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Estado de Minas M�SICA

Acervo de instrumentos de Marco Ant�nio Guimar�es ganha casa pr�pria

Inventos do fundador do Uakti foram adquiridos por um m�sico e f� e est�o num est�dio de grava��o onde devem ser usados para disco em homenagem ao artista


24/01/2021 04:00 - atualizado 25/01/2021 09:48

A Sala Marco Antônio Guimarães guarda os instrumentos que o músico construiu ao longo de sua carreira e dos quais se desfez em 2015, quando o grupo Uakti chegou ao fim(foto: Fotos: RAMON LISBOA/EM/D.APRESS)
A Sala Marco Ant�nio Guimar�es guarda os instrumentos que o m�sico construiu ao longo de sua carreira e dos quais se desfez em 2015, quando o grupo Uakti chegou ao fim (foto: Fotos: RAMON LISBOA/EM/D.APRESS)
Artista pl�stico de forma��o tornado m�sico por paix�o, Al� Fonseca, de 31 anos, considera Marco Ant�nio Guimar�es, de 72, uma “mistura de Bach com Jo�o Gilberto”. Ele n�o sabia onde estava se metendo quando, a convite de uma amiga, participou de uma oficina com o compositor, arranjador, violoncelista e genial construtor de instrumentos que comandou o Uakti por 37 anos.

Era 2015, e Guimar�es j� havia anunciado, via Facebook, o fim do grupo. Na oficina, ministrada em uma casa no Prado, antiga sede do Uakti, Fonseca ouviu um Guimar�es aflito sobre o futuro. Tinha decidido vender os instrumentos. J� os havia oferecido para a UFMG e o Instituto de Arte Contempor�nea Inhotim. E nada. “Ele comentou da ang�stia, de uma vida inteira dedicada � m�sica e de n�o ter nenhuma estrutura, um im�vel para deixar para os filhos. Disse: ‘O que significa tudo o que fiz?’”

Naquele momento, havia um ano que Fonseca tinha adquirido o est�dio M�quina, no Bairro Santa L�cia. Antiga casa da fam�lia de Haroldo Ferreti, baterista do Skank, o local havia se tornado, muitos anos antes, o est�dio da banda – local de grava��o de �lbuns como Maquinarama (2000) e Cosmotron (2003). 

Apaixonado por sintetizadores, que come�ou a colecionar, pesquisar e estudar, Fonseca pensava em um est�dio como uma forma de dar vaz�o a todo o material e expertise que havia adquirido.
Alê Fonseca na Sala Wendy Carlos do estúdio New Doors, onde ele guarda sua própria coleção de sintetizadores
Al� Fonseca na Sala Wendy Carlos do est�dio New Doors, onde ele guarda sua pr�pria cole��o de sintetizadores


CIRCULA��O 

“A ideia era ter uma salinha para colocar os sintetizadores, dar aula para que as pessoas pudessem usar, pois essas coisas t�m que circular”, diz ele, que participou como tecladista,  durante dois anos, da banda que acompanhou L� Borges na turn� do “Disco do t�nis”.

Pois a hist�ria com Guimar�es lhe calou fundo. Muitos anos antes, havia recebido do pai, Luiz Carlos Pinto Fonseca, um convite. “Vamos ver a apresenta��o de um grupo que constr�i os instrumentos”, foi a proposta. Fonseca conta que, ao ver o Uakti pela primeira vez, sentiu um tipo de impacto do qual nunca se recuperou. “Gra�as a Deus.” 

De volta a 2015, Fonseca virou para Guimar�es e disse: “Marco, vi voc� falando de um im�vel. Meu irm�o faleceu um tempo atr�s e me deixou um apartamento de heran�a”. Levou-o para conhecer o im�vel no Belvedere. No encontro, tamb�m estavam seus pais, Luiz Carlos e L�cia Palhano de Castro Souza. 

“Ele olhou para o meu pai, que � uns anos mais velho, e perguntou se ele tinha estudado no Estadual Central. Meu pai disse que sim”, conta Fonseca. Pois nesta conversa inicial, Guimar�es comentou com Luiz Carlos (m�sico amador) que se lembrava dele soprando canos no col�gio. “Meu pai ficou meio sem gra�a, disse que sempre teve boa embocadura de trompete”, conta. Pois Guimar�es se saiu com esta: “Fiquei impressionado, pois foi a primeira vez que vi algu�m tirando som de cano.”

H� cinco anos, todo o acervo de instrumentos de Guimar�es pertence a Fonseca. Trilobita (formada por tubos de PVC), Aqualung (em que a �gua corre por um tubo m�vel), Chori (um instrumento que chora e ri, feito de caba�a, cordas e madeira), Torre (um m�dulo girat�rio com cordas tangidas por um arco) e tantos outros, pois s�o dezenas, alguns constru�dos antes mesmo da funda��o do Uakti.

Guardado durante todo este tempo, h� alguns meses o acervo ganhou uma morada � altura. Do antigo est�dio M�quina nasceu o New Doors Vintage Keys Studio. Quem conheceu o espa�o n�o o reconhece mais.

