
EX�RCITO
Sobre o formato, Bete comenta que foi a “solu��o pand�mica” encontrada para que a companhia, fundada h� uma d�cada, voltasse a atuar. “O texto dialoga com o momento atual do pa�s, pois traz v�rias quest�es urgentes.” Jas�o (Fl�vio Rochaa) troca Medeia por Glauce (Luiza Curvo), filha do rei Creonte (Roberto Audio). A trai��o lhe garante um posto de chefia no Ex�rcito. Machucada, Medeia trama a morte dos filhos com Jas�o. Mas a vers�o brasileira subverte o mito grego.
Quando a pandemia come�ou, a Cia. BR116 iniciava os ensaios de A gaivota, de Tchekhov. O projeto parou, assim como os atores, que ficaram meses sem trabalhar. “No meio do ano, come�amos a pensar em algum projeto razo�vel para fazer. Entre setembro e outubro, quando a pandemia melhorou um pouco, conseguimos nos encontrar”, diz Bete.
Mantendo o texto de Consuelo na �ntegra – “com alguns cortes, porque a imagem �s vezes fala no lugar dele” –, o grupo fez uma adapta��o filmada da montagem. Integrante da BR116, Gabriel Fernandes tem forma��o em cinema, mas muita experi�ncia com teatro – trabalhou durante sete anos com o Teatro Oficina, filmando as montagens de Z� Celso Martinez.
Dessa maneira, Medeia se tornou um projeto h�brido. Com elenco enxuto (seis atores), foi rodada durante 10 dias, com internas realizadas numa sala da Oficina Cultural Oswald de Andrade. Houve tamb�m algumas externas nas proximidades de S�o Paulo.
“Com duas c�meras, montamos um teatro e filmamos em um cen�rio como se fosse o de uma pe�a. J� as externas foram na natureza, para que n�o houvesse qualquer refer�ncia de �poca. As externas se parecem mais com um filme, enquanto a parte interna � como o teatro”, conta Gabriel.
Tudo foi rodado em preto e branco. “Chegamos � conclus�o de que isso nos ajudaria a desvincular a hist�ria de uma �poca e um espa�o espec�ficos. Quer�amos sair um pouco do tempo atual”, acrescenta Bete. “H� instrumentos cinematogr�ficos, mas o teatro est� l�, vivo. N�o usamos truques de cinema. Voc� v� suor, saliva. Inclusive o fato de estarmos distanciados fez com que a dire��o de arte trabalhasse com filtros, vidros.”
A outra atividade teatral de Bete durante os 10 meses da pandemia foi a live, sozinha, de M�e coragem, vers�o enxuta do espet�culo de Bertolt Brecht que a BR116 havia montado, com muito �xito, em 2019. Fazer teatro em meio � pandemia n�o � f�cil, ela admite. “Teatro existe ao vivo. A emo��o, o poder dele, est� no presencial. Tentamos levar isso para a linguagem das imagens.”
O processo de ensaio, por videoconfer�ncia, foi bastante cansativo. “� horr�vel, pois tem delay, voc� tem de olhar para a c�mera e n�o para a tela. Para mim, foi um pouco esquizofr�nico, perdi a paci�ncia. Mas como todos os atores s�o experientes e profissionais, entenderam onde a gente queria chegar. Quando nos encontramos, foi um encontro abrupto, pois n�o havia tempo para descobrir muita coisa. Mesmo que n�o tenha havido aquela matura��o, a montagem ganhou (pela falta do tempo) surpresas.”
GALP�O
Bete diz que um dos exemplos de como fazer teatro na pandemia veio do Grupo Galp�o. “Foi a primeira coisa que vi do teatro, entendi que poderia entrar na linguagem do v�deo. Eles trataram de maneira delicada e po�tica, bonito de se ver. Foram uma grande inspira��o para n�s.”
A despeito das dificuldades, a atriz e diretora n�o esmorece. “Minha luta � de resist�ncia, pois estamos a� sem eira nem beira. O que nos salva � a criatividade, a for�a e a cumplicidade. O teatro preciso do corpo, da respira��o, do outro. Precisamos estar perto. Essa � a primeira grande dificuldade da pandemia. E n�o s� entre os atores, mas entre atores e plateia. A segunda � que n�s nunca fomos t�o desprezados. Desde que me entendo por gente, nunca vi um desprezo t�o grande pela nossa �rea”, finaliza.
MEDEIA, DE CONSUELO DE CASTRO
Montagem da Cia. BR116. Dire��o: Gabriel Fernandes e Bete Coelho. Estreia neste domingo (7/2), �s 20h, no canal da BR116 no YouTube. Temporada at� 12 de mar�o, de quarta a domingo, �s 20h. Gratuito.