentos para lidar com as emo��es desencadeadas pelo abuso.

A pesquisa da Plan International descobriu que as mulheres engajadas em causas sociais s�o particularmente visadas por agressores, que tamb�m atingem desproporcionalmente pessoas de minorias raciais ou pessoas que se identificam como LGBTQ+.

"Como movimentos como #MeToo e Black Lives Matter mostraram, a m�dia social se tornou um espa�o cada vez mais importante para o ativismo", diz Albrectsen, da Plan International .

"Os n�meros s�o mais ou menos iguais em todas as regi�es, e isso � bastante preocupante."

A Europa foi a regi�o onde uma maior porcentagem de meninas relatou ataques online (63%), enquanto a Am�rica do Norte foi a menor, com 52%. A Am�rica Latina tem uma taxa de 60%.

"As redes sociais est�o permitindo mais abuso contra essas jovens mulheres do que elas encontrariam na sociedade em geral", afirma Albrectsen.

Defensores da igualdade de g�nero temem que esses ataques possam ser particularmente prejudiciais �s tentativas de aumentar o n�mero de mulheres online.

'Quantidade chocante de fotos �ntimas n�o solicitadas'

As rec�m-chegadas ao ambiente online podem ser desestimuladas rapidamente, como lembra Cathy, uma ugandense de 20 anos.

A jovem come�ou a usar a internet h� apenas tr�s anos, pois para ela estar online e usar as redes sociais era uma distra��o muito necess�ria de uma rotina de trabalho duro como alfaiate, fun��o que exerce para ajudar a sustentar sua m�e, sua irm� e seu irm�o.

Mas ela disse no levantamento da ONG que logo depois de entrar no Facebook foi bombardeada por diversas fotos de nudez de um homem que conheceu online.


Cathy, 20, disse que passou a receber fotos íntimas não solicitadas(foto: Plan International )
Cathy, 20, disse que passou a receber fotos �ntimas n�o solicitadas (foto: Plan International )

"Um cara veio � minha caixa de entrada e falou 'oi'. Eu respondi 'oi'. Ele disse 'como voc� est�?', e eu respondi. Mas no dia seguinte, quando acordei, encontrei v�rias imagens bizarras."

"Ele tinha me mandado v�rias fotos pelado. Foi chocante e triste", disse.

Hist�rias como a de Cathy est�o longe de serem raras. Quase 40% das garotas e jovens mulheres entrevistadas na pesquisa registraram ter sofrido ass�dio sexual.

H� uma press�o crescente para que as plataformas de redes sociais combatam o ass�dio.

As empresas dizem ter adotado nos �ltimos anos uma s�rie de medidas voltadas para combater o abuso online e t�m se comprometido publicamente em acabar com ele.

O Facebook, que tamb�m � dono do Instagram e do WhatsApp, afirma usar intelig�ncia artificial para buscar conte�do de bullying e diz monitorar constantemente den�ncias de abuso feitos por usu�rios. E que sempre remove amea�as de estupro, por exemplo.


ONGs cobram mais iniciativas das redes sociais contra ataques e abusos em suas plataformas(foto: Getty Images)
ONGs cobram mais iniciativas das redes sociais contra ataques e abusos em suas plataformas (foto: Getty Images)

"� crucial manter as mulheres e garotas seguras em nossos aplicativos. N�s investimos em tecnologia para banir abusos de nossas plataformas e trabalhamos com mais de 200 organiza��es de seguran�a ao redor do mundo para proteger mulheres de ataques online, coment�rios ofensivos e aten��o indesejada", afirma em nota Cindy Southworth, chefe de seguran�a da mulher do Facebook.

"Pesquisas como essa (da Plan International) nos ajudam a entender mais profundamente como as mulheres e as meninas est�o sendo afetadas por essas quest�es. Como parte da campanha da Plan International, estamos trabalhando com eles para abrir sess�es de escuta com jovens mulheres para que elas compartilhem suas experi�ncias e para quem n�s possamos apoi�-las mais no Facebook, no Instagram e no WhatsApp", acrescenta Southworth.

Procurado pela reportagem, o Twitter afirma que tamb�m usa ferramentas tecnol�gicas para identificar conte�do abusivo, e que a maioria dos tu�tes abusivos agora s�o identificados usando essas ferramentas, algo que faz com que n�o se dependa apenas de den�ncias de usu�rios. A empresa tamb�m disse que lan�ou recursos para melhorar o controle dos usu�rios sobre suas conversas.

At� o momento da publica��o desta reportagem, o Snapchat e o TikTok n�o haviam respondido aos pedido de coment�rios feitos pela BBC.

Parte dos ativistas quer ver mais a��es concretas de empresas e tamb�m de governos em termos de mudan�as na legisla��o.

'� preciso mais a��o'

"No momento, o �nus de lutar contra o ass�dio online � das v�timas", diz Chenai Chair, pesquisadora sobre g�nero e direitos digitais na Web Foundation, organiza��o criada pelo inventor da World Wide Web, Sir Tim Berners-Lee.

A atriz Maitreyi Ramakrishnan agora � tamb�m outra voz que amplia a press�o.

Ela � uma das milhares de pessoas que assinaram uma carta aberta da Plan International pedindo �s companhias de m�dia social que "criem mecanismos de den�ncia de viol�ncia mais eficazes".

"As pessoas precisam entender que o ass�dio d�i, mesmo quando vem de uma pessoa aleat�ria. N�o devemos descartar o que as v�timas passam", diz ela.

"Eu denuncio coment�rios de �dio, mas acho que as plataformas n�o deveriam permitir isso antes de mais nada."


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