
Nascida em Nova Igua�u (RJ) e moradora de Curitiba, Ana Paula criou Desalma, drama sobrenatural ambientado no Sul do pa�s, com C�ssia Kiss, Maria Ribeiro e Cl�udia Abreu, dispon�vel no Globoplay. J� o carioca Raphael assinou, com Ilona Casoy, o suspense Bom dia, Ver�nica, da Netflix, que tem no elenco Tain� Muller, Eduardo Moscovis e Camila Morgado.
Com sete romances publicados, incluindo os vencedores do pr�mio S�o Paulo de Literatura de 2018 (Assim na terra como embaixo da terra) e de 2019 (Enterre seus mortos), Ana Paula Maia compara as duas formas de produ��o: “A escrita liter�ria � um pouco mais introspectiva, mais demorada no processo de realiza��o. Para o audiovisual, a escrita � mais din�mica e mais �gil.”

J� Raphael Montes, que venceu o Pr�mio Jabuti de 2020 em uma nova categoria (Romance de entretenimento) com Uma mulher no escuro, diz que trabalha com “chaves distintas” para a cria��o. “Na literatura, penso o ritmo das frases, a figura do narrador, o equil�brio entre a��o, descri��o e di�logo para criar a cad�ncia narrativa. No cinema, o ritmo das cenas e as solu��es visuais para sugerir subjetividades. Em ambos os processos, preciso ‘vestir’ a pele do personagem para escrever com seguran�a”, explica.
Mesmo com a segunda temporada assegurada para as duas s�ries, os escritores garantem que continuar�o a se dedicar � fic��o liter�ria. “Os pr�mios trazem um valor agregado � obra que � muito relevante para todo escritor. Mas eu continuo escrevendo da mesma maneira que antes e meu projeto liter�rio se mant�m como antes”, destaca Ana Paula Maia, que escreve a segunda temporada de Desalma.
“Sempre me enxerguei como contador de hist�rias. E tenho muitas a contar, seja nas s�ries, nos filmes ou nos livros”, complementa Raphael, �s voltas com a nova temporada de Bom dia, Ver�nica, um livro juvenil de suspense e um novo romance. Os dois escritores aceitaram o convite do Estado de Minas para se entrevistar. A seguir, o resultado dessa “conversa”.

''O p�blico brasileiro ainda tem certo preconceito com hist�rias brasileiras, tanto nos livros como nas s�ries. Mas, a cada projeto de qualidade realizado, esse preconceito vai se quebrando'' �
Raphael Montes, escritor, autor de Bom dia, Ver�nica
Ana Paula Maia entrevista Raphael Montes
Qual foi a maior dificuldade no desenvolvimento para a vers�o televisiva do romance Bom dia, Ver�nica? O quanto foi preciso criar e recriar a trama original para a vers�o de oito epis�dios?
As ferramentas para contar uma hist�ria no audiovisual s�o diferentes daquelas da literatura. Sem d�vida, o maior desafio foi deixar a vis�o de escritor de lado e me debru�ar sobre a hist�ria com o olhar de roteirista. Para escrever a adapta��o de Bom dia, Ver�nica, precisei buscar a ess�ncia da hist�ria. A partir da�, me dei total liberdade para criar e modificar tramas e personagens. No livro, Ver�nica investiga dois casos policiais em paralelo. Na s�rie, um dos casos tem maior import�ncia, enquanto o outro se resolve no meio da temporada, no epis�dio 4. Personagens como Brand�o, Janete e a pr�pria Ver�nica s�o diferentes do livro.
Voc� escreveu o projeto para a TV pensando em temporadas futuras? A trama continua do ponto em que parou?
Sim, desde o in�cio, os livros foram pensados como uma trilogia. Bom dia, Ver�nica, sucedido por Boa tarde, Ver�nica e Boa noite, Ver�nica. Assim, havia previs�o de continua��o para a s�rie tamb�m, mas dependia da resposta do p�blico. Fiquei muito feliz de ver o sucesso da s�rie, que cresceu no boca a boca, ficou no Top 10 da Netflix Brasil por um m�s e chegou aos mais vistos em diversos pa�ses. Estou escrevendo agora a segunda temporada.
Como voc� enxerga o despontar do audiovisual brasileiro no g�nero de suspense e terror?
Quando comecei a escrever, escutava que suspense e terror n�o funcionavam no Brasil. Com os meus livros, felizmente, fui conquistando um p�blico e criando uma esp�cie de marca autoral, com hist�rias que voc� n�o consegue parar de ler, com finais surpreendentes. Levei essa marca autoral para a s�rie da Netflix tamb�m. O p�blico brasileiro ainda tem certo preconceito com hist�rias brasileiras, tanto nos livros como nas s�ries. Mas, a cada projeto de qualidade realizado, esse preconceito vai se quebrando. Acredito que temos muitos artistas talentosos no audiovisual brasileiro produzindo hist�rias de g�nero. Pouco a pouco, vamos conquistando mais e mais espectadores. Tenho muito orgulho de estar produzindo hist�rias neste momento.

