(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas CINEMA

Steven Yeun diz que foi um desafio viver o obstinado Jacob em 'Minari'

Ator revela que papel o obrigou a refletir sobre sua pr�pria trajet�ria e a experi�ncia do pai, arquiteto que trocou a Coreia pelo sonho americano


29/04/2021 04:00 - atualizado 29/04/2021 07:33

O obstinado Jacob (Steven Yeun) se muda para o Arkansas com a sogra, Soon-ja (Yuh-Jung Youn), a mulher, Monica (Yeri Han), e os filhos David (Alan Kim) e Anne (Noel Cho)(foto: Fotos: Diamond Films/divulgação)
O obstinado Jacob (Steven Yeun) se muda para o Arkansas com a sogra, Soon-ja (Yuh-Jung Youn), a mulher, Monica (Yeri Han), e os filhos David (Alan Kim) e Anne (Noel Cho) (foto: Fotos: Diamond Films/divulga��o)

"(O filme) � a compreens�o mais profunda e ampla do que s�o os Estados Unidos, de que n�o h� uma experi�ncia singular monol�tica, de que s�o indiv�duos tentando se encontrar, mas tamb�m percebendo que est�o conectados uns aos outros"

Steven Yeun, ator


Lee Isaac Chung estava mais nervoso de mostrar seu filme aos pais, na v�spera do Dia de A��o de Gra�as nos Estados Unidos, do que com a estreia em si. Ele contou ao diretor sul-coreano Bong Joon-Ho (“Parasita”), numa conversa promovida pela revista Variety, que temia arruinar o jantar familiar.

Por�m, eles amaram “Minari – Em busca da felicidade”, que deu o Oscar de atriz coadjuvante a Yuh-Jung Youn, de 73 anos, a primeira int�rprete sul-coreana que levou a estatueta dourada para casa. No domingo passado, o longa de Chung disputou outras cinco categorias: filme, dire��o, roteiro original, ator (Steven Yeun) e trilha original.



HIST�RIA 
A preocupa��o de Lee Isaac Chung baseava-se no fato de “Minari” ser inspirado na sua pr�pria hist�ria e de sua fam�lia. O cineasta estreou com “Munyurangabo” (2007), que se passa em Ruanda e foi exibido na mostra “Um certo olhar”, no Festival de Cannes.

Seu filme seguinte, “Lucky life” (2010), teve apoio da Cin�fondation e foi premiado em Tribeca, festival realizado em Nova York. O diretor estava planejando deixar a carreira de lado e se mudar para a Coreia do Sul para ser professor universit�rio. “Minari” foi sua �ltima tentativa no cinema. E ele decidiu que ela teria de ser pessoal.

O filme se passa nos anos 1980. O imigrante coreano Jacob (Steven Yeun, mais conhecido como o Glenn de “The walking dead”) se muda com a fam�lia da Calif�rnia para o interior do Arkansas em busca de uma vida melhor. Ele e a mulher Monica (papel da sul-coreana Yeri Han) identificam at� o sexo de pintinhos, mas Jacob comprou uma pequena propriedade para plantar vegetais coreanos destinados � crescente comunidade asi�tica nos Estados Unidos.

A mudan�a gera tens�o entre o casal, o que respinga nos filhos, a respons�vel Anne (Noel Cho) e o levado David (Alan Kim), que tem um problema no cora��o. A vida da fam�lia se transforma ainda mais quando chega aos EUA a m�e de Monica, Soon-ja (Yuh-Jung Youn, atriz de v�rios filmes do elogiado diretor Hong Sang-soo). Ela vem da Coreia do Sul para cuidar das crian�as enquanto os pais perseguem o sonho americano.

David n�o gosta nada da novidade, porque precisa passar a dividir com a av� o quarto na casa prec�ria que sua fam�lia ocupa.
Yuh-Jung Youn ganhou o Oscar de atriz coadjuvante como a avó coreana de
Yuh-Jung Youn ganhou o Oscar de atriz coadjuvante como a av� coreana de "Minari"

PARENTES 
Escolher os atores certos era primordial para o projeto dar certo. Steven Yeun, que nasceu na Coreia do Sul, mas cresceu nos Estados Unidos, conhecia de vista Lee Isaac Chung, apesar de serem parentes – o diretor � primo da mulher do ator. “Nunca falamos de trabalho nos casamentos em que nos encontramos”, jurou Yeun, em entrevista. Foi sua agente quem os conectou.

Para o ator, ler o roteiro de “Minari” foi chocante. “Fiquei abismado como ele � honesto com sua perspectiva” disse. “Ele n�o tenta se explicar. � uma hist�ria sobre esta fam�lia.” Em sua opini�o, muitos filmes sobre imigrantes ou comunidades marginalizadas levam em conta o que precisam significar para o resto dos Estados Unidos. “Aqui n�o, a hist�ria apenas se conecta com os outros em n�vel humano.”

Yeun ficou com medo de ser convidado para fazer Jacob. “Estava lutando comigo mesmo, com quem sou eu, como � a gera��o dos meus pais. (Teria de) Examinar o passado para contextualizar minha vis�o deles na �poca, explorar minha realidade atual de ser pai e conectar tudo isso.”

O ator n�o sabia se conseguiria interpretar Jacob, um homem determinado em seu sonho, teimoso e s�rio. “Ser� que vou ser aut�ntico? Ser� que realmente conhe�o meu pai? Ser� que sei o que meus pais passaram?”, comentou. “As pessoas normalmente idealizam ou romantizam a primeira gera��o que veio para este pa�s, e eu n�o queria fazer isso. Meu desejo era ir fundo nesse ser humano, mostrando todas as suas falhas.”

Jacob est� em conflito com Deus. “Ele deixou a Coreia, abandonou tudo para tentar se encontrar. Tem a mentalidade do imigrante de conquistar algo do nada”, explica Yeun.

O primeiro passo foi ir da Coreia para a Calif�rnia. O segundo foi se embrenhar no Arkansas. “Ele quer controlar a vida e mold�-la de acordo com sua vis�o do que ela deve ser”, resume o ator, que relacionou a hist�ria com a de seu pai, um arquiteto que deixou a Coreia cheio de esperan�a. “Quando chegou aos Estados Unidos, ele estava em frangalhos, tentando se agarrar a qualquer coisa que o fizesse se sentir seguro”, contou Yeun.

Na Am�rica, aquele homem era nada. Come�ou do zero, trabalhando como estoquista na loja de jeans de um parente. “Ele teve de recontextualizar sua import�ncia, seus valores e quem ele �. Isso me tocou muito.”

� imposs�vel n�o pensar em “Minari” como um filme sobre o sonho americano. Yeun faz quest�o de frisar que os Estados Unidos foram, sim, constru�dos tamb�m por imigrantes, s� que nem todos foram para l� com a vontade de fazer a Am�rica. Muitos, na verdade, s�o produtos de conflitos – inclusive da Guerra da Coreia. “Mas, sim, somos um pa�s de imigrantes. � uma terra de transformar o nada em algo.”

PANDEMIA
 O ator acha que a experi�ncia de isolamento imposta pela COVID-19 reflete a vida dos imigrantes. “� a compreens�o mais profunda e ampla do que s�o os Estados Unidos, de que n�o h� uma experi�ncia singular monol�tica, de que s�o indiv�duos tentando se encontrar, mas tamb�m percebendo que est�o conectados uns aos outros.”

O t�tulo faz alus�o a isso, Minari � uma esp�cie de salsinha. No primeiro ano, a planta��o morre. No segundo, ela pega, purificando o solo e a �gua. “Para mim, � a met�fora incr�vel do sacrif�cio do come�o vivido pelo imigrante”, compara Yeun.

“Voc� chega cheio de inten��es, mas, quando isso n�o acontece, em geral, voc� se entrega � natureza, v� que n�o tem controle. A grande li��o de interpretar Jacob foi compreender como estamos conectados, como compartilhamos experi�ncias, como n�o sou muito sem o outro. Para mim, 'Minari' � isso: estamos todos conectados”, conclui.  


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)