A convite do filho de Rita Lee, duo mineiro faz remix de 'Mania de voc�'

Em tempos dif�ceis, em que o futuro est� cada vez mais turvo, nada como uma volta ao passado. O passeio � simples e divertido . Abra um aplicativo de streaming. Digite Rita Lee. Alegria das alegrias, todos os �lbuns da eterna Rainha do Rock est�o l�, nos esperando.

“Lan�a-perfume”, o disco de 1980, � capaz de nos tirar do banzo de noites pand�micas. O “Ac�stico – Ao vivo”, de 1998, d� uma geral na carreira de Rita, que, ao lado de Roberto de Carvalho, comp�s can��es cheias de gra�a, amor e irrever�ncia . De 2001, “Aqui, ali, em qualquer lugar”, a releitura que o casal fez da obra dos Beatles, alegrou os dias at� da sisuda Yoko Ono.

Navegando mais um pouquinho, o grande barato para f�s da cantora. O filho dela, Jo�o Lee, de 42 anos, acaba de lan�ar “Classix remix”, o primeiro dos tr�s discos que, juntos, ir�o reunir 36 remixes de can��es do repert�rio de Rita e Roberto. 

Para a empreitada, Jo�o chamou artistas que o influenciaram e que, de alguma forma, fizeram parte de sua carreira , que este ano completa 25 anos, desde a sua estreia como DJ.

Nomes escolhidos, o produtor conversou com cada um para saber que m�sica queria remixar. A liberdade foi total. A aten��o foi redobrada para que n�o houvesse dois remixes da mesma m�sica no mesmo estilo de eletr�nico. 

O processo de sele��o das can��es, segundo Jo�o, foi intenso e uma das partes mais interessantes desta jornada. “Depois de receber boa parte dos remixes, montei os �lbuns. Eu j� tinha o conceito todo na cabe�a, ent�o o processo aconteceu naturalmente. Infelizmente, nem todas as m�sicas que queria entraram no projeto.” 

Ficaram de fora da sele��o can��es dos �lbuns “Fruto proibido” (1975) e “Entradas e bandeiras” (1976), ambos dos tempos de Rita com a banda Tutti Frutti. O problema � que os multitracks dos discos n�o foram encontrados e, com isso, o trabalho de remix se tornou imposs�vel.

VERS�ES

Na lista de convidados, The Reflex  deu nova vers�o para “Lan�a perfume”. Marky assina duas vers�es em estilos diferentes para “Caso s�rio”; Gui Boratto reviu “Mutante”; Renato Cohen, “Atl�ntida”; Mary Olivetti, filha de Lincoln Olivetti, respons�vel pelo arranjo de “Lan�a perfume”, aquele dos anos 1980,  escolheu “Cor de rosa choque”.

Os irm�os g�meos Lucas e Marcos, que formam o duo Dubdogz, e os amigos deles Gabriel e Rodrigo, da Watzgood, mineiros de Juiz de Fora, deram uma nova roupagem a “Mania de voc�”. 

Jo�o j� tinha tocado algumas vezes com os meninos do Dubdogz e gosta muito do trabalho que eles fazem. “As produ��es s�o muito boas”, afirma. “O empres�rio deles, Octavio Fagundes, � dono de um clube em Juiz de Fora (Privilege) onde j� toquei muitas vezes, al�m de ser um grande amigo. Ent�o foi f�cil conectar as pontas.”

Naturais de Juiz de Fora, Lucas e Marcos, de 27 anos, come�aram a tocar h� 10, na Europa. Por aqui, j� se apresentaram no Deputamadre e na extinta boate naSala. Come�aram no estilo trance progressivo e hoje seguem na house music. Tiveram o primeiro contato com a m�sica de Rita Lee ainda na inf�ncia. 

“Escut�vamos em casa, no carro”, conta Lucas, por telefone. Os irm�os chamaram Gabriel e Rodrigo (Watzgood) para uma participa��o. Em dois dias, o remix de “Mania de voc�”estava pronto. Lucas e Marcos avaliam que o projeto � importante para chamar a aten��o da garotada para o rico universo musical de Rita Lee. 

“Classix remix vol.1”

• 12 faixas

• Dispon�vel nas plataformas digitais

Jo�o Lee conta que o projeto “Classix remix” come�ou a ser planejado em 2013, para ser lan�ado junto com a comemora��o de 50 anos de carreira de sua m�e, naquele ano. “Olhando para tr�s, foi at� melhor ter lan�ado s� agora. Deu mais tempo para planejar e juntar os artistas que eu queria”, afirma.

Jo�o � o filho do meio do casal. Antes dele veio Beto (44) e depois, Ant�nio (40). Os irm�os viveram a inf�ncia e a adolesc�ncia em ambiente de muita liberdade e suporte dos pais para seguir a profiss�o que desejassem. 

“Nunca impuseram nada. Quando eu era adolescente, perceberam que gostava de m�sica eletr�nica e me deram de anivers�rio de 17 anos um par de vitrola e um mixer. A partir da� comecei a comprar vinil e tocar.”

Instrumentos musicais e palco nunca seduziram o garoto, que se formou em administra��o e trabalhou por um per�odo em um banco de investimentos . “Gostava mais de est�dio, tecnologia e do business. N�o conseguia fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Tive que fazer uma escolha e resolvi seguir com m�sica”, conta. 

Um belo dia, Jo�o Lee resolveu encarar a picapes e, no in�cio dos anos 2000, ganhou t�tulo de DJ Revela��o de uma revista especializada . Vinte e cinco anos depois da estreia, ele considera j� ter realizado boa parte do que queria. 

Garante que nunca vai parar de tocar ou produzir, em que pese o fato de h� alguns anos dividir seu tempo entre a m�sica eletr�nica e outros projetos, como o filme, o document�rio e a exposi��o baseados na biografia da m�e (“Rita Lee – Uma autobiografia”, Editora Globo), lan�ada h� cinco anos.

FUS�O

Jo�o considera o “Classix remix” uma fus�o da sua vida musical com a dos pais. “Celebro os mais de 50 anos de carreira deles com os meus 25”, afirma. Rita e Roberto tiveram uma carreira musical com altos e baixos, mas sempre produtiva e com dezenas de hits. 

Considerando os �lbuns lan�ados entre 1970 (“Build up”) e 2012 ("Reza"), s�o mais de 210 can��es. Jo�o diz n�o ter uma preferida. “� imposs�vel escolher uma favorita. Mesmo.”

Embora ele e seus irm�os sejam filhos de um casal expoente na m�sica brasileira , o DJ comenta que n�o � capaz de identificar um momento espec�fico em que se deu conta da import�ncia art�stica dos pais. 

“� at� dif�cil explicar, mas, por ser filho, tenho um certo distanciamento maluco em rela��o a isso. Chego at� a esquecer que s�o artistas.” Para os irm�os, a carreira musical dos pais proporcionou uma inf�ncia e adolesc�ncia divertidas, por poderem acompanhar shows e grava��es em est�dio. 

“Acompanh�vamos sempre que pod�amos. Era tudo muito divertido. Era tipo um mundo de fantasia. Mas a escola sempre vinha em primeiro lugar”, diz Jo�o. Em texto de divulga��o de “Classix remix”, Rita escreveu que nunca teve um disco dela em casa. Jo�o se diverte com a afirma��o da m�e. “Ela realmente n�o gostava de ouvir seus �lbuns em casa. Eram tantos shows seguidos que, em casa, dava uma pausa. Mas eu tinha todos e ouvia direto.” 

N�o s� ouvia como tocava nas pistas por onde passou. “(Toquei) V�rias vezes”, diz. “Mas no lugar certo, hora certa e para as pessoas certas. Nos �ltimos anos,  tenho tocado muito remix de cl�ssicos e rock nos meus sets. Ent�o encaixa perfeitamente . T� louco para tocar os remixes novos.” Um projeto reservado ao futuro p�s-pandemia. 

A viagem musical ao maravilhoso mundo de Rita Lee e Roberto de Carvalho n�o vai acabar nos passeios pelo streaming nem sequer na trilogia de remix capitaneada por Jo�o Lee.  Em junho, o casal promete um intervalo na aposentadoria para lan�ar m�sica in�dita. 

Em uma live, Roberto definiu a can��o, em ingl�s e franc�s, como m�sica esquisita em estilo dance pop rock. Jo�o j� ouviu. “Achei incr�vel. Incr�vel. Acho que as pessoas v�o se surpreender .”