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Estado de Minas GIBIS

Acuadas pela crise, lojas de HQ fazem campanha nos moldes Davi x Golias

Pequenos comerciantes incentivam os f�s de quadrinhos a privilegiar o neg�cio local, para evitar seu fechamento definitivo


10/04/2021 06:00 - atualizado 12/04/2021 16:01

A Loja Monstra, referência no mercado de quadrinhos em São Paulo, que integra o grupo autor da iniciativa(foto: Guilherme Lorandi/Divulgação)
A Loja Monstra, refer�ncia no mercado de quadrinhos em S�o Paulo, que integra o grupo autor da iniciativa (foto: Guilherme Lorandi/Divulga��o)

As lojas de revistas em quadrinhos resistiram �s mudan�as no com�rcio nas �ltimas d�cadas n�o s� em raz�o de suas prateleiras repletas de exemplares, mas por serem tamb�m um ponto de encontro de entusiastas do formato. 

Embora a tecnologia j� permitia adquirir um novo gibi via internet, esses estabelecimentos ainda se diferenciam por oferecer a troca de experi�ncias entre p�blico e lojistas, num setor cultural intensamente alimentado tanto pelas novidades quanto pelas antiguidades

Por�m, com o agravamento da pandemia, esses tradicionais espa�os das grandes cidades pedem ajuda para seguir em frente e manter vivo o sonho de voltar a operar normalmente.

No fim do m�s passado, foi lan�ada a campanha nacional Apoie as Lojas de Quadrinhos. O movimento partiu de comerciantes de S�o Paulo, propriet�rios das lojas Comix Book Shop, Comic Boom! e Loja Monstra. Outros estados logo aderiram.

"Amamos o que fazemos, n�o somos um algoritmo, n�o temos aparelho escutando o que cada um fala em casa para transformar em an�ncio e venda, n�s somos o term�metro do mercado de quadrinhos"

Guilherme Lorandi,� propriet�rio da Loja Monstra, em S�o Paulo


Recorrendo a publica��es nas redes sociais, o grupo pretende valorizar os neg�cios independentes do setor diante do poderio das grandes empresas internacionais de com�rcio virtual. 

Guilherme Lorandi, respons�vel pela Loja Monstra, inaugurada em 2018, explica que o foco de seu empreendimento sempre foi presencial, assim como era na antiga Gibiteria, que funcionava anteriormente no mesmo local, na Pra�a Benedito Calixto, na Zona Oeste da capital paulista. 

A migra��o para o digital foi for�ada pelo in�cio da pandemia do novo coronav�rus, em mar�o do ano passado, e ajudou a manter as contas em dia e o contato com a clientela enquanto n�o era poss�vel abrir as portas.
 
Jefferson Miranda e Anderson Rodrigues, sócios responsáveis pela Casa da Revista, reduto dos quadrinhos em BH (foto: Rafael Dinnamarque/Divulgação)
Jefferson Miranda e Anderson Rodrigues, s�cios respons�veis pela Casa da Revista, reduto dos quadrinhos em BH (foto: Rafael Dinnamarque/Divulga��o)

"Todo dia receb�amos pe�as novas, e � dif�cil catalogar tudo on-line. Quando pudemos reabrir, vieram etapas, tivemos que colocar algumas normas e mudou bastante a din�mica da loja. � um produto que as pessoas gostam de tocar e conversar. Tem gente que entra na loja para ficar uma hora, com uma lista de volumes para encontrar e completar a cole��o. Isso tudo teve que mudar"

Jefferson Miranda, s�cio da Casa da Revista, em BH

Preocupa��o com fechamento prolongado

“No come�o, nossa preocupa��o era que, se fic�ssemos fechados por muito tempo, fechar�amos de vez. Ent�o fizemos campanha para divulgar as vendas no site e deu um bom resultado, puxou um movimento legal para a compra virtual”, diz Lorandi. Ele conta ainda que “houve at� um boom de vendas e um respiro com a primeira reabertura do com�rcio, no ano passado, mas, neste novo fechamento, as coisas ficaram mais dif�ceis”. 

