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Estado de Minas DAN�A

Agravamento da pandemia interrompe prepara��o de nova coreografia do Corpo

Companhia mineira decidiu suspender os ensaios de seu novo trabalho, que ter� trilha do Palavra Cantada


13/03/2021 04:00 - atualizado 13/03/2021 08:00

Adaptado ao contexto da pandemia, novo trabalho terá apenas solos, duos e trios. Ensaios estavam sendo feitos com uso de máscara(foto: José Luiz Pederneiras/Divulgação)
Adaptado ao contexto da pandemia, novo trabalho ter� apenas solos, duos e trios. Ensaios estavam sendo feitos com uso de m�scara (foto: Jos� Luiz Pederneiras/Divulga��o)

Com suas apresenta��es suspensas devido � pandemia do novo coronav�rus, o Grupo Corpo, que promoveu workshops virtuais como um gesto de afeto direcionado aos profissionais de sa�de (em primeiro lugar) e ao p�blico em geral (na sequ�ncia), ensaiou uma volta ao trabalho de cria��o.

Nas �ltimas seis semanas, os bailarinos retornaram � sede do grupo, no Mangabeiras, para iniciar a prepara��o de uma coreografia in�dita, com trilha do grupo Palavra Cantada. O agravamento da crise sanit�ria interrompeu o projeto e fez todos se recolherem novamente �s suas casas.

Rodrigo Pederneiras, core�grafo do Corpo, conta como surgiu a ideia do novo bal�. “Paulo (Tatit) e Sandra (Peres) fazem uma m�sica de que gostamos tanto, que � t�o legal, t�o boa, que um dia pensei: Quem sabe eles t�m alguma coisa pronta?”. 

Num s�bado � noite, Rodrigo pegou o telefone e ligou para Paulo Tatit, dizendo que faria uma proposta muito indecorosa. “N�s n�o temos dinheiro; estamos duros. N�o sei voc�s como est�o, mas a ideia � essa, essa, essa.”

Segundo o core�grafo, “ele adorou a proposta e ligou para a Sandra (Peres), que adorou tamb�m. Resumo da �pera: mandaram muitas m�sicas”. Desse material, Pederneiras selecionou 12 can��es e come�ou a criar a coreografia. 

A forma como a trilha foi montada lembra um pouco o processo de “Prel�dios” (1985), em que as pe�as eram independentes umas das outras, mas foram unidas pela dan�a. 

A coreografia n�o est� completa. Faltam  sete ou oito minutos dos 35 previstos, divididos em solos, duos e trios, com pouqu�ssima gente no palco. “� uma coisa que nunca fizemos. ‘Lecuona’, com duos, era outro formato. Temos uma forma meio oper�stica de apresentar, grande, com muita gente em cena”, observa Pederneiras. 

Uma coisa, no entanto, � certa, com a m�sica do Palavra Cantada, duo de prest�gio no universo da m�sica infantil, o pr�ximo trabalho do Corpo ser� “um bal� a que crian�as de 2 a 92 anos poder�o assistir e gostar muito”, na defini��o do core�grafo. 

''Como est� sendo para todo mundo que trabalha com arte, que trabalha em teatro, n�s ficamos oito meses sem fazer nada. Conseguimos voltar lentamente para tentar fazer alguma coisa, um trabalho pequeno, mantendo dist�ncia das pessoas, todos usando m�scara, seguindo � risca todos os protocolos de sa�de e, mesmo assim, agora...''

Rodrigo Pederneiras, core�grafo



Al�m da admira��o por sua qualidade musical, a escolha pelo Palavra Cantada atendeu a algumas urg�ncias. Como o Corpo trabalha com m�sica composta sob encomenda, um trabalho que partisse do zero demandaria mais tempo. Rodrigo Pederneiras diz que n�o deu tempo sequer de cogitar algum nome para esse formato regular da companhia. Mas ele n�o esconde o desejo de, um dia, trabalhar com David Byrne, de quem � f� confesso.

“Ele � uma coisa perform�tica que n�o � s� dele, mas de todo mundo que est� em cena. Acho que poderia dar um caldo. Claro que n�o sei se aceitaria o convite”, pondera. No entanto, Pederneiras confia em que Caetano Veloso, Tom Z� e Gilberto Gil (nomes que j� fizeram trilha para o Corpo) poderiam ser um canal para chegar a Byrne.  

Nova rotina 

Enquanto as coisas n�o voltam ao eixo, o core�grafo tem buscado em atividades simples a energia para enfrentar esses dias de tens�o e incerteza. Na horta que tem em casa, ele e a mulher, Ana Fl�via Couret, passam o tempo cuidando das mudas e d�o aten��o especial �s pimentas, que s�o transformadas em conserva e dadas de presente aos amigos.

