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Estado de Minas LITERATURA

Br�ulio Tavares diz que fic��o cient�fica � melhor em livros do que na tela

Escritor relan�a dois de seus livros e avalia a produ��o do g�nero em filmes e s�ries


04/01/2021 04:00 - atualizado 04/01/2021 07:45

(foto: Bandeirola/Divulgação)
(foto: Bandeirola/Divulga��o)
O compositor, poeta e escritor Braulio Tavares, de 70 anos, est� relan�ando dois livros – Espinha dorsal da mem�ria, que venceu o Pr�mio Internacional Caminho de Fic��o Cient�fica em 1989, e Mundo fantasmo, publicado originalmente em 1996 –, ambos pela Bandeirola Editora. Eles voltaram �s livrarias com a ajuda dos leitores, por meio do financiamento coletivo. “Fiquei muito satisfeito. Tinha uma boa expectativa, que se confirmou, porque esse sistema j� funciona no Brasil h� v�rios anos, e j� � algo familiar ao p�blico. Creio que h� um belo caminho editorial a�, para todo mundo”, comenta.

Tavares comemora tamb�m a oportunidade de seu trabalho chegar � nova gera��o. “Esses livros estavam fora do mercado h� mais de 20 anos, muitos leitores s� v�o conhec�-los agora. S�o bem realizados, posso dizer que consegui o que queria – nem sempre isso acontece.”

Paraibano de Campina Grande, ele faz quest�o de ressaltar os la�os afetivos que mant�m com Minas. “Fui aluno da Escola Superior de Cinema, da PUC de Belo Horizonte, em 1970-1971, quando era dirigida pelo padre Massote. Foi um tempo important�ssimo para minha forma��o, quando fiz grandes amigos, vi grandes filmes, li como um louco. Orgulho-me de ter sido aluno de H�lio Gagliardi, Paulo Pereira, Priscila Freire, Carlos Hamilton e tantos outros, com li��es que nunca esqueci.”

Um dos autores de fic��o cient�fica mais respeitados do pa�s, Braulio Tavares analisa, nesta entrevista concedida por e-mail, as perspectivas desse g�nero liter�rio no Brasil e a sua rela��o com o cinema e as s�ries. 

A literatura de fic��o cient�fica ocupa o espa�o merecido no Brasil?
Vivemos um momento editorial excelente. Nunca houve tantas editoras, tantos t�tulos lan�ados, tantas antologias de peso, tantos autores estreando e, principalmente, prosseguindo, publicando seu segundo, terceiro, quarto livro – o que no fim das contas � mais importante do que simplesmente estrear. Mas o p�blico leitor � pequeno, e se divide entre tantas op��es. Por outro lado, como de certa forma ficou convencionado que a fic��o cient�fica � um “g�nero jovem”, muita gente quer estrear em livro aos 20 anos e virar celebridade aos 30. A� desanda tudo.

Dos �ltimos lan�amentos do g�nero no pa�s, quais autores e obras destacaria?
Destacaria acima de tudo as antologias brasileiras, porque num s� volume o leitor pode entrar em contato com 10 ou 12 autores e descobrir de imediato aqueles com quem se identifica – pelo menos � assim que acontece comigo. Destaco a s�rie de antologias da editora Draco (SP): Vaporpunk (2010), Dieselpunk (2011), Solarpunk (2013), inclusive por privilegiar as noveletas longas, um formato que as antologias em geral evitam. Indico a s�rie de Roberto de Sousa Causo para a Devir (SP), v�rios volumes com Os melhores contos..., de fic��o cient�fica e de fantasia. Um t�tulo importante � a recente Fractais tropicais, de Nelson de Oliveira, com um recorte hist�rico bastante amplo das gera��es sucessivas da fic��o cient�fica brasileira. H� muito mais, � claro – estou citando o que tenho aqui na estante mais pr�xima, ao alcance da m�o.

Tem alguma dica para autores que est�o come�ando a escrever fic��o cient�fica?
Dicas s�o arriscadas, porque aposto sempre na individualidade, na mem�ria pessoal de vida e de experi�ncias que cada escritor traz, e n�o s� na fic��o cient�fica. N�o posso mexer na inspira��o de ningu�m, nem dizer o que algu�m deve escrever. Daria conselhos de ordem pr�tica. N�o pense que vai viver de literatura com facilidade. Estou com 70 anos e at� hoje preciso trabalhar, e escrever nas horas vagas. N�o tenha pressa em publicar. Saiba distinguir as cr�ticas que lhe est�o mostrando caminhos daquelas onde o cr�tico quer apenas exibir esperteza. Tenha um outro trabalho fora literatura. N�o escreva pensando no sucesso, nas fotos, nas entrevistas, escreva pensando na p�gina que voc� est� criando, escreva para produzir uma experi�ncia real, mesmo pequena, na vida do leitor.

A fic��o cient�fica � campe� de bilheteria nos cinemas. Filmes de fic��o cient�fica lan�ados ultimamente o conquistaram?
Tenho visto muito poucos. Os filmes de fic��o cient�fica est�o muito repetitivos. Gastam fortunas em efeitos especiais e em atores-celebridades, mas as ideias s�o as mesmas que eu lia nos livrinhos de bolso meio s�culo atr�s. Entre os filmes mais recentes, gostei de Mad Max fury road, uma experi�ncia-limite de a��o cont�nua, muito bem filmada; gostei de Filhos da esperan�a, de Alfonso Cuar�n, uma premissa levada adiante com coragem narrativa e controle da imagem.

Que s�ries e filmes brasileiros de fic��o cient�fica o senhor destacaria?
N�o tenho assistido muita coisa. Parei de frequentar salas de cinema mesmo antes da quarentena. Mas um filme como Bacurau, de Kl�ber Mendon�a, tem claros elementos de fic��o cient�fica, conforme comentei no meu blog, o Mundo Fantasmo. Existe uma gera��o de diretores na faixa dos 40 anos que cresceu lendo fic��o cient�fica, vendo filmes, lendo quadrinhos, etc. Essa tem�tica acaba passando para os seus trabalhos pessoais.

O fortalecimento do YouTube e das plataformas digitais teve impacto na fic��o cient�fica? S�ries, filmes t�m conquistado novos adeptos para esse g�nero liter�rio?
Confesso que n�o acompanho muitos os canais de YouTube, mas entendo que todas essas plataformas est�o hoje se encarregando da forma��o dos primeiros crit�rios de qualidade dos leitores jovens. Antes, era um espa�o ocupado pelos suplementos culturais dos jornais impressos, pelas revistas de cultura, pelas revistas liter�rias. N�o devemos ver a fic��o cient�fica como algo fora do mundo liter�rio. Ela tem sua tem�tica pr�pria, mas isso � tudo. Existe um circuito liter�rio que est� em reformula��o. Em qualquer circuito, seja suplemento, seja YouTube, h� espa�os poss�veis para a literatura cl�ssica ou erudita, para a literatura de entretenimento, a literatura de g�nero, a literatura experimental, e assim por diante.

Gostaria que um de seus livros de fic��o virasse filme ou s�rie?z
N�o vejo muita possibilidade disso. Meus livros se caracterizam pela prosa, n�o pela inven��o de enredos originais. Acho que meus enredos s�o colhidos na tradi��o do g�nero, s�o meras variantes. Quando a gente adapta um livro para o cinema, a prosa � a primeira coisa que desaparece.

Por que o senhor se tornou escritor de fic��o cient�fica? A fic��o cient�fica tem algo a ver com a cultura do Nordeste, mais especificamente de Campina Grande, sua cidade natal?
Sim. Nasci em 1950, e por volta de 1960 as bancas de revistas de Campina Grande transbordavam de livrinhos de bolso de fic��o cient�fica – e tamb�m policiais, de terror, faroeste, etc. Essa d�cada 1960-1970 foi o boom do livro de bolso no Brasil, com dezenas de editoras lan�ando centenas de t�tulos nas bancas, todo m�s. Depois, na Livraria Pedrosa, na mesma cidade, entrei em contato com os livros da Colec��o Argonauta, de Lisboa. Ao mesmo tempo, lia Conan Doyle, H. G. Wells, Julio Verne. Tudo come�ou a�.

O mundo est� passando por uma pandemia, que lembra muito os enredos de filmes de fic��o cient�fica. O senhor pensa em escrever livro baseado nesta experi�ncia que a COVID-19 nos imp�e?
De jeito nenhum. Estou com quase um ano de enclausuramento, e n�o aguento mais ouvir falar express�es como “em tempos de pandemia...” N�o pretendo escrever sobre este assunto. J� tem gente demais escrevendo.

Quais s�o os planos para este ano de 2021?
Estou organizando e traduzindo algumas antologias de contos para a Editora Bandeirola, retomando em outro formato a s�rie de antologias que fiz antes para a Casa da Palavra (RJ). Tenho um poema fant�stico, ilustrado por Cavani Rosas, que sair� por uma editora do Recife em 2021. Tenho um livro de cr�nicas, em preparo, pela editora Arriba��, de Cajazeiras (PB). Estou preparando duas colet�neas de contos, e uma colet�nea de poemas. Tudo isso s�o coisas j� escritas, precisando apenas de editora��o. E nas horas vagas fico trabalhando ao mesmo tempo em in�meras hist�rias, que podem resultar em conto, em noveleta, em romance... O tempo dir�.

* Estagi�ria sob supervis�o da editora-assistente �ngela Faria

A ESPINHA DORSAL 
DA MEM�RIA
De Braulio Tavares
Bandeirola (224 p�gs.)
R$ 55

MUNDO FANTASMO
De Braulio Tavares
Bandeirola (128 p�gs.)
R$ 44
Informa��es: www.bandeirola.com.br


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