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Estado de Minas DAN�A

Espet�culo de dan�a exp�e os horrores da ditadura brasileira

Cia Carne Agonizante lan�a adapta��o audiovisual de "Col�nia penal", inspirado na obra de Franz Kafka. No palco, bailarinos revelam torturas e execu��es


12/04/2021 04:00 - atualizado 12/04/2021 07:57


"Col�nia penal" � um atentado contra a dignidade humana, uma cr�tica aberta aos regimes autorit�rios, como retratado em "Na col�nia penal", de Franz Kafka (foto: Alex Merino/DIVULGA��O)

A Cia. Carne Agonizante, de S�o Paulo, lan�a nesta ter�a-feira (13/4) a adapta��o audiovisual do seu espet�culo de dan�a “Col�nia penal”, que relaciona a obra de Franz Kafka (1883-1924) com a ditadura militar brasileira. A temporada virtual vai at� 28 de abril, de forma gratuita, com oito exibi��es. Em quatro delas haver� bate-papo com os artistas na plataforma Zoom, ap�s a transmiss�o.

A companhia de dan�a – especializada em tem�ticas pol�ticas, provocativas e de resist�ncia – estreou “Col�nia penal” em 2013. Desde ent�o, promove o espet�culo frequentemente, convidando o espectador para uma reflex�o sobre a hist�ria da ditadura brasileira. A obra � inspirada no livro de Franz Kafka que retrata o m�todo de tortura de uma fict�cia col�nia francesa, sendo cr�tica aberta aos regimes autorit�rios.

“O Kafka foi meio uma droga na minha vida. Experimentei e, desde ent�o, esse autor vem me atormentando sempre”, descreve Sandro Borelli, de 61 anos, core�grafo da Cia. Carne Agonizante e diretor do espet�culo. O grupo explora a obra do escritor tcheco desde 2002, quando lan�ou a adapta��o de "A metamorfose" (1915) nos palcos. Ao mergulhar em “Na col�nia penal” (1919),  Borelli imediatamente relacionou a trama ao regime militar brasileiro devido � persegui��o, tortura e assassinato de opositores do Estado.

“Unir esse ambiente inusitado do Kafka com a tortura na ditadura militar brasileira foi um orgasmo. � minha oportunidade de combater atrav�s da arte o assassinato em massa de brasileiros que ocorreu nos 21 anos de regime militar”, ressalta o diretor. “Preciso estar movido pela indigna��o para criar. Ent�o, � um espet�culo que foi vomitado. Esse processo criativo foi uma vontade de lembrar nossa hist�ria, porque as feridas (da ditadura) continuam abertas, sangrando, e n�o se discute isso, principalmente nesse tipo de governo vigente no pa�s”, completa.

Na adapta��o, Sandro Borelli empregou o palco como local de tortura.  No fundo, existe uma mesa com cinco personagens an�nimos jantando, bebendo e jogando baralho. Cada um deles simboliza um representante do regime ditatorial: Estado, Ex�rcito, capital, elite e grande imprensa.

A bailarina Patr�cia Pina encena a torturada, que se apresenta para o grupo e sofre as mais terr�veis barb�ries, fazendo duetos com os opressores. O espet�culo n�o tem texto ou sequ�ncia de passos pr�prios da dan�a contempor�nea. Por meio de uma estrutura de gestos, a��es e movimentos, eles constroem uma dramaturgia corporal teatralizada para gerar um jogo de tens�o no espectador.

“Col�nia penal” prop�e o encontro entre o ins�lito e o absurdo. Em sua maneira de resistir, a personagem faz contraponto aos torturadores ao n�o esbo�ar rea��es �s agress�es, sem gritos ou gemidos. “Esse ambiente kafkiano est� presente o tempo todo. Inclusive, em alguns momentos, parece que essa torturada est� ali de prop�sito para rebater esse sistema opressor”, afirma Sandro.

Segundo ele, a bailarina precisa de preparo f�sico e psicol�gico para suportar a humilha��o. Nas temporadas presenciais, eram necess�rios dois dan�arinos para revezar o papel devido ao esfor�o empregado no palco. Entre os artistas presentes em “Col�nia penal”, Patr�cia Pina � a �nica com o rosto � mostra. Os personagens que representam os torturadores vestem ternos e m�scaras para manter o anonimato.

O diretor acredita que a adapta��o para o formato audiovisual, por meio do trabalho de uma equipe especializada em cinema, potencializou ainda mais o espet�culo. “A energia c�nica continua presente no trabalho, s� que em uma outra linguagem", esclarece Sandro, que aprovou a experi�ncia em v�deo. A montagem n�o sofreu nenhuma altera��o c�nica na transposi��o para o novo formato imposto pela pandemia de COVID-19.

“Col�nia penal” � um atentado contra a dignidade humana, com o anti-her�i kafkiano lan�ado, torturado e executado nos por�es da ditadura militar brasileira. Para a Cia. Carne Agonizante, lan�ar o projeto durante o governo de Jair Bolsonaro � uma forma de resist�ncia.

“� um momento de enfrentamento. O artista, a arte brasileira, n�o deve ter medo desse governo, muito pelo contr�rio. Ent�o, o momento atual � muito pertinente (para lan�ar o v�deo). � poesia de guerra mesmo, contra esse Estado que est� a�”, defende Sandro Borelli, que se descreve com a "ira de Aquiles”, em “Il�ada”, ao promover o espet�culo no contexto atual.

Segundo ele, ap�s um s�culo do lan�amento do livro “Na col�nia penal”, a obra de Kafka continua atual, sendo um momento oportuno para retomar a reflex�o proposta. “Esse espet�culo ('Col�nia penal') n�o vai estar datado nunca, infelizmente. A gente convive com essa discuss�o o tempo todo”, concluiu.

* Estagi�rio sob supervis�o da subeditora Tet� Monteiro


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