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Estado de Minas LITERATURA

Roberto Carlos j� foi chamado de "debiloide" e sua obra de "pul�vel"

"Querem acabar comigo", livro de Tito Guedes e hom�nimo � m�sica de RC, trata a obra do maior �dolo da MPB por meio de cr�ticas sobre seus discos na imprensa


12/04/2021 04:00 - atualizado 12/04/2021 08:04

Cantor e compositor lançou em 1966
Cantor e compositor lan�ou em 1966 "Roberto Carlos" e, entre as faixas, estava "Querem acabar comigo" (foto: Oswaldo Amorim/O Cruzeiro/EM/D.A Press %u2013 1966)
Em dezembro de 1993, Roberto Carlos lan�ou seu �lbum de n�mero 33. As r�dios da �poca logo destacaram “Coisa bonita” (Roberto e Erasmo), em que o Rei cantava para as gordinhas. Mas foi outra can��o que fez hist�ria, mantendo-se at� hoje em seu repert�rio: “Nossa Senhora” (tamb�m com Erasmo Carlos). De relevante entre as nove faixas tamb�m estava a regrava��o de “Se voc� pensa” (mais uma da lavra com o parceiro eterno), regrava��o do �lbum “O inimit�vel” (1968).

A cr�tica n�o quis saber. “Trabalho muito duro de aturar”, escreveu Ant�nio Carlos Miguel; “pul�vel” e “mon�tono”, descreveu Carlos Albuquerque; “tudo soa repetitivo”, resumiu Mauro Ferreira. O que chama a aten��o n�o � o aspecto negativo da an�lise, algo que acompanha Roberto desde o in�cio da carreira. Mas sim que os tr�s textos que, exceto um detalhe ou outro, diziam a mesma coisa, dividiram a mesma p�gina, uma capa do caderno de cultura do jornal “O Globo”.

Em 1966, lan�ou “Roberto Carlos”, primeiro dos discos que, a partir de ent�o, passaram a ter somente seu nome no t�tulo. No repert�rio estava “Querem acabar comigo”, composi��o que assina sozinho (naquele momento havia tido cisma com Erasmo). � esse tamb�m o t�tulo de um livro que trata, sob um vi�s in�dito, a obra do Rei.
Nos anos 1970, o ídolo da música brasileira já arrastava uma multidão de fãs aos seus shows, como o do ginásio do Canto do Rio(foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press %u2013 1974)
Nos anos 1970, o �dolo da m�sica brasileira j� arrastava uma multid�o de f�s aos seus shows, como o do gin�sio do Canto do Rio (foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press %u2013 1974)

“Querem acabar comigo – Da Jovem Guarda ao trono, a trajet�ria de Roberto Carlos na vis�o da cr�tica musical” (M�quina de Livros), de Tito Guedes, acompanha seis d�cadas da produ��o do maior �dolo da m�sica brasileira por meio do que foi escrito sobre seus discos na imprensa. Desdobramento do trabalho de conclus�o da gradua��o de estudos de m�dia, pela Universidade Federal Fluminense (UFF), a obra separa por d�cadas a an�lise sobre a m�sica de Roberto.

Guedes, que concentrou sua pesquisa na imprensa carioca e paulista, trabalhou a partir de uma centena de textos. “A cr�tica musical sempre abra�ou Caetano, Chico, Tom Jobim, ainda que tenha criticado um ou outro �lbum. Para artistas considerados cafonas, os cr�ticos nem se davam ao luxo. O Roberto ficava no meio disso”, comenta.

Nunca pegaram leve com o Rei, mesmo que atualmente, sob a perspectiva temporal, muito da sua obra da fase inicial tenha sido reavaliada. Um dos primeiros textos de destaque na imprensa foi de S�rgio Augusto, refer�ncia no jornalismo cultural. Em 1965, quando atuava no “Jornal do Brasil”, o escritor e jornalista chamou Roberto, ent�o �dolo da Jovem Guarda, de “debiloide”.
Em seu último show em Belo Horizonte, em abril de 2018, Roberto Carlos se apresentou no Mineirinho (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press %u2013 7/4/18)
Em seu �ltimo show em Belo Horizonte, em abril de 2018, Roberto Carlos se apresentou no Mineirinho (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press %u2013 7/4/18)

“O surgimento do Roberto veio na �poca da pr�pria consolida��o da cr�tica musical no Brasil”, destaca Guedes. Boa parte dos textos analisados s�o de jornalistas que ajudaram a construir a mem�ria da m�sica brasileira, como T�rik de Souza, Zuza Homem de Mello e S�rgio Cabral.

Profusos at� os anos 1990, com a crise da imprensa escrita, que viu a perda do espa�o destinado � cr�tica cultural, os textos anal�ticos sobre a obra de Roberto tamb�m diminu�ram. Tanto que Guedes encontrou somente um texto mais aprofundado sobre o single “Sereia” (2017), um dos lan�amentos mais recentes do Rei.

