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Estado de Minas CINEMA

Document�rio Ressaca busca compreender a trag�dia brasileira

Filme de Vincent Rimbaux e Patrizia Land, que estreia hoje nas plataformas de streaming, fez da crise do Theatro Municipal do Rio a met�fora da crise


28/01/2021 04:00 - atualizado 28/01/2021 07:46

Artistas e funcionários do Municipal do Rio de Janeiro foram às ruas defender a dignidade e a arte(foto: Vincent Rimbaux/Babel Doc/Divulgação)
Artistas e funcion�rios do Municipal do Rio de Janeiro foram �s ruas defender a dignidade e a arte (foto: Vincent Rimbaux/Babel Doc/Divulga��o)
Ressaca � a rea��o adversa do corpo humano que ocorre depois de momentos de extrema euforia e exalta��o. O document�rio hom�nimo de Vincent Rimbaux e Patrizia Landi, que estreia nesta quinta-feira (28/01) nas plataformas de streaming NetNow, Oi Play e Vivo Play, faz refer�ncia ao colapso econ�mico, pol�tico e social que o Brasil experimentou depois de pelo menos uma d�cada promissora. Para abordar a crise, que afetou tantos setores, o filme se debru�a sobre o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que correu o risco de fechar as portas e chegou a atrasar quatro meses de sal�rio do corpo art�stico e funcion�rios.

Landi, que mora na capital fluminense, explica que o document�rio surgiu da vontade de Rimbaux, franc�s radicado h� 20 anos no Rio, de compreender a decad�ncia brasileira. “Quando ele chegou aqui, viu uma terra prometida. O Brasil numa esfera de crescimento, com grande efervesc�ncia cultural. Com o olhar de quem morava fora, Vincent vem para c� e testemunha esse recorte temporal, v� que as coisas foram se transformando. A ideia era falar sobre a queda. Como um pa�s, cujo Cristo Redentor decolava como foguete na capa da The Economist, alguns anos depois tinha o mesmo Cristo em trajet�ria descendente na mesma revista?”, comenta a diretora.

Bailarinos dançam no asfalto para provar que a beleza também é uma forma de resistir (foto: Vincent Rimbaux/Babel Doc/Divulgação)
Bailarinos dan�am no asfalto para provar que a beleza tamb�m � uma forma de resistir (foto: Vincent Rimbaux/Babel Doc/Divulga��o)

RUPTURA

Patrizia explica que a pesquisa de personagens procurou pessoas que simbolizassem essa queda. “Temos parte da popula��o vivendo em vulnerabilidade social desde que o Brasil � Brasil, buscamos por algu�m que representasse essa ruptura. Nesses momentos, a maior afetada � a classe m�dia”, diz a cineasta.

Durante o processo do filme, Patrizia se deparou com a grave crise do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ocorrida na virada de 2016 para 2017. Especificamente com a not�cia de que Filipe Moreira, o primeiro-bailarino, havia se tornado tamb�m motorista de Uber para sobreviver.

“Quando entramos naquele microcosmo, entendemos que o filme estava ali. O Municipal apresenta essa dualidade de forma muito �bvia e interessante. Ali, vemos todos os signos do que podemos entender como exuber�ncia e, naquele momento, tudo o que representava escassez”, observa a diretora, definindo o teatro carioca como “met�fora perfeita” para explicar o contexto da crise brasileira.

Filipe Moreira e outros artistas, assim como Jo�o Batista, funcion�rio do Municipal, s�o os principais personagens de Ressaca. A c�mera registra a ang�stia deles diante do descaso do poder p�blico e do sucateamento dos corpos art�sticos, processo que se arrastava ao longo de 2017. Cenas mostram assembleias em que propostas de negocia��o salarial eram discutidas, bastidores das atividades art�sticas e momentos pessoais dos envolvidos fora dali.

Filmagens intercaladas com imagens de notici�rios relembram o Brasil p�s-impeachment de Dilma Rousseff, tumultuado por den�ncias de corrup��o contra o ent�o presidente Michel Temer, opera��es militares controversas em favelas e muita instabilidade econ�mica.

Durante um ensaio, a orquestra discute a decis�o de retirar o Hino Nacional do repert�rio, devido � simbologia que ele vinha ganhando em manifesta��es da extrema-direita. Em outro momento, M�rcia Jaqueline, primeira-bailarina do Municipal, fala sobre a desilus�o dos artistas diante da falta de reconhecimento e das m�s condi��es de trabalho.

M�rcia se desligou do Municipal, seguindo para uma companhia de Salzburgo, na �ustria. Por l�, seu cotidiano, marcado pela saudade da terra natal, � traduzido em l�grimas.

Sem entrevistas e depoimentos, com abordagem definida pela diretora como “observacional”, o filme mescla o drama de quem passou a exercer a atividade art�stica em troca de doa��es de cestas b�sicas com a beleza dos movimentos do bal� e do pr�prio teatro.

“A gente encontra em situa��es dram�ticas uma beleza que n�o encontramos em dias comuns. N�o era o que se desejava, mas quando eles se viram naquela situa��o, perceberam que s� era poss�vel resistir atrav�s da arte, coletivamente. Ent�o, chegamos a uma carga emocional muito forte e o resultado est�tico � muito bonito”, afirma Landi. O longa foi totalmente filmado em preto e branco.

Antes de chegar ao circuito comercial por meio dos servi�os de streaming, o filme teve boa circula��o por festivais no exterior e conquistou o Emmy Internacional 2020 na categoria arts programming. Ressaca tamb�m levou os pr�mios de melhor document�rio e melhor dire��o de document�rio no Festival do Rio, em 2019.


REVELA��O

Para Patrizia Landi, que j� havia dirigido Hijas del monte (2012), document�rio sobre mulheres ex-combatentes das Farc, a repercuss�o internacional de Ressaca foi uma forma de contar ao mundo o que se passava no Brasil entre 2016 e 2018.

“Nunca tivemos a pretens�o de dizer que era um pedido de socorro, mas mostramos que viv�amos uma coisa grave que coadunava com o que vinha acontecendo no mundo, a ascens�o da extrema-direita”, conclui a cineasta.

RESSACA
• Document�rio de Patrizia Landi e Vincent Rimbaux. 86 minutos. Dispon�vel nos servi�os de streaming NetNow, Oi Play e Vivo Play.


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