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Estado de Minas ARTES C�NICAS

Pandemia e 'lives' provocam revolu��o nos bastidores do teatro

Transmiss�o on-line de pe�as imp�e novas formas de trabalhar som, luz e v�deo. T�cnicos que venceram esse desafio se preocupam com requalifica��o dos colegas


08/02/2021 04:00 - atualizado 08/02/2021 08:29

Teatro Feluma, em Belo Horizonte, se adaptou tecnologicamente às transmissões ao vivo do trabalho dos atores (foto: Bruno Cerezoli/divulgação)
Teatro Feluma, em Belo Horizonte, se adaptou tecnologicamente �s transmiss�es ao vivo do trabalho dos atores (foto: Bruno Cerezoli/divulga��o)
Realizado essencialmente por meio do encontro presencial do artista com o p�blico, o teatro � uma das atividades culturais mais prejudicadas pela pandemia. A capacidade de reinven��o de diretoras, diretores, atores e atrizes vem sendo colocada � prova em busca de uma nova maneira de estar em cena, longe da plateia. Por�m, a migra��o dos palcos para a internet, realizada em diferentes formatos, se deve especialmente ao esfor�o de quem n�o costuma aparecer. 

Nesta segunda-feira, �s 20h, o canal do Piccolo Teatro Meneio no YouTube transmite a pe�a A obscena senhora H – Paix�o e obra de Hilda Hilst, que aborda o relacionamento da escritora Hilda Hilst com seu primo Wilson, suscitando reflex�es sobre a opress�o e o machismo. Mais um espet�culo que o p�blico poder� acompanhar de casa, pela tela do computador ou do celular, em transmiss�o ao vivo.

Recursos tecnológicos são essenciais para transformar em palco a casa de atores, como a de Teuda Bara, do Grupo Galpão(foto: Rodrigo Marcal/divulgação)
Recursos tecnol�gicos s�o essenciais para transformar em palco a casa de atores, como a de Teuda Bara, do Grupo Galp�o (foto: Rodrigo Marcal/divulga��o)


ESSENCIAL 


Al�m da dramaturgia de Juarez Guimar�es Dias e da atua��o de Luciana Veloso, vencedora do Pr�mio Cenym de Teatro Nacional 2020 por seu trabalho, outros profissionais t�m participa��o fundamental nessa montagem. Um deles � Bruno Cerezoli, respons�vel pela ilumina��o, som e v�deo, esse �ltimo parte essencial da pe�a.



Com longa carreira dedicada � �rea t�cnica nas artes c�nicas, Cerezoli vive um momento totalmente novo desde que a pandemia come�ou. Ele fundou o Piccolo Teatro Meneio em outubro de 2020, espa�o voltado para transmiss�es digitais.

Coordenador t�cnico-cultural no Centro Cultural Unimed-BH Minas, Bruno Cerezoli revela que j� nos primeiros meses de pandemia identificou a urg�ncia de adequar o teatro ao meio virtual. “Nos �ltimos 15 anos, trabalhei em muitos lugares, entre eles o Galp�o e o espa�o cultural do Minas T�nis Clube. Na verdade, o Piccolo nasceu em abril. T�nhamos uma palestra no Centro Cultural do Minas voltada para o backstage do teatro e fizemos on-line, por causa da pandemia. Percebi que dali para a frente seria tudo on-line”, relembra.

Cerezoli se valeu dos equipamentos de ilumina��o e som que j� possu�a para montar o novo espa�o, com palco de 5mx4m, no Bairro Ouro Preto, em Belo Horizonte. Ali, realizou 65 espet�culos transmitidos ao vivo, muitos deles impulsionados pela Lei Aldir Blanc, criada para amparar artistas durante a pandemia.

"N�o d� mais para ficar preso ao anal�gico, porque o mundo j� � digital e ficar� ainda mais - e n�o s� no teatro"

Bruno Cerezoli, t�cnico em v�deo e ilumina��o


O teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (ligado ao Minas T�nis Clube) e o Teatro Feluma, em BH, s�o exemplos de casas que adequaram sua estrutura para otimizar transmiss�es on-line, informa Cerezoli. Isso passa pela requalifica��o dos profissionais da �rea, que vivem agora um imenso desafio.

“Os t�cnicos devem entender que a imagem n�o � s� para o olho humano, mas para o olho humano e a c�mara. A luz � totalmente diferente. A luz e o som, agora, passaram a ser para diversos dispositivos”, explica.

Este per�odo de mudan�as trouxe s�rias dificuldades para trabalhadores do setor art�stico. “Muita gente ficou sem emprego. Quem tinha conhecimento mais interdisciplinar, de inform�tica, v�deo e luz, conseguiu se recolocar. O mercado da live veio para ficar. De agora em diante, todo espet�culo de teatro ter� filmagem”, garante Cerezoli, refor�ando a necessidade de retreinar os profissionais.