''No audiovisual, estou come�ando a construir essa poss�vel marca autoral. Desalma � uma s�rie que permeia diversos elementos que n�o est�o nos meus livros, por�m s�o elementos com os quais sempre quis trabalhar''
Ana Paula Maia,� escritora, autora de Desalma
Raphael Montes entrevista Ana Paula Maia
Desalma � uma s�rie original, e voc� tem uma s�rie de livros publicados. Voc� enxerga uma “marca autoral” que unifica sua obra (liter�ria e audiovisual)? Temas, personagens frequentes, elementos estruturais?
Na literatura, eu posso dizer que sim, tenho uma marca autoral que j� est� consolidada. No audiovisual, estou come�ando a construir essa poss�vel marca autoral. Desalma � uma s�rie que permeia diversos elementos que n�o est�o nos meus livros, por�m s�o elementos com os quais sempre quis trabalhar. Que fazem parte do meu imagin�rio ficcional. Acho que alguns elementos ir�o se conectar a alguma obra j� escrita ou que ainda ser� escrita. Esse desenho dram�tico que interliga as obras s� poder� ser percebido com o tempo.
Como voc� enxerga o preconceito que o p�blico brasileiro tem com as nossas s�ries, especialmente de policial/terror/fantasia? E como, como criadores, podemos ajudar a mudar isso?
S�o g�neros ainda pouco explorados no Brasil. Mas acredito que � medida que novas produ��es desses g�neros ganham volume e qualidade, o n�mero de espectadores tamb�m come�ar� a crescer. Quanto mais projetos desses g�neros chegarem � mesa dos produtores de audiovisual, imagino que o n�mero de projetos realizados tamb�m come�ar� a crescer.
Quais dos seus livros voc� gostaria de ver adaptados ao audiovisual? E voc� mesma gostaria de fazer essa adapta��o?
Todos os livros em que o Edgar Wilson, personagem central da maioria dos meus livros, estiver presente, eu acredito que seria muito bacana adaptar. Sim, eu mesma faria a adapta��o, porque ningu�m conhece o Edgar Wilson melhor do que eu.
Na estante
Confira a bibliografia dos escritores
Ana Paula Maia
•O habitante das falhas subterr�neas (2003)
•A guerra dos bastardos (2007)
•Entre rinhas de cachorro e porcos abatidos (2009)
•Carv�o animal (2011)
•De gados e homens (2013)
•Assim na terra como embaixo da terra (2017)
•Enterre seus mortos (2018)
Raphael Montes
•Suicidas (2012)
•Dias perfeitos (2014)
•O vilarejo (2015)
•Jantar secreto (2016)
•Bom dia, Ver�nica (com Ilana Casoy, 2016)
•Uma mulher no escuro (2019)