“� um espet�culo em forma de cordel, que conta a hist�ria de amor de William Shakespeare, na vis�o do escritor paraibano Ariano Suassuna (1927-2014), misturando o erudito com o popular”, explica o artista. No primeiro ato, o ator interpreta as 98 sextilhas do cordel “A hist�ria de amor de Romeu e Julieta”, acompanhado por m�sica ao estilo do Movimento Armorial. No segundo, ele reproduz uma mini-aula espet�culo de Suassuna. “O diferencial desta temporada est� na experi�ncia sensorial proporcionada pelas grava��es em 360 graus”, comenta.
Ele esclarece que o formato proporciona ao espectador a sensa��o de estar presente em qualquer ambiente e em diferentes �ngulos. “As imagens permitem que o espectador se sinta no local, como se real fosse e mais inserido na trama, escolhendo o seu pr�prio ponto de vista por meio dessa ferramenta.”
Em 1997, Aramis participou de uma montagem do espet�culo cujo elenco tinha 15 pessoas. “Naquela �poca, j� vislumbrava a possibilidade de algum dia transformar o espet�culo em um mon�logo”, conta o ator. Foi em 1999 que ele se encontrou com Suassuna nos est�dios da Rede Globo, durante as filmagens da s�rie “O auto da compadecida”, adapta��o da obra do paraibano.
“Disse pra ele: ‘Mestre, voc� se lembra daquela pe�a que fiz h� dois anos?’. Ele respondeu, ‘Claro, claro’. Pois �, estava pensando em readapt�-la para um mon�logo, n�o agora, mas daqui a alguns anos. Ele sinalizou que sim e, quando foi em 2011, quase 13 anos depois, fiz a adapta��o e estreei no ano seguinte.”
Cada parte do espet�culo tem 20 minutos. Na aula-espet�culo, Aramis mimetiza Ariano falando sobre “a origem da pe�a, dos autores, do movimento armorial. Ariano ‘fala’ da vers�o de Aramis, que ele tinha acabado de ver, do primeiro ato, que � uma vers�o do teatro armorial, cujo movimento est� completando 51 anos”. O ator lembra que “Ariano criou esse movimento. Na verdade ele propunha uma arte erudita brasileira, s� que a partir da raiz popular da nossa cultura”.
O ator afirma que, na trilha sonora, � f�cil o p�blico perceber a por��o erudita, “por causa das flautas transversas. E perceber o popular por causa dos p�fanos”. Al�m disso, “ainda tem a flauta doce, no minueto, quando Romeu conhece Julieta durante a dan�a da tocha. Essa dan�a existe at� hoje nas quadrilhas de s�o-jo�o, durante a troca de casais. Vou me situando, por�m procurando manter o original. Na verdade, situo a obra mais de acordo com as comunidades regionais brasileiras”.
TRILHA
Aramis explica que, a depender da encena��o, o motivo da morte do casal � diferente do original. “Na verdade, h� v�rias diferen�as, mas o b�sico � igual. O mais bacana disso tudo � o cruzamento de linguagens que � a Inglaterra com o Nordeste brasileiro, ou seja, o erudito com o popular.”
O primeiro ato tem o tom da trag�dia e o segundo, da com�dia. “Nessa vers�o que fa�o, sou acompanhado pelos m�sicos Z� da Flauta, que j� toca com Alceu Valen�a h� mais de 30 anos. Ele fez a trilha sonora do poema para mim. Ali�s, ele n�o s� fez a trilha, como tamb�m colocou as flautas transversas, doce, p�fanos e ainda convidou o Tuca Ara�jo, amigo em comum, para tocar uma viola de 12 cordas. Ent�o, a m�sica ficou bem armorial”, comenta Aramis.
O ator tamb�m convidou Dantas, filho de Suassuna, para fazer o cen�rio. “Sei que, al�m de artista pl�stico, ele � cen�grafo. Ele fez uma pequena arena para que eu pudesse ter o meu territ�rio emocional sagrado. O figurino � da tamb�m pernambucana Luciana Buarque, que reencontrei durante as grava��es da s�rie ‘Hoje � dia de Maria’, dirigida por Luiz Fernando Carvalho.”
Antes da pandemia do novo coronav�rus, Aramis Trindade levou o espet�culo a diversas comunidades e escolas. “Pego um mecenas, no bom sentido da palavra, um fomentador, um empres�rio que me compra apresenta��es. A� fa�o de gra�a na comunidade. J� fiz mais de 30, e as crian�as adoram”, diz. Ele conta, que, certa vez, ap�s a encena��o em uma comunidade, uma crian�a se aproximou dele e perguntou: “O senhor � de qual estrangeiro?”.
“Isso por causa do sotaque do personagem que imprimo no primeiro ato. Um narrador que � um misto de ator, cordelista, vaqueiro e homem do Nordeste. Ele tem o principal elo com o esp�rito m�gico dos folhetos e fala da cultura popular.”
Aramis Trindade est� no elenco de "Nos tempos do imperador", pr�xima novela das 18h da Globo, e na nova temporada da s�rie "Cine Holli�dy". Ele tamb�m rodou o longa-metragem "Depois do trem", de Joel Pizzini, no papel do protagonista, Joaquim Cardozo.
Com 42 anos de carreira no teatro, no circo, no cinema e na TV, o ator tem no curr�culo mais de 40 pe�as, 70 filmes, 28 s�ries e 12 novelas. Ele j� foi o Visconde de Sabugosa no “S�tio do pica-pau amarelo”, o Cabo Setenta em “O auto da compadecida” e o Tenente Lindalvo de “Baile perfumado”, pelo qual recebeu o trof�u Candango de melhor ator coadjuvante no Festival de Bras�lia.
“ROMEU E JULIETA, CORDEL DE ARIANO SUASSUNA”
Mon�logo com Aramis Trindade. Nesta sexta-feira (27/3) e s�bado (28/3), �s 21h, com transmiss�o gratuita pelo Instagram do ator.