“Um problema muito grande no isolamento foram as equipes reduzidas. Com isso, v�rias atividades ficam concentradas numa �nica pessoa. Dependendo da live, a equipe muito pequena pode significar o insucesso da transmiss�o”, adverte. “Se voc� tirar o som da mesa e jogar para a plateia, entra pouco na transmiss�o. Ent�o, pode ser necess�rio um terceiro t�cnico para fazer o som exclusivo para a internet. Muita gente tem gravado, editado e transmitido depois, porque live exige esses cuidados”, exemplifica.

Bruno cita a import�ncia de movimentos como o Salve a Graxa, criado para arrecadar doa��es para t�cnicos em dificuldade devido ao cancelamento de espet�culos. Mas refor�a: a categoria precisa se aprimorar. “Quem n�o se adaptar ser� engolido. O conhecimento � necess�rio. � preciso pesquisar, aprender, fazer oficinas on-line. N�o d� mais para ficar preso ao anal�gico, porque o mundo j� � digital e ficar� ainda mais – e n�o s� no teatro.” Futuramente, ele vislumbra a possibilidade de proje��o de hologramas com tecnologia 5G. “O teatro on-line ter� ainda mais recursos”, afirma.

O processo de evolu��o � constante. A obscena senhora H – Paix�o e obra de Hilda Hilst, por exemplo, j� chegou � terceira edi��o on-line. Cerezoli diz que as mudan�as s�o n�tidas a cada execu��o, e isso envolve a rela��o m�tua de confian�a entre artistas e t�cnicos.

“Nos palcos, temos uma ora��o de t�cnicos e atores que diz: ‘minha m�o na sua, a sua na minha, para que juntos possamos fazer o que n�o podemos fazer sozinhos'. No on-line, a integra��o � ainda mais necess�ria. Se no teatro tradicional muitas emerg�ncias podem acontecer, na live h� muito mais problemas”, alega. Bruno diz ter checklist de 50 itens para averiguar antes de iniciar cada transmiss�o. “Numa live, s�o v�rios pequenos detalhes que precisam funcionar ao mesmo tempo e corretamente.”

Iluminador do Grupo Galp�o e colaborador de outras companhias, Rodrigo Mar�al tamb�m vivencia esse novo momento na profiss�o. “Para muitos de n�s da �rea, foi uma novidade. Tenho o privil�gio de ter conhecimento anterior em tecnologia da informa��o e de saber mexer com os programas, mas n�o � essa a realidade dos t�cnicos de teatro. � um outro tipo de tecnologia, adaptar isso para a realidade da tela � desafiador”, comenta.

“� preciso entender que o olho da c�mera n�o enxerga da mesma forma que o olho humano”, observa o iluminador. No in�cio, foi dif�cil se adaptar. “Nosso desejo � sempre uma composi��o bonita nos dois espa�os, mas entendi que deveria abrir m�o disso em certos momentos. � um outro jeito de enxergar a luz.”

Live da peça O rei leão transmitida do palco do Centro Cultural Unimed-BH Minas (foto: Bruno Cerezoli/divulgação)
Live da pe�a O rei le�o transmitida do palco do Centro Cultural Unimed-BH Minas (foto: Bruno Cerezoli/divulga��o)


VARIEDADE 

Ao longo da pandemia, o teatro brasileiro ofereceu ao p�blico de pe�as filmadas em grandes palcos, cumprindo o protocolo sanit�rio, a produ��es dom�sticas, com cada ator gravando cenas de sua pr�pria casa. Mar�al diz que esse formato � outro desafio.

Hist�rias do confinamento, exibido pelo Galp�o em 2020, seguiu o modelo a dist�ncia. “Fiz o desenho de luz, mas n�o estava com os atores na hora da cena. Foi muito curioso criar luz para um trabalho em que eu n�o estava ali com eles orientando, como estamos acostumados. Os atores faziam a cena com o celular. Em alguns casos, havia deslocamentos dentro da casa. T�nhamos de testar a internet antes para saber se teria sinal em todos os cantos da casa”, conta Mar�al.

Foi preciso levar em conta at� o hor�rio em que o espet�culo iria ao ar, por causa da ilumina��o natural espec�fica de cada resid�ncia. “No teatro, isso � control�vel, nas casas, n�o. Teatro em casa �s vezes parece mais simples, mas tudo isso o torna mais complicado”, diz. “N�o � teatro, mas tamb�m n�o � cinema.”

Mar�al entende que o risco, que torna o teatro t�o encantador, se mant�m nas exibi��es on-line ao vivo. E destaca o interc�mbio com os artistas. “Em alguns casos, � preciso o ator abrir e fechar a pr�pria c�mera e �udio. � interessante eles vivenciarem um pouco do trabalho t�cnico, que tem riscos espec�ficos”, observa.

Rodrigo Mar�al se preocupa com colegas durante a pandemia, sobretudo aqueles que n�o se adaptaram �s novas formas e trabalho.

“O universo da internet e das plataformas digitais n�o � algo que todos absorveram com facilidade. � um processo dif�cil, muitos amigos est�o em dificuldades”, diz. Ele e outros profissionais da �rea criaram o Coletivo Multicabo, cujas a��es visam proteger a categoria neste momento t�o complicado.


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