O grosso do material vem de jornais, mas o autor destaca tr�s textos ensa�sticos. Em 1979, na colet�nea “Anos 70”, Jos� Miguel Wisnik escreveu que a cr�tica n�o estava preparada para falar de Roberto, que batia sempre na tecla do “cantor comercial”. Em defesa da obra, ele comentou que at� ent�o ningu�m havia tentado entender o porqu� de o Rei se manter no topo por tanto tempo. “Pedi � minha mulher que escrevesse sobre isso”, continuou Wisnik.
 RC faz show em 1968 no Minas Tênis Clube para celebrar o aniversário da TV Itacolomi. No mesmo ano, apresenta o álbum
RC faz show em 1968 no Minas T�nis Clube para celebrar o anivers�rio da TV Itacolomi. No mesmo ano, apresenta o �lbum "O inimit�vel' (foto: Arquivo EM. Brasil %u2013 10/11/1968)

VOZES M�LTIPLAS 
Nove anos mais tarde, no ensaio “Democratiza��o no Brasil – 1979-1981”, Silviano Santiago destacou que o texto de Wisnik foi a primeira “leitura simp�tica e favor�vel” ao cantor, mas que o autor havia ca�do em uma “armadilha de g�nero”, ao se colocar no lugar de sua mulher para falar da obra de Roberto. Mesmo que a quest�o n�o tenha virado uma celeuma, em 2005, em uma reedi��o de “Anos 70”, Wisnik escreveu uma r�plica a Santiago, dizendo considerar “surpreendentemente inocente” que o ensa�sta mineiro tenha achado que ele havia realmente pedido ajuda � mulher, e que seu texto havia sido escrito em “vozes m�ltiplas”.

“Ainda que os textos do Wisnik e do Santiago tenham um di�logo com a academia, at� hoje � muito raro um estudo, uma disserta��o sobre Roberto”, finaliza Guedes que tem a inten��o de iniciar um mestrado no mesmo tema.

QUEREM ACABAR COMIGO
 De Tito Guedes
 M�quina de Livros
144 p�ginas
R$ 42 (livro) e R$ 28,90 (e-book)

Novo livro em pr�-venda

Roberto Carlos, que chega aos 80 na pr�xima segunda (19/4), � mais do que sabido, levou para a Justi�a o pesquisador Paulo C�sar de Ara�jo e conseguiu recolher, em 2007, a biografia “Roberto Carlos em detalhes”. Em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou as biografias n�o autorizadas e o imbr�glio acabou gerando outro livro de Ara�jo, “O r�u e o rei” (2014). Ara�jo volta a escrever sobre Roberto em dois livros, o primeiro, “Roberto Carlos outra vez”, com lan�amento para este semestre. J� o jornalista Jotab� Medeiros, que j� biografou Belchior e Raul Seixas, lan�a na semana que vem “Roberto Carlos: Por isso essa voz tamanha”. O volume, em pr�-venda, estar� dispon�vel para o p�blico a partir do dia do anivers�rio do Rei.

O QUE ESCREVERAM SOBRE ROBERTO CARLOS

. D�cada de 1960
“Um debiloide de pouco mais de vinte anos que se diz ‘homem mau’ e ficou conhecido gra�as a um barulhento calhambeque” (S�rgio Augusto, “Jornal do Brasil”, 18 de mar�o de 1965)

. D�cada de 1970
“O repert�rio selecionado por Roberto Carlos para o disco que acaba de lan�ar indica que as vendas do LP do ano passado n�o foram l� essas coisas. � o que se pode deduzir pela evidente recusa do cantor, abandonando as incurs�es pela m�sica latino-americana e pelas can��es tipo classe A, como ‘Mucuripe’, de Fagner e Belchior” (S�rgio Cabral, “O Globo”, 6 de dezembro de 1976)

. D�cada de 1980
“O cantor est� virando um prisioneiro do zelador/compositor, e, embora o segundo assegure com seu dom�nio o pique de vendas e de execu��o do primeiro, a M�sica Popular Brasileira est� perdendo, a cada dia, momentos irrecuper�veis de um artista fenomenal” (Zuza Homem de Mello, “O Estado de S�o Paulo”, 10 de dezembro de 1981)

. D�cada de 1990
“Est� mais do que na hora de Roberto Carlos dar a volta por cima. Talento ele sempre teve de sobra, como compositor ou cantor – num estilo que o coloca como uma esp�cie de disc�pulo pop de Jo�o Gilberto. Coisa que nesta cole��o ‘The master’ � comprovada pelos discos que ele lan�ou entre 1963 e 1971” (Mauro Ferreira, “O Globo”, 9 de agosto de 1994)

. D�cada de 2000
“Assim como a Jo�o Gilberto e Milton Nascimento, a maior acusa��o que se faz a Roberto Carlos � que ele � repetitivo, redundante. Seus discos mais recentes – das �ltimas duas d�cadas, pelo menos – t�m primado pela execu��o de arranjos rotineiros, letras melosas, ideologia comodista e mise-en-sc�ne messi�nica” (Jotab� Medeiros, “O Estado de S�o Paulo”, 5 de dezembro de 2003)

. D�cada de 2010
“Embora a produ��o autoral do artista venha se tornando cada vez mais espa�ada, o Rei ainda exerce poder junto ao p�blico feminino brasileiro, como comprovam os shows sempre lotados do cantor e essa grava��o de ‘Sua estupidez’. Para esse p�blico, o EP ‘Roberto Carlos’ conserva inalterada a realeza do artista nos �ltimos 50 anos. E � para esse p�blico s�dito que Roberto Carlos canta e grava discos com coer�ncia estrat�gica ao longo de todos esses anos” (Mauro Ferreira, G1, 13 de abril de 2017)


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