Com os netos, o contato de Rodrigo � raro. Diverte-se ao reconhecer a falta de paci�ncia da pequena Estela, de 5 anos, com o celular. “Ela quer falar com o av�? Quer nada! Fala dois minutos, diz: ‘T� bom, v�. Beijo.’ Pronto, acabou. A Stelinha n�o tem saco”, conta.  J� com Pedrinho, de 13, o core�grafo conversa por telefone quase todos os dias. “Ele � muito maduro, muito legal”, elogia. 

Apesar da saudade e da dist�ncia, Rodrigo Pederneiras prefere, pelo menos por enquanto, evitar chegar perto das crian�as. “Eles t�m atividades fora de casa. Eu n�o posso brincar. Tenho 66 anos e sou do grupo de risco.”

Caminhadas no condom�nio onde mora tamb�m fazem parte da nova rotina. A leitura � obrigat�ria e, como ele garante, salva, sempre. Da programa��o de filmes na televis�o, desistiu. Lamenta n�o poder se encontrar com amigos e parentes, h� mais de um ano, nos almo�os de domingo, que volta e meia fazia para reunir a turma � mesa em torno de uma boa  canjiquinha ou uma costelinha. 

''J� cansei de tudo. A forma como n�s todos estamos vivendo � muito chata. Obviamente, uns est�o sofrendo mais do que outros. Mas todo mundo est� morrendo de medo de pegar (o v�rus) e transmitir para parentes''

Rodrigo Pederneiras, core�grafo



(foto: José Luiz Pederneiras/Divulgação)
(foto: Jos� Luiz Pederneiras/Divulga��o)

Agravamento da pandemia assusta 

“J� cansei de tudo. A forma como n�s todos estamos vivendo � muito chata. Obviamente, uns est�o sofrendo mais do que outros. Mas todo mundo est� morrendo de medo de pegar (o v�rus) e transmitir para parentes”, afirma.

Ele lamentou, logo no in�cio da pandemia, a perda do escritor S�rgio Sant'Anna, um “cara” de quem gostava muito. Sant’Anna sucumbiu � COVID-19 em maio de 2020. “Pais de amigos tamb�m j� foram embora”, conta o core�grafo. O agravamento da situa��o no pa�s o assusta. 

“Esta fase da pandemia est� me grilando muito, por estar pegando gente muito jovem. Um dos bailarinos disse que um amigo dele, de 39 anos, morreu um dia depois de ser internado. Est� tudo esquisito, piorando.” 

Diante desse cen�rio, ap�s uma reuni�o com o diretor art�stico do Corpo, Paulo Pederneiras, e os bailarinos, na segunda-feira passada (8/3) o grupo parou mais uma vez. 

O core�grafo critica a gest�o do governo federal no combate � pandemia. “Ele (o presidente Jair Bolsonaro) n�o est� sabendo o que fazer. Nunca deu a devida aten��o, nunca deu a aten��o necess�ria. Desdenhou muito do in�cio, a ‘gripezinha’. E a ‘gripezinha’ j� matou quantos milhares de pessoas? E continua essa briga pol�tica entre governadores e presidente. Por que as pessoas n�o olham para o pa�s?”, questiona.

Enquanto a vez de ser imunizado n�o chega, Pederneiras diz estar pronto, com “as mangas da camisa arrega�adas, as duas bandas dos dois bra�os preparadas, a testa, a nuca” para receber a sua dose. “Eu quero todas (as vacinas).”

Das atividades do grupo suspensas pela crise sanit�ria ele lamenta especialmente o cancelamento da apresenta��o prevista para outubro passado com a Filarm�nica de Los Angeles. 

“Est�vamos loucos para fazer um espet�culo ao vivo com a orquestra, regida por ningu�m menos que (o maestro venezuelano Gustavo) Dudamel.” A boa not�cia � que, no fim do ano passado, o assessor do maestro enviou e-mail dizendo que a ideia estava mantida. “Ainda acho que aconte�a.  Era um projeto que est�vamos acariciando de uma  forma especial.”

Embora essa esteja sendo uma alternativa durante a pandemia, o core�grafo tem a certeza de que o mundo das transmiss�es on-line n�o ser� o futuro da dan�a. “(O ambiente virtual) Poder� ser mais utilizado que era, e eu acho legal, mas o futuro da dan�a �  teatro, � p�blico, � cara a cara”, diz. 


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