A obra foi lenta, chegou a ser embargada por um per�odo. Em 27 de junho do ano passado, ele finalmente estreou, e com o Skank, em live ac�stica – a banda realizou, meses depois, outra transmiss�o ao vivo no local. Tamb�m foram registradas ali apresenta��es do Savassi Festival, em novembro, e do violonista Juarez Moreira.

Todos eles se apresentaram na Sala Carlos Alberto Pinto Fonseca. O maestro (1933-2006), que esteve � frente do Coral UFMG (Ars Nova) por quatro d�cadas e foi titular da Orquestra Sinf�nica de Minas Gerais, � tio de Fonseca e uma refer�ncia desde sempre. Ele d� nome � sala principal de grava��o, que comporta at� mesmo uma orquestra de c�mara. 

A estrela deste espa�o � um Steinway D Cauda Inteira de 1914. Adquirido pela m�e de Fonseca em um leil�o, passou por uma restaura��o completa, que o deixou novo em folha. “Este piano, feito para uma sala de concerto, fora de um espa�o com este, n�o soa t�o bem.” O projeto ac�stico � de Renato Cipriano, que atuou na cria��o de est�dios de Phil Collins, Bruce Springsteen, Ivete Sangalo, Frejat, Herbert Vianna, al�m do Skank e Jota Quest.

S�o v�rias salas e outros espa�os dedicados � m�sica, divididos em dois andares.O acervo de instrumentos est� obviamente na Sala Marco Ant�nio Guimar�es. O de guitarras, na Sala Skank. O espa�o dedicado � grava��o de voz chama-se Sala Sylvia Klein. Na parte de cima, a Sala Bob Tostes (refer�ncia � hist�rica e saudosa loja de discos do cantor, m�sico e radialista) revela uma rica e diversa cole��o de vinis (de m�sica cl�ssica e discos raros de mineiros de d�cadas atr�s). 

De l� se chega � Sala Wendy Carlos, onde est� a diversa e enorme cole��o de sintetizadores de Fonseca. Como a hist�ria est� ligada � funda��o do est�dio, Fonseca explica que Wendy Carlos � uma compositora e musicista norte-americana. Hoje com 81 anos, foi uma das primeiras artistas de m�sica eletr�nica a utilizar sintetizadores.

A parte central desta “nave” � a Sala Conny Plank, homenagem ao hist�rico produtor e engenheiro de grava��o alem�o, que esteve por tr�s de registros do Kraftwerk. � ali que est� a mesa de grava��o em que todas as salas est�o conectadas. O preciosismo ï¿½ tamanho que, na entrada de cada uma delas, h� uma obra de marchetaria criada para o est�dio pelo artista Daniel Herthel.
O piano Steinway D Cauda Inteira de 1914 ocupa a Sala Carlos Alberto Pinto Fonseca, que era tio de Alê e foi quem incentivou Guimarães a seguir carreira na música
O piano Steinway D Cauda Inteira de 1914 ocupa a Sala Carlos Alberto Pinto Fonseca, que era tio de Al� e foi quem incentivou Guimar�es a seguir carreira na m�sica

UTOPIA 

A ideia de Fonseca � que o New Doors seja um “lugar das utopias”, para gravar de tudo, de rock a m�sica cl�ssica. “O Marco Ant�nio Guimar�es fez m�sica para um mundo que ele acredita melhor do que o que a gente est� hoje. Ent�o quero abrir espa�os para esse mundo.”

Ele tamb�m tem consci�ncia da responsabilidade que assumiu ao criar o est�dio e adquirir o acervo de Guimar�es. O m�sico n�o conhece a sala que leva seu nome; tampouco nenhum dos ex-integrantes do Uakti esteve l�. As portas est�o abertas. 

Enquanto isto, Fonseca, que entende muito de sintetizadores, mas pouco de grava��o (isto fica a cargo de sua equipe), formou um grupo, coordenado pelo m�sico Felipe Jos�, do qual fazem parte o baterista Yuri Velasco, o multi-instrumentista Paulim Sartori e o percussionista Jo�o Paulo Drumond. Juntos, eles pretendem n�o s� cuidar do acervo,  como estudar e aprender a tocar os instrumentos. “Estamos preparando um disco em homenagem ao Marco Ant�nio”, diz ele.

Nenhuma hist�ria come�a do nada. Pois Fonseca ouviu do pr�prio Guimar�es a narrativa de como ele chegou � m�sica. Estudante de piano em Belo Horizonte, foi levado por seu professor a um ensaio de orquestra, onde foi apresentado ao maestro. Foi o regente quem sugeriu a Guimar�es ir para a Universidade Federal da Bahia, pois ele pr�prio havia estudado naquela institui��o, muito � frente de seu tempo.

Guimar�es chegou � UFBA nos anos 1960, onde ouviu que tinha m�o boa para tocar violoncelo. Aprendeu o instrumento e ali conheceu v�rios m�sicos, como Tom Z�. Teve aulas com Walter Smetak, su��o radicado em Salvador, tamb�m violoncelista. Mas mais importante: criador de instrumentos. No retorno a BH, Guimar�es agradeceu ao maestro a sugest�o que mudou sua vida. O regente era Carlos Alberto Pinto Fonseca.

O Aqualung, instrumento de tubos
O Aqualung, instrumento de tubos "movido" a �gua, cria��o de Marco Ant�nio Guimar�es


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