
Al�m do Brasil (Babenco, algu�m tem que ouvir o cora��o e dizer: Parou) e da Rom�nia (Collective), o Chile � outro pa�s que decidiu apostar num document�rio para tentar uma vaga entre os candidatos ao Oscar de Melhor Filme Internacional.
Agente duplo, de Maite Alberdi, foi exibido na competi��o de document�rios internacionais no Festival de Sundance e j� est� dispon�vel no Brasil, no Globoplay. O longa-metragem �, no m�nimo, original em sua premissa, tendo como personagem principal e guia um vi�vo recente que se infiltra numa casa de repouso para idosos para checar o tratamento de uma das moradoras, a pedido de um investigador particular contratado pela filha dela.
"Eu queria fazer um document�rio noir sobre um detetive particular", disse Alberdi "Nunca vi um document�rio sobre um investigador desses, ent�o minha pergunta era o que acontecia na realidade com essa figura de um territ�rio da fic��o."
Somente um detetive particular contratado permitiu que ela filmasse suas atividades, R�mulo Aitken. "Fiquei impressionada como muitos casos n�o faziam sentido para mim, com pais querendo seguir os filhos, universidades seguindo professores." Mas a� apareceu o caso da casa de repouso. A filha queria checar se a m�e estava sendo bem tratada. E Alberdi viu ali a oportunidade que procurava, por j� ter feito filmes com pessoas idosas antes.
O investigador normalmente contratado para casos assim n�o estava dispon�vel, e R�mulo teve de fazer um teste para homens entre 80 e 90 anos que pudessem ter esse papel. Imediatamente, Sergio Chamy, que tinha ficado vi�vo fazia pouco tempo, pareceu o candidato ideal - pelo menos para Alberdi.
"Eu n�o sabia exatamente como seria, mas ele tinha uma energia diferente", disse a cineasta. "Eu me apaixonei, porque Sergio era t�o espont�neo, se conectava facilmente com os outros, era engra�ado, sincero, inteligente. Muito cineasta de fic��o diz que sabe quando � o ator certo assim que ele ou ela aparece, e aqui foi assim. Tive de implorar para o R�mulo contrat�-lo."
''Eles me contaram que a vida continuava a mesma, porque agora eram obrigados a fechar a porta para visitantes, mas, antes, essa porta j� estava fechada, porque ningu�m vinha. Muito antes do isolamento provocado pela COVID, j� havia uma pandemia de solid�o. As pessoas j� estavam morrendo sozinhas. Eu filmei funerais sem familiares''
Maite Alberdi, diretora de 'Agente duplo'
Sergio n�o era o melhor para coletar informa��es, tinha dificuldades at� mesmo em mandar mensagens de voz no WhatsApp e discri��o n�o era seu forte, o que rende cenas divertidas. "Mas ele foi maravilhoso. Por causa dele, a perspectiva do filme mudou completamente", comenta a diretora.
No princ�pio, ela achou que ia fazer um filme de den�ncia sobre as m�s condi��es numa casa de repouso. Mas depois percebeu que n�o havia nada de errado com o lugar, e Sergio tinha se tornado um narrador da vida na velhice. Maite Alberdi se sentiu culpada de ter mentido � dire��o do estabelecimento ao dizer que fazia um filme sobre a velhice. Mas eles viram o filme e n�o tiveram obje��es. Porque, no fim das contas, seu document�rio �, sim, sobre a velhice e tamb�m sobre esses locais que se tornaram essenciais na vida moderna.
"Antigamente, n�o era comum ter parentes nesses locais. Os av�s moravam com os filhos e netos. Mas hoje moramos em casas menores, onde n�o h� espa�o para eles muitas vezes. Precisamos das casas de repouso", diz a diretora chilena.
O problema � que a rela��o da sociedade com esse tipo de estabelecimento � complicada. A maioria das pessoas na casa de repouso em quest�o nunca recebia visitas. Por isso Sergio � t�o cativante: ele faz quest�o de se conectar com os outros moradores com carinho e aten��o, o que resulta em cenas emocionantes.
"A casa de repouso n�o pode significar uma morte simb�lica para essas pessoas. N�o � toa quem vai fica com medo de perder contato", diz Alberdi. Fora que isso retira da sociedade as pessoas mais velhas. Uma das coisas mais surpreendentes para a diretora � a quantidade de crian�as e jovens que contam a ela nunca terem visto tantos idosos juntos. "E na minha inf�ncia n�o era assim."
Tanto que pouca coisa mudou de maneira pr�tica na casa de repouso do filme durante a pandemia. "Eles me contaram que a vida continuava a mesma, porque agora eram obrigados a fechar a porta para visitantes, mas, antes, essa porta j� estava fechada, porque ningu�m vinha. Muito antes do isolamento provocado pela COVID, j� havia uma pandemia de solid�o. As pessoas j� estavam morrendo sozinhas. Eu filmei funerais sem familiares."
Ela espera que o filme fa�a com que mais gente tente pelo menos manter um contato mais pr�ximo com seus familiares. "Basta pegar o telefone."