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'Coringa' estreia premiado e sob acusa��o de incitar viol�ncia

Depois de receber o Le�o de Ouro em Veneza, filme de Todd Phillips estrelado por Joaquin Phoenix chega aos cinemas cercado de cr�ticas. Cinemas dos EUA vetaram uso de maquiagem pelo p�blico. Pol�cia de Los Angeles est� em alerta


postado em 02/10/2019 04:00 / atualizado em 01/10/2019 18:25

A interpretação que Joaquin Phoenix para o Coringa fez surgirem as apostas no primeiro Oscar do ator(foto: Warner Bros/Divulgação)
A interpreta��o que Joaquin Phoenix para o Coringa fez surgirem as apostas no primeiro Oscar do ator (foto: Warner Bros/Divulga��o)
Quando Heath Ledger venceu postumamente o Oscar de melhor ator coadjuvante, em 2009, um ano ap�s sua chocante e precoce morte, explicada pelos laudos como uma overdose de rem�dios, era dif�cil imaginar que o Coringa aparecesse novamente no cinema com tamanha magnitude, sob a interpreta��o de outro ator.

Dez anos depois, Joaquin Phoenix se mostra capaz de provar o contr�rio, ao ser pelo menos igualmente marcante como protagonista do longa de Todd Phillips, que tem pr�-estreia nesta quarta-feira (2) em Belo Horizonte e estreia amanh� em todo o mundo.

Dedicado a contar a g�nese da cruel loucura do vil�o mais popular da cultura pop, o filme chega ao circuito comercial sob a expectativa de mais pr�mios (venceu o Festival de Veneza, no m�s passado) e j� envolto em muitas pol�micas, indissoci�veis de uma figura t�o violenta quanto carism�tica.

Em Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008), dirigido por Christopher Nolan, o personagem de Ledger deixava para tr�s qualquer tra�o c�mico, visto em adapta��es anteriores, para encarnar um psicopata exc�ntrico, mas inescrupuloso e capaz de conquistar o p�blico pela autenticidade e persuas�o.
 
A vers�o assumida por Phoenix n�o descarta essas caracter�sticas. Por�m, apresenta uma trajet�ria humana ainda mais impactante, diretamente relacionada a v�rias mis�rias sociais contempor�neas. Coringa extrapola o universo dos quadrinhos, sendo um drama violento e inquietante sobre um homem derrotado pela sociedade e por si mesmo.
 

 
Na hist�ria coescrita por Scott Silver e Todd Phillips, mais conhecido at� ent�o por com�dias exageradas e aclamadas como