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Estado de Minas AUDIOVISUAL

Document�rio na Netflix reconstr�i vida e carreira de Garc�a M�rquez

'Gabo: a cria��o de Gabriel Garc�a M�rquez' traz depoimentos do Nobel de literatura colombiano e de pessoas que conviveram com ele, como Bill Clinton


12/01/2021 04:00 - atualizado 12/01/2021 08:39

Bom humor do Nobel de Literatura colombiano, morto em 2014, é um dos aspectos do filme sobre a vida e a obra do escritor
Bom humor do Nobel de Literatura colombiano, morto em 2014, � um dos aspectos do filme sobre a vida e a obra do escritor (foto: ARQUIVO EM)
Gabo: a cria��o de Gabriel Garc�a M�rquez, dispon�vel na Netflix, pode ter um t�tulo meio �bvio. Mas descreve, � perfei��o, a proposta do diretor Justin Webster – uma tentativa de entender a estranha hist�ria do menino nascido na pobreza de um lugarejo colombiano e que se torna um g�nio da literatura.

Gabriel nasce em 1927, em Aracataca, o mais velho de 11 irm�os. Foi criado pelos av�s, pois os pais haviam se mudado para Barranquilla. Em dificuldades financeiras, n�o puderam levar o filho. Gabo cresceu ouvindo as hist�rias de guerra do av� e as narrativas m�sticas da av�. Como sabem os leitores, s�o esses relatos as fontes de constru��o de seu romance mais famoso, Cem anos de solid�o. E de outros livros tamb�m, como Ningu�m escreve ao coronel, que Gabo, contrariando a cr�tica, considerava sua obra-prima.

Se o realismo fant�stico define Cem anos de solid�o, em que a Aracataca dos av�s se transforma na m�tica Macondo, a realidade comparece com mais for�a quando Gabo deseja falar de seus pais. � assim no comovente O amor nos tempos do c�lera. "Quando falo do amor entre os dois, n�o h� nenhuma fic��o. Eu procuro apenas descrever os fatos como eles se passaram e como eles mesmos me contaram, depois de muita hesita��o", diz o escritor em uma das in�meras entrevistas inclu�das no filme.

 

Colhendo depoimentos entre contempor�neos, amigos, ex-mulheres e conhecidos do escritor, Webster refaz os tra�os dessa trajet�ria acidentada e multifacetada. Gabo iniciou a vida como jornalista em Cartagena das �ndias e depois se mudou para Bogot� em busca de trabalho. Foi um grande rep�rter e nunca abandonou de fato o m�tier. Pelo contr�rio, chamava o jornalismo de "a profiss�o mais linda do mundo". Trabalhou na cubana Prensa Latina, foi correspondente na Europa e, mais tarde, j� consagrado, criou a Funda��o do Novo Jornalismo Latino-americano para estimular e formar novos talentos.

O v�cio do jornalismo estava em seu cora��o. Por�m, dividido com a literatura. Quando conseguiu fundir a objetividade jornal�stica com os tons narrativos da av� Tranquilina e do av� Nicol�s M�rquez Mej�a, deu forma ao realismo m�gico, pedra de toque do chamado boom da literatura latino-americana.

Um dos principais depoentes do livro � Gerald Martin, brit�nico, autor da biografia considerada definitiva do escritor: Gabriel Garc�a M�rquez – Uma vida (Ediouro). Martin ajuda a retra�ar os pontos principais dessa vida agitada, da Aracataca natal aos p�riplos pelo mundo. Do ativismo liter�rio ao engajamento pol�tico, com a pol�mica amizade com Fidel Castro e seu apoio incondicional a Cuba, mesmo no clima pesado da Guerra Fria.

 Se os depoimentos ajudam a reconstruir essa personalidade multifacetada, e por vezes contradit�ria, seus pontos mais luminosos v�m das palavras do pr�prio escritor. Gabo fala coisas s�rias, mas temperadas por seu conhecido senso de humor. Por exemplo, conta como ele, "coste�o", do multicolorido Caribe, estranhou a capital Bogot� quando para l� se mudou. "Fazia frio, os homens todos vestidos de preto, da cabe�a aos p�s, e nenhuma mulher na rua!"

Cheio de gra�a, tamb�m, quando recebe o Nobel e vai a Estocolmo. A uma rep�rter que pergunta se aquele � o dia mais importante de sua vida, responde: "Que nada. O dia mais importante da minha vida foi aquele em que nasci".

Mais tensos s�o os momentos em que se relembram os problemas com a revolu��o cubana. Escritores, mesmo amigos de Cuba, censuravam a persegui��o a intelectuais como Heberto Padilla, e encaminharam uma carta de protesto a Fidel. Todos assinaram, mas Gabo n�o foi localizado. Assim, seu amigo de juventude, o tamb�m escritor Pl�nio Apuleyo Mendoza, resolveu assinar em seu nome ("Afinal, eram nossos princ�pios comuns sobre liberdade de express�o que estavam em jogo", diz). Mas Garc�a M�rquez o desautorizou.

Ele mesmo se justifica dizendo que, ao manter aberto o canal de di�logo com Fidel, poderia ajudar muito mais os perseguidos pol�ticos do que assinando manifestos contra o regime. S�o os bastidores da pol�tica, menos nobres que o of�cio de escrever, mas centrais para uma gera��o que pensava politicamente, como aquela do boom liter�rio latino-americano.

O fato � que Gabo sentia fasc�nio pelas figuras de poder, dizem os amigos, bastando citar como exemplo outro de seus livros, O outono do patriarca. E, de fato, ele tinha amigos n�o apenas entre os revolucion�rios de Cuba, mas, surpreendentemente, privava da intimidade de Bill Clinton. Este aparece v�rias vezes no document�rio. Diz-se f� da literatura de Gabo e fascinado por Cem anos de solid�o. Clinton conta que, ao receber um exemplar de Not�cias de um sequestro, cancelou todos os compromissos da tarde para devorar o livro na privacidade do Sal�o Oval da Casa Branca.

Essa proximidade entre poderosos deixou Gabo a um passo do que seria uma fa�anha, levantar o bloqueio econ�mico dos Estados Unidos a Cuba. Era ele quem servia de intermedi�rio entre Fidel e Clinton. O pr�prio ex-presidente norte-americano admite que o fim do bloqueio esteve por um fio. Mas, por fim, o Congresso interveio e nada de pr�tico p�de ser feito. As tramas da pol�tica �s vezes s�o mais enredadas que as do realismo fant�stico


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