
Mas o que fez a can��o percorrer o mundo por tanto tempo? Segundo Menescal, s�o quase tr�s mil grava��es em portugu�s, ingl�s, franc�s, espanhol e japon�s. Ganhou 41 grava��es de brasileiros – Jo�o Gilberto, Elis Regina, Nara Le�o, Baden Powell, Altamiro Carrilho, Jair Rodrigues, Fernanda Takai, Rosana e Sandy, entre outros. No exterior, foi gravada por Peggy Lee, Daniel Riolobos, Andy Summers, Karrin Allyson, Rita Reys, Shep Meyers, Stacey Kent, Emilie-Claire Barlow, Carmen Cuesta, Vero P�rez e Lucero.
Menescal n�o sabe dizer quem levou a can��o para o mundo. No Jap�o, o compositor desconfia que ela aportou quando S�rgio Mendes e Nara Le�o fizeram uma s�rie de apresenta��es por l� nos anos 1960.
O cantor japon�s Michinari acredita que os respons�veis por levar a m�sica ao pa�s foram Nara e Jo�o Gilberto. “Os dois foram os mais populares cantores da bossa-nova por um longo tempo aqui no Jap�o”, afirma Michinari.
MAYSA
A primeira pessoa a grav�-la foi Maysa (embora o assunto cause controv�rsias), no disco Barquinho, de 1961. “At� falei para a Maysa na �poca: v� l�, vai gravar O barquinho, de repente o p�blico n�o vai gostar de te ouvir cantando outro tipo de m�sica. Mas, claro, queria que ela gravasse. O B�scoli brincava que ela tinha o balan�o de um bonde de Copacabana. E, de fato, ela n�o tinha o suingue da bossa. O arranjo da grava��o, feito por Luiz E�a, � fant�stico. Quando acabou a grava��o, os m�sicos que tocaram as cordas se levantaram e bateram o arco no violino, aplaudindo. Todo mundo caiu no choro”, lembra Menescal.
Logo depois, Maysa, Menescal e B�scoli embarcaram para uma temporada na Argentina. Na volta, o compositor descobriu que Paulinho Nogueira e Pery Ribeiro tinham gravado a can��o. Menescal mesmo s� foi cant�-la um ano depois, no hist�rico show de bossa-nova no Carnegie Hall, em Nova York.
"Ela tem um borogod� que n�o sei explicar"
Roberto Menescal, autor da melodia de O barquinho
A grava��o est� em disco. Nervoso, sem nunca ter se apresentado como cantor, errou a letra. “Estreei no Carnegie Hall. Por muitos anos, fiquei traumatizado com isso”, diz. Ruy Castro ressalta o valor desse registro e o aponta como o seu preferido. “Foi a primeira vez que Menescal cantou em p�blico – e logo no Carnegie Hall! O pr�prio Caruso (Enrico, tenor italiano) s� chegou l� depois de d�cadas cantando.”
“Uma vez fui para a Austr�lia e l� tocam O barquinho. Nos pa�ses n�rdicos, a mesma coisa. Na R�ssia, quando fui me apresentar, quando comecei a tocar, todo mundo acompanhou a melodia. Quando voltei l� tr�s anos depois, j� cantavam com a letra. Ela tem um borogod� que n�o sei explicar”, diz Menescal.
ORGULHO
Mas, o que � esse borogod�? O produtor musical Jo�o Marcello B�scoli, filho do letrista Ronaldo B�scoli, comenta que o pai tinha muito orgulho da composi��o e definia o parceiro como um craque da melodia, o que ajudava na pros�dia e na s�ncope – essa �ltima, respons�vel pelo balan�o que B�scoli tanto valorizava.
“Ela tem uma melodia, um som agrad�vel at� para quem n�o entende portugu�s. Ela vem de cima, tem intervalos interessantes; quando repousa, refor�a esse repouso, e a� tem uma modula��o. Na conclus�o, � l�rica. S�o intervalos matem�ticos perfeitos, o chamado coeficiente divino”, analisa Jo�o Marcello.