O “palco digital” se imp�s �s artes c�nicas nestes tempos de pandemia, em que espet�culos com a presen�a do p�blico foram implacavelmente interditados. As pe�as “O desejo do outro”, que estreia nesta sexta-feira (2/4), e “Gravidade zero”, que encerra temporada no s�bado (3/4), foram escritas para o formato presencial e tiveram de se adaptar ao formato on-line.
“Uma crise fornece a oportunidade de uma revis�o. N�o necessariamente o formato de antes era o ideal, era apenas o formato que a gente conhecia. Com a crise, a gente coloca em xeque toda a estrutura de distribui��o e organiza��o da cultura”, afirma Pedro Guilherme, ator de “O desejo do outro”. “A arte do p�s-guerra, por exemplo, � completamente diferente da arte de antes da guerra. A gente passa a adaptar tanto o conte�do quanto a forma”, observa.
Antes da pandemia, a pe�a vinha sendo ensaiada com a presen�a da equipe. A ideia era mesclar elementos de teatro e cinema, ou seja, a encena��o de Pedro no palco com imagens no tel�o. A montagem que estreia hoje ser� como uma conversa em plataformas de videoconfer�ncia, com imagens refletidas na tela em concomit�ncia com a performance de Pedro.
“O desejo do outro” se baseia quase inteiramente na realidade. Pedro tenta se aproximar do pai, falecido h� 18 anos, simulando uma conversa sobre a rela��o dos dois e tamb�m sobre a pandemia. Pedro examina l�minas no microsc�pio, enquanto o tel�o exibe imagens de v�rus, c�lulas e amostras de DNA, assim como fazia o pai dele, um pesquisador. Por meio dessas investiga��es, Pedro revela ao p�blico que o pai, homossexual, era portador de HIV.
O processo de perda est� no centro da trama. “Eu era muito jovem e perdi meu pai de forma muito abrupta, n�o tive com ele as conversas que gostaria para poder entender melhor as coisas que aconteceram tanto com ele quanto com a gente como fam�lia”, comenta o ator.
ZOOM No caso da vers�o digital de “Gravidade zero”, as filmagens ficaram por conta do diretor de fotografia Cau� Angeli e de Andr� Kitagawa, que dirige a pe�a. A ideia � apresentar um teatro que se aproxima do plano cinematogr�fico, por meio de movimentos de c�mera e zoom, a fim de captar express�es mais sutis dos atores e os m�nimos detalhes do cen�rio.
“Logo de cara, falei para o diretor de fotografia: 'N�o quero que voc� coloque a c�mera no assento da plateia e simplesmente filme a pe�a’. J� que a gente n�o est� no teatro, n�o precisamos ficar presos ao ponto de vista do espectador de teatro. A ideia � que a c�mera se aproxime, seja din�mica, como se estivesse quebrando a quarta parede”, explica Andr� Kitagawa.
Escrito em 2001 por M�rio Bortolotto, o mon�logo, que estreou nos palcos naquele ano, traz um homem sonhador e libert�rio, interpretado por Francisco Eldo Mendes, que n�o se conforma com as regras impostas pela sociedade. Desde crian�a obcecado pela ideia de voar, as aspira��es dele parecem n�o ter lugar num mundo que teima em pux�-lo para o ch�o frio da realidade.
“A reflex�o que trago � que as pessoas se prendem demais aos compromissos, seja um emprego ou um casamento falido. A pe�a � sobre n�o manter as coisas que atrapalham sua vida, sobre fazer algo apenas enquanto aquilo te faz feliz”, afirma M�rio Bortolotto.
*Estagi�rio sob supervis�o da
editora-assistente �ngela Faria
“O DESEJO DO OUTRO”
Estreia hoje (2/4), com sess�es �s sextas e s�bados, �s 20h. At� 17 de abril. Transmiss�o no canal do ator Pedro Guilherme no YouTube.
“GRAVIDADE ZERO”
As duas �ltimas sess�es ocorrer�o hoje (2/4) e s�bado (3/4), �s 21h, no canal do espet�culo no YouTube. Ap�s a apresenta��o, tem bate-papo com a equipe do espet�culo.