Segundo o empreendedor, “parece que n�o h� mais o mesmo impacto no cora��o das pessoas. Acho que muita gente pensa que quem sobreviveu at� agora consegue sobreviver mais tempo, mas estamos muito pior. Antes havia dinheiro em caixa, agora estamos vendendo o de hoje para pagar o de amanh�. Est� muito complicado”. 

Um dos principais motivos da campanha rec�m-lan�ada � o fortalecimento das lojas independentes, numa disputa que j� era complicada antes da pandemia. Segundo os lojistas, o com�rcio virtual desse nicho � dominado por empresas multinacionais, como a Amazon. 

Lorandi afirma que suas vendas costumam representar aproximadamente 1% das efetuadas pelo site norte-americano, quando h� a pr�-venda de algum lan�amento. “Eles vendem 3 mil, enquanto eu vendo 30 exemplares quando � best-seller.” 

Sobre a uni�o das lojas especializadas, ele afirma: “N�o estamos s� pedindo ajuda, mas lembrando que temos nossa loja e somos apaixonados por isso. O dinheiro � consequ�ncia. Fazemos isso porque amamos, somos p�blico tamb�m. Queremos alertar que, �s vezes, por pouca diferen�a de pre�o � poss�vel comprar com a gente e ter uma aten��o especial no produto, na embalagem e no envio”. 

Ele destaca que muitos processos de compra virtual acabam automatizados por parte do p�blico e pede que haja paci�ncia, por exemplo, para os cadastros exigidos nas compras das lojas menores. Al�m disso, destaca que o trabalho de curadoria dos lojistas �, de certa forma, mantido no ambiente virtual. 
 
Loja Comic Boom!, em São Paulo, responsável pela campanha nacional
Loja Comic Boom!, em S�o Paulo, respons�vel pela campanha nacional "Apoie as Lojas de Quadrinhos" (foto: Fabio Garcia/Divulga��o )

"N�o temos certeza se continuaremos vivos, literal e economicamente, ent�o bolamos essas a��es e um selo para o pessoal aderir � campanha"

F�bio Gracia,� propriet�rio da Comic Boom!, em S�o Paulo�


Pandemia for�ou uni�o de lojistas

 “No meu atendimento presencial, se eu indico um quadrinho que o cliente n�o v� gostar, ele n�o volta. Seguimos com esse cuidado, estamos fazendo v�deos, lives, tentando ter esse tipo de troca de informa��es que t�nhamos na loja tamb�m na internet. Temos que resistir. Esse � o mote da campanha.” 

A Loja Monstra conta hoje, segundo o propriet�rio, com cerca de 4 mil t�tulos em cat�logo, muitos deles de edi��o independente. A loja tamb�m trabalha com a venda de exemplares autografados, como fez recentemente com “Gatilho”, primeiro volume da trilogia western “pistoleiro sem nome”, escrita por Carlos Estefan (Jones, Inc), ilustrada por Pedro Mauro (Mugiko) e lan�ada pela Pipoca & Nanquim. 

F�bio Gracia, dono da loja paulistana Comic Boom!, foi o principal articulador do movimento entre as lojas de HQs. Ele diz que havia um bom relacionamento anterior entre os lojistas e que a pandemia refor�ou essa necessidade de uni�o.
“N�o temos certeza se continuaremos vivos, literal e economicamente, ent�o bolamos essas a��es e um selo para o pessoal aderir � campanha”, explica. Garcia tamb�m refor�a o car�ter educativo da proposta. 

“O cora��o dessa campanha � a conscientiza��o. N�o estamos passando chap�u, nem pedindo doa��es. Sabemos das dificuldades, da infla��o, e que o gibi � um sup�rfluo. Entre o feij�o e o gibi n�o h� escolha para muita gente. Mas, para quem quer ter essa v�lvula de escape e n�o vai deixar de comprar um quadrinho para ler nesse per�odo dif�cil, nosso lance � conscientizar para ajudarmos uns aos outros”, diz Gracia.

Rela��o com o p�blico � aposta


Em Belo Horizonte, cidade que desde 1999 realiza o FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) – um dos eventos mais importantes do ramo no Brasil –, lojistas tamb�m tentam amenizar as adversidades investindo na boa rela��o com o p�blico. 

Aberta desde 2003, a Casa da Revista, localizada na Rua da Bahia, regi�o Centro-Sul da capital, tem foco total em quadrinhos, mang�s (hist�ria em quadrinhos de origem oriental) e artigos correlatos, mas seu funcionamento sempre foi al�m de um simples ponto de venda.

“A loja � uma coisa muito social. Clientes viram amigos, s�o pessoas que v�o de segunda a sexta, em hora de almo�o, gente que tem prazer de garimpar o material, muita gente que coleciona h� mais de 20 anos. O barato n�o � s� ter o quadrinho. At� porque, o com�rcio virtual est� a� h� muito tempo,  mas ter um lugar de conversa e de descobertas”, afirma Jefferson Miranda, que divide o neg�cio com o amigo Anderson Rodrigues. Os s�cios se conheceram nos anos 1990, gra�as aos quadrinhos. 

“Ele trabalhava em uma banca, em Venda Nova, onde eu comprei meus primeiros quadrinhos do Homem-Aranha. Naquela �poca, n�o havia telefone celular, nem internet. Perdi o contato, depois o reencontrei trabalhando no Centro, em outra banca, tamb�m com quadrinhos”, conta Jefferson. 

N�o demorou para a dupla juntar for�as em neg�cio pr�prio, que aproveitou a amplia��o do p�blico nos �ltimos anos. “Houve esse boom impulsionado pelos super-her�is no cinema. Antes n�o era assim, havia at� um preconceito, achavam que quadrinho era s� coisa de nerd e de crian�a”, diz ele. 

Mesmo com a atual popularidade das HQs, as dificuldades trazidas pela pandemia foram inevit�veis. O propriet�rio explica que a Casa da Revista j� praticava o e-commerce h� alguns anos, via rede social, sobretudo pela rela��o com p�blico de outros estados constru�da nas edi��es do FIQ. Mesmo assim, a impossibilidade de receber os clientes teve seu efeito. 

“Todo dia receb�amos pe�as novas, e � dif�cil catalogar tudo on-line. Quando pudemos reabrir, vieram etapas, tivemos que colocar algumas normas e mudou bastante a din�mica da loja. � um produto que as pessoas gostam de tocar e conversar. Tem gente que entra na loja para ficar uma hora, com uma lista de volumes para encontrar e completar a cole��o. Isso tudo teve que mudar”, explica Jefferson. 

O acervo da loja tem  cerca de 30 mil exemplares. Eles v�o desde volumes de personagens cl�ssicos, como Fantasma, Mandrake e Flash Gordon, lan�ados pela Editora Ebal, at� os lan�amentos recentes, em edi��es deluxe, de capa dura, passando pelos populares n�meros de Batman, Hulk, Homem-Aranha e cia., lan�ados pelas editoras Abril, Globo e Panini. 

Jefferson diz que compreende o fechamento do com�rcio, diante da gravidade do momento da pandemia. “N�o h� o que fazer. Todo mundo teve que se remanejar. O com�rcio on-line nunca foi nossa prioridade, gostamos desse contato com o p�blico que se forma na loja. Ent�o, esperamos que pessoas tenham essa consci�ncia de comprar do pequeno, dando oportunidade para a quest�o local, porque quem j� � grande vai continuar grande”, argumenta. 

Ele argumenta ainda que “as lojas menores s�o um espa�o cultural, � uma coisa social. Cada quadrinho comprado com a gente faz muita diferen�a para quem est� com a porta fechada e as despesas com im�vel e aluguel correndo”. Em sua avalia��o, “o hobby de cada um tem uma import�ncia enorme neste momento. No isolamento, o quadrinho tem um papel que vai al�m da divers�o para quem est� sozinho”.  

Acompanhe 

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