
Na d�cada de 1970, uma onda de assassinatos perpetrados pelo franc�s Charles Sobhraj comoveu a �sia.
Conhecido como "Serpente" e o "assassino de biqu�ni", Sobhraj agia com determina��o e se destacava por suas artimanhas para escapar das autoridades, usando o passaporte de suas v�timas - que costumavam ser turistas acidentais hippies atra�dos pela m�stica do subcontinente indiano.
A dram�tica vida do infame assassino serial, que hoje tem 77 anos, inspirou diversas obras liter�rias, cinematogr�ficas e, mais recentemente, a s�rie O Para�so e a Serpente, coproduzida pela BBC e a Netflix (e j� dispon�vel para o p�blico brasileiro).Mas quem foi, de fato, o "Serpente" e como ele vive atualmente?
Nascido em Saigon (ou Ho Chi Minh, no Vietn�) em 1944, filho de um comerciante indiano (que lhe negou a paternidade) e uma das empregadas vietnamitas dele, Sobhraj obteve a nacionalidade francesa depois que seus pais se separaram e sua m�e se casou com um militar franc�s, instalando-se em Marselha, no sul da Fran�a.
A rejei��o por parte do pai deixou marcas de ressentimento e �dio na vida de Sobhraj :"Farei com que voc� se arrependa de ter faltado em seu dever como pai", escreveu ele em seu di�rio.
Durante a adolesc�ncia, ele n�o conseguia se sentir pertencente ao ambiente na Europa. Dedicou-se a furtos na rua e ao roubo de carros em Paris. Entrou e saiu de reformat�rios e, ao chegar � maioridade, foi encarcerado no sistema prisional.
O primeiro amor
Mas, ao deixar a pris�o, conseguiu um emprego gra�as � interven��o de um benfeitor, que tamb�m apresentou-o a Chantal Compagnon, uma integrante da burguesia parisiense e por quem ele se apaixonou imediatamente,

Por um breve per�odo, Sobhraj tentou abandonar a vida de pequenos delitos e conseguiu trabalho em um restaurante, mas seu gosto pelo luxo e pelo dinheiro o empurrou de volta ao crime. N�o demorou para que fosse novamente preso por roubo de autom�veis - e Compagnon, cega pelos encantos de Sobhraj, esperou que sa�sse da pris�o para se casar com ele. Juntos iniciaram uma viagem pela �sia, durante a qual tiveram uma filha.
Aos 30 anos, o "Serpente" fez da Tail�ndia seu novo centro de opera��es.
Carisma
Muitas pessoas que conheceram Sobhraj concordam que ele era uma pessoa carism�tica nessa �poca. Em artigo ao site Vice, Gary Indiana, que conheceu o "Serpente" nos anos 1980, disse que o aspecto "provinciano" e "n�o europeu" dele faziam com que os hippies que viajavam � �sia o achassem interessante e "inofensivo".
"A especialidade de Charles Sobhraj era assassinar hippies que vinham descobrir a �sia", declarou Indiana.
"Sobhraj depenava todo o dinheiro desses viajantes sedentos por espiritualidade, desdenhoso da moral duvidosa que achava que eles tinham."
At� hoje � um mist�rio o motivo por tr�s desses assassinatos de hippies, mas pessoas que acompanham a hist�ria de Sobhraj acham que a resposta pode estar em seus traumas de inf�ncia.
Herman Knippenberg, diplomata holand�s que, depois da morte de sua companheira na Tail�ndia - um caso que a pol�cia local n�o se deu ao trabalho de investigar -, come�ou a desvendar pistas e a descobrir os crimes, acredita que Sobhraj os matava quando n�o obedeciam.
"A resist�ncia (de pessoas) �s propostas de Sobhraj revivia a preocupa��o que ele teve na inf�ncia de ser rejeitado", disse o diplomata ao jornalista brit�nico Andrew Anthony.
Pris�o e fuga
Nos anos 1970, a rota hippie havia se convertido em um destino popular de muitos jovens europeus e americanos que viajavam da Europa Ocidental ao Extremo Oriente, passando pelo Oriente M�dio e pela �ndia.

Nessa �poca, os controles de fronteiras n�o eram t�o r�gidos, e o "Serpente" se aproveitou disso.
O romance com Chantal Compagnon terminou quando ambos foram presos no Afeganist�o. Ele conseguiu escapar drogando um carcereiro; ela permaneceu detida por mais tempo e, ao sair, decidiu recome�ar a vida longe do marido problem�tico.
A despeito disso, Sobhraj disse ao jornalista Andrew Anthony - que o entrevistou em Paris nos anos 1990 e tamb�m em 2004, em uma pris�o no Nepal - que Compagnon continuou sustentando-o financeiramente e que o casal permaneceu em contato por muito tempo depois de sua separa��o.
Passados dois anos da pris�o no Afeganist�o, Sobhraj conheceu a canadense Marie-Andr�e Leclerc, na �ndia, e convenceu-a a passar o ver�o com ele na Tail�ndia.
"M�ltiplas identidades"
Leclerc tampouco resistiu aos encantos daquele homem de quem, at� ent�o, pouco se sabia - e que tamb�m mudaria a vida dela para sempre. Pouco a pouco ela come�ou a praticar crimes com ele e acabou se convertendo em c�mplice.
O modus operandi consistia em drogar as v�timas para tirar seus pertences. O apelido "assassino de biqu�ni" veio depois de ele ser vinculado � morte de v�rias mulheres ocidentais vestindo biqu�ni no balne�rio de Pattaya, na Tail�ndia.

Sobhraj se aproveitava da ingenuidade de muitos turistas ocidentais, conquistava sua confian�a e os convidava para um drinque. Com frequ�ncia, as v�timas acordavam depois disso sem ter nenhuma lembran�a da noite anterior.
"Ele era um homem de muitas identidades: um intelectual israelense um dia e um vendedor liban�s no outro, e percorria a �sia buscando suas presas", recorda Gary Indiana em seu artigo.
Houve vezes em que Leclerc e Sobhraj mantinham suas v�timas em cativeiro, drogadas, por v�rios dias ou semanas. Da� roubavam seus passaportes para viajar e agir em outros pa�ses da regi�o, confundindo autoridades.
Essa atua��o esquiva rendeu a ele tamb�m o apelido de "Serpente". Segundo relatos, Sobhraj falava v�rios idiomas com flu�ncia, o que era conveniente quando assumia a identidade de suas v�timas.

Ele tamb�m desenvolveu habilidades para escapar da pris�o: acredita-se que tenha encontrado formas de fugir do encarceramento no Afeganist�o, na Gr�cia, no Ir� e na �ndia.
Em 1971, a fuga na �ndia (onde cumpria pena de 20 anos por envenenar turistas franceses que viajavam de �nibus) foi conseguida ap�s ter fingido que sofria de apendicite para escapar do hospital.
Voltou a ser preso em 1976, mas dez anos depois escapou de uma forma ainda mais surpreendente: organizou uma festa de anivers�rio � qual convidou tanto guardas como prisioneiros.
As uvas e os biscoitos entregues aos convidados haviam sido "batizadas" com tranquilizantes, deixando inconscientes todos exceto Sobhraj e outros quatro fugitivos.
Segundo a imprensa indiana, o grupo ficou t�o orgulhoso da fuga que se deixou fotografar atravessando os port�es da pris�o para as ruas de Nova D�li.
US$15 milh�es por sua imagem
Como fugitivo, Sobhraj n�o se esfor�ava em excesso para se esconder da Justi�a e era visto com frequ�ncia desfrutando da vida noturna. Por isso, voltou a ser detido.

Alguns acham que ele decidiu escapar perto do final de sua senten�a na �ndia para ser capturado de novo e enfrentar novas acusa��es, de forma a evitar a extradi��o � Tail�ndia, onde era procurado pela Justi�a por cinco assassinatos e poderia ser condenado � pena de morte.
Quando ganhou a liberdade, em 1997, o prazo para que fosse julgado em Bangcoc j� havia prescrito.
Sobhraj voltou � Fran�a, come�ou a uma nova vida no bairro chin�s de Paris, contratou um agente e negociou entrevistas e sess�es de foto. Conseguiu vender os direitos de sua hist�ria para um filme e um livro por US$ 15 milh�es.
V�tima de seu pr�prio ego
Mas, em setembro de 2003, cometeu um erro, possivelmente em decorr�ncia do pr�prio ego: viajou ao Nepal e acabou sendo reconhecido, preso por ter viajado com passaporte falso e pelos assassinatos de dois cidad�os americanos ocorridos 28 anos antes.
Mas s� foi de fato condenado por homic�dio pela primeira vez em 2004, apesar de ter sido alvo de acusa��es pela morte de 20 pessoas drogadas, estranguladas, golpeadas ou incendiadas na �ndia, Tail�ndia, Nepal, Turquia e Ir� entre 1972 e 1982.
Sobhraj negou as acusa��es, mas foi sentenciado � pris�o perp�tua.
Atualmente segue preso no Nepal e, em setembro de 2014, foi condenado por um segundo homic�dio, de um turista canadense.
Entrevistado pelo bi�grafo Richard Neville, autor de Life and Crimes of Charles Sobhraj (Vida e crimes de Charles Sobhraj, em tradu��o literal), ele admitiu: "sempre que posso falar com algu�m, posso manipul�-lo".
O encarceramento n�o o impediu que seguir com sua vida. H� mais de dez anos mant�m um relacionamento com Nihita Biswas, filha de uma de suas advogadas nepalesas. Segundo a imprensa local, o par se casou em 2010.
E, segundo o jornal brit�nico Sunday Mirror, que conseguiu entrevist�-lo em mar�o, o "Serpente" ainda se declara inocente.
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