
Part�culas invis�veis a olho nu e nocivas � sa�de dominam a cidade, colocando em risco a vida da popula��o. Apenas a interven��o r�pida das autoridades poderia evitar que o problema se espalhasse rapidamente, tanto por regi�es mais pr�ximas quanto para outros pa�ses, deixando milh�es de mortos. � do novo coronav�rus que estamos falando? Pode ser. Mas a premissa tamb�m serve para o acidente nuclear de Chernobyl, que completou 35 anos na segunda-feira (26/4).

REFLEX�O
Assistir a “Chernobyl” agora, durante a pandemia de COVID-19, torna-se um exerc�cio de reflex�o ainda mais interessante. � imposs�vel n�o associar a produ��o do diretor Johan Renck � crise global que vivemos. Muitos elementos est�o ali: o correto alarmismo dos cientistas, a luta dos profissionais de sa�de, o drama pessoal dos contaminados, a burocracia e o
negacionismo
de parte do governo.
Qu�mico respons�vel pela comiss�o de investiga��o do acidente na usina em Pripyat, o protagonista Valery Legasov (Jared Harris) trava uma batalha incans�vel contra a burocracia do Estado sovi�tico. A princ�pio, o governo buscou abafar o fato, mas voltou atr�s quando se deu conta de que a
radia��o
atingia pa�ses vizinhos e estampava as manchetes da m�dia internacional.
O incessante debate entre a luz da ci�ncia e as trevas do negacionismo conduz o fio narrativo em diversos momentos da trama. � o que tamb�m conduz nossas vidas diante da COVID-19.
O alerta de Legasov ao governo sovi�tico se compara ao do m�dico chin�s Li Wenliang. O oftalmologista foi um dos primeiros a entender e relatar casos de s�ndrome respirat�ria do novo coronav�rus em Wuhan, na China, em dezembro de 2019. Acabou investigado pela pol�cia, acusado de espalhar “rumores” sobre o surto na internet.
Apenas em 20 de janeiro de 2020, o pa�s declarou estado de emerg�ncia pela presen�a do Sars-CoV-2. Li Wenliang integrou o time de crise no Hospital Central de Wuhan at� ser contaminado pelo v�rus. Morreu em 6 de fevereiro, antes de a COVID-19 se tornar
inimigo
global.
A
pandemia
traz � tona incont�veis hist�rias de luto e de supera��o que, no futuro, certamente ser�o narradas de forma documental ou ficcional. Os �ltimos dias de vida de Wenliang estar�o entre elas.
Por�m, o que torna “Chernobyl” uma s�rie primorosa � n�o se limitar apenas aos aspectos t�cnico-cient�ficos. O drama pessoal dos infectados e das equipes de sa�de fez parte do enredo, bem representado pelo casal Lyudmilla (Jessie Buckley) e Vasily (Adam Nagaitis).
Em seu desfecho, a s�rie tenta responder � pergunta que se faz ao longo de toda a narrativa: quem foi o grande culpado (ou culpados) pelo acidente nuclear?. O julgamento, que ocupa o quinto e �ltimo epis�dios, se distancia da realidade em v�rios aspectos. Ao contr�rio do que mostra a produ��o da HBO, nem Legasov nem Boris Shcherbina (Stellan Skarsgard), vice-presidente do Conselho de Ministros da Uni�o Sovi�tica, foram interrogados no tribunal que julgou os poss�veis crimes cometidos em
Chernobyl
.
O autor Craig Mazin diz que a op��o por inserir Legasov nas cenas do epis�dio final teve a inten��o de encerrar sua jornada e a mensagem cient�fica sobre Chernobyl de maneira digna.
O julgamento de Anatoli Dyatlov (Paul Ritter), engenheiro supervisor da usina de Pripyat, nos faz questionar: tamb�m ser�o julgados os que, de alguma forma, colaboraram para a transmiss�o da COVID-19 em todo o mundo? Quantos crimes foram cometidos no Brasil e em outros pa�ses? O acidente de Chernobyl, no fim das contas, foi muito menos difuso e letal do que a pandemia que vivemos, apesar de ser at� hoje o maior desastre nuclear da hist�ria. Direta e indiretamente, foram entre 4 mil e 100 mil mortos, segundo estimativas extraoficiais.
FUTURO
Ainda n�o est� claro se, no futuro, nos lembraremos do mercado central de Wuhan como o epicentro da COVID-19, apesar de a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) descartar o local como a
origem
do v�rus, ou se construiremos memoriais para os mais de 3 milh�es de vidas perdidas at� o momento, segundo a Universidade Johns Hopkins.
Seja na arte ou na realidade, o que o acidente nuclear e o coronav�rus ensinam � a necessidade de lembrar o passado para n�o repeti-lo.
“CHERNOBYL”
Primeira temporada da s�rie criada por Craig Mazin. Dire��o: Johan Renck. Os cinco epis�dios est�o disponibilizados na plataforma HBO Go