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Estado de Minas CR�TICA

Netflix: Corrosivo 'Tigre branco' � comparado ao coreano 'Parasita'

Filme � uma "bomba da cr�tica social, anticapitalista at� a medula, feita de sarcasmo e viol�ncia"


15/02/2021 08:18


Engra�ado o mundo: at� h� pouco, a den�ncia da extrema desigualdade social era considerada coisa da arte "de esquerda", portanto fora de moda. Ultimamente, tem sido tema at� de filmes de lan�amento mundial, como foram os casos de Coringa Parasita - este vencedor do Oscar.

Agora, para pasmo de muitos, uma bomba da cr�tica social, anticapitalista at� a medula, feita de sarcasmo e viol�ncia, chega � poderosa Netflix. Trata-se do indiano O Tigre branco, de Ramin Bahrani, que j� figura entre os filmes mais vistos da plataforma global de streaming.

O personagem principal, Balram (Adarsh Gourav), conta sua pr�pria hist�ria. Ele se diz um homem bem-sucedido, que se fez por si mesmo, self made man da mitologia norte-americana. Balram escreve uma carta ao primeiro-ministro chin�s, e, nela, tenta explicar como conseguiu ascender socialmente numa sociedade de castas como a da �ndia.

Ele � o "tigre branco" do t�tulo. Um animal t�o raro que existe apenas um exemplar a cada gera��o. T�o excepcional como um pobre nascido nos cafund�s do pa�s e de casta baixa chegar a ficar rico, como aconteceu com Balram. Portanto, a hist�ria ser� a de como ele chegou l�. Em sua explica��o do sistema de castas, faz uma simplifica��o. Na verdade, s� existiriam duas castas para valer: a dos ricos e a dos pobres. Passar da inferior para a superior � quase uma impossibilidade l�gica. A n�o ser com o uso de certos expedientes.

Para chegar-se aos ricos � preciso primeiro aproximar-se deles na �nica condi��o poss�vel, a de empregado. Esperto, Balram consegue se tornar motorista particular do mais jovem membro de um cl� milion�rio, Ashok (Rajkumar Rao). Ele se torna o empregado-modelo, n�o se queixa dos hor�rios abusivos a que � submetido, mora numa pocilga no por�o e tolera todos os insultos da fam�lia. Ser� o pre�o para ganhar a confian�a de todos. E sobretudo do jovem casal, Ashok e Pinky (Priyanka Chopra, ex-Miss �ndia) que tem tamb�m l� seus problemas. Eles vivem em Nova D�lhi, mas t�m a cabe�a em Nova York, onde moraram e estudaram. S�o exemplares t�picos das elites de pa�ses pobres hoje pudicamente chamados de "em desenvolvimento". N�o se reconhecem como indianos. Sob a aparente amizade com os empregados, escondem o desprezo pelos "inferiores". T�m vergonha do pa�s, mas n�o percebem que contribuem para seu atraso.

Pela trajet�ria de Balram rumo ao sucesso, evidencia-se a distopia da sociedade indiana, com os ricos ostentando loucamente seus bens de luxo enquanto miser�veis se espalham pelas ruas de Nova D�lhi e do interior.

Fica tamb�m exposto o grosseiro materialismo dessa "elite", cuja r�gua mede tudo pelo dinheiro e pelo sucesso. Como dentro dessa l�gica os pobres n�o valem nada, d�o-se ao luxo de trat�-los como objetos descart�veis. Quando n�o t�m mais serventia, s�o abandonados � pr�pria sorte.

H� um ponto nevr�lgico na hist�ria quando a dondoca Pinky dirige seu carro b�bada e atropela uma pessoa. Ser� preciso encontrar um bode expiat�rio para assumir a culpa e evitar o esc�ndalo. Por um bom punhado de rupias, � claro. Afinal, dinheiro h� de sobra e os pobres est�o a� para isso mesmo.

Esse drama social se desenvolve em boa parte sob o signo do humor. N�o um humor leve e sim o que busca no grotesco das situa��es algum motivo para o riso. Desta forma, n�o ser� um riso descompromissado, mas express�o de reconhecimento de uma situa��o absurda. Esse humor � cortado pela intrus�o do real, sob formas �s vezes bastante cru�is. S�o como tratamentos de choque, a chamar a aten��o do espectador para o que est� em jogo de verdade nessa hist�ria toda.

O pr�prio narrador n�o nos deixa esquecer do que est� em pauta, por isso o filme se torna �s vezes did�tico e reiterativo. Est� em mira nem tanto o ego�smo ou a maldade dos indiv�duos em si, mas a estrutura econ�mica determinante que tudo seja desse jeito e n�o de outro.

A narra��o � feita por aquele que se deu bem, e esse ponto de vista faz toda a diferen�a para a efic�cia da obra. Balram desvenda o mecanismo de funcionamento de uma sociedade e usa esse conhecimento para jogar o jogo segundo suas regras. O filme � corrosivo.


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