
Segundo longa do diretor Vitor Brandt – o primeiro, “Copa de Elite”, foi lan�ado em 2014 –, a com�dia mostra a hist�ria dos policiais Bruceu�lis Nonato (Edmilson Filho) e Trindade (Matheus Nachtergaele) que se cruzam no melhor estilo buddy cop, mas com um toque bastante brasileiro.
RAPADURA
Bruceu�lis, depois de ser designado para cuidar da cabra Celestina, patrim�nio de Guaramobim, a perde de vista. Apaixonada por rapadura, Celestina invade um caminh�o que transporta a iguaria. Sem saber que est� se metendo com uma quadrilha de traficantes, o agente decide partir para S�o Paulo em busca do animal, levado por engano pelo criminoso.
Na capital paulista, ele encontra Trindade, policial de escrit�rio que, depois de fracassar em uma opera��o articulada para desmantelar a mesma organiza��o criminosa, � transferido para o mon�tono Batalh�o de Tr�nsito.
Ap�s certo estranhamento e as iniciais trapalhadas, Bruce e Trindade decidem formar uma dupla para resgatar Celestina e prender o chefe da quadrilha, o traficante Luva Branca, e um dos seus intermedi�rios, Ping Lee.
“O longa nasceu da vontade de fazer um tipo de filme que crescemos assistindo na 'Sess�o da tarde', como 'M�quina mort�fera' e 'Um tira da pesada'. De a��o, mas com humor. Partindo da ideia de um policial que sai de Detroit e vai para Beverly Hills resolver um caso, trouxemos um policial do interior do Cear� para solucionar um crime em S�o Paulo”, conta Brandt. O diretor assina o roteiro em parceria com Denis Nielsen.
Antes do filme, o paulistano Nachtergaele e o cearense Edmilson Filho j� haviam atuado na s�rie “Cine Holli�dy”, exibida pela TV Globo, desdobramento do filme estrelado por Filho em 2013.
“'Cabras da peste' � fruto do nosso encontro. O filme estreia no momento em que estamos gravando a segunda temporada da s�rie, � uma mandala que se fecha. Ele n�o existiria de outra forma. Fizemos uma dupla cl�ssica de palha�os. Um instintivo e outro mental”, diz Nachtergaele.
Edmilson Filho concorda. Foram ele e o produtor Halder Gomes, diretor de “Cine Holli�dy”, que sugeriram o convite a Nachtergaele para o filme.
O diretor Vitor Brandt conta que Filho participou do projeto desde que o roteiro come�ou a ser escrito. Por isso, as cenas foram pensadas para seu estilo de atua��o, que ficou conhecido como humor corporal – do qual o antigo trapalh�o Renato Arag�o, tamb�m cearense, sempre foi adepto.
Brandt deu liberdade para que Edmilson Filho e os demais atores cearenses – entre eles Val�ria Vitoriano, int�rprete da personagem Rossiclea – dessem pitacos nas cenas, com express�es e piadas.
As falas do pessoal do Cear� n�o chegam ao ponto de exigir tradu��o, como ocorre em “Cine Holli�dy”, mas trazem deliciosas express�es nordestinas desconhecidas por muitos brasileiros. Entre elas, tenha nervo (calma), cara de tabaco (de bobo) e deixe de enxame (de confus�o).
LUTA
“Cabras de peste” aposta tamb�m nas cenas de lutas marciais, sempre com olhar c�mico. Uma delas se passa em um caraoqu� no Bairro da Liberdade, em S�o Paulo, e tem como trilha o hit brega “Me chama que eu vou”, de Sidney Magal.
“Filmamos com o rigor de uma luta s�ria, mas nesta cena tem esse elemento paralelo que destoa”, afirma o diretor. Tricampe�o brasileiro de tae kwon d�, Edmilson Filho participou da elabora��o das coreografias das lutas. “� estilo Hollywood”, garante o ator.

Nachtergaele aponta
“elogio � brasilidade”
Matheus Nachtergaele diz que “Cabras da peste” chega no momento em que o pa�s precisa aliviar a tens�o. “� um elogio � brasilidade. Uma tentativa jocosa de fazer um g�nero (buddy cop) que n�o � originalmente nosso, com dois atores que representam muito a brasilidade, cada um ao seu modo, e que amam muito seu pa�s. O filme � fruto de um afeto, ele quer ser esse afeto. Espero que, de fato, o seja”, diz.
Ontem, em seu perfil no Instagram, Nachtergaele comemorou o sucesso da com�dia: “'Cabras da peste', pelo terceiro dia em primeiro lugar entre os filmes da Netflix.!!!! Quem j� assistiu?”
HARMONIA
O cearense Edmilson Filho destaca uma caracter�stica especial da com�dia: “� um filme de aproxima��o, com um nordestino e um paulistano que se complementam. Mostra que as diferen�as podem conviver. Neste momento de tanta raiva solta por a�, pode unir as pessoas, colocar a fam�lia toda para dar risada. Ele d� v�rias pistas de que essa aproxima��o � poss�vel”, diz.
Apesar da leveza, o longa n�o deixa de criticar o sistema pol�tico por meio do personagem Z� Cabrito (Marcondes Falc�o), deputado cujo slogan � “O Brasil acima de tudo e eu acima de todos”. Completam o elenco Let�cia Lima, Evelyn Castro, Juliano Cazarr� e Victor Allen.
Como todo filme do g�nero que se preze, o final do longa deixa em aberto uma poss�vel continua��o. O cineasta Vitor Brandt confirma essa vontade, embora diga que, por ora, n�o h� nada planejado. De certo, apenas o desejo do nome: “Cabras da peste 2: Miami vixe”.
Os atores Matheus Nachtergaele e Edmilson Filho s�o entusiastas da continua��o. “As filmagens tiveram um clima t�o gostoso que quando fomos para o Cear� (distrito de Guanac�s, a 90 minutos de Fortaleza), a Let�cia (Lima, que interpreta a policial Priscila) foi conosco, mesmo sem ter cenas l�. Com a pandemia, aprendi que presente � estar presente”, conta Nachtergaele.
“No set, mesmo antes de o filme pronto, percebemos que sairia algo especial. A dupla de policiais criada ali pode ir para qualquer lugar, participar de diversas aventuras”, afirma Filho, contente que o longa, por estrear na Netflix, estar� dispon�vel em mais de 190 pa�ses.
“J� recebi mensagens de nordestinos pelo mundo felizes em poder assistir ao filme”, conclui o ator cearense.

PIONEIRO JAPON�S
Filmes do g�nero buddy cop s�o protagonizados por dois personagens de personalidades conflitantes, como policiais ou agentes secretos, obrigados a formar duplas para enfrentar criminosos. O pioneiro do estilo � “C�o danado” (1949), dirigido pelo japon�s Akira Kurosawa, estrelado por Toshiro Mifune e Takashi Shimura.
Outros destaques do g�nero s�o “No calor da noite” (1967), de Norman Jewinson, com Sidney Poitier e Rod Steiger; “Duas ovelhas negras” (1975), de Richard Rush, com Alan Arkin e James Caan; “48 horas” (1982), de Walter Hill, com Eddie Murphy e Nick Nolte; e “M�quina mort�fera” (1987), de Richard Donnes, com Mel Gibson e Danny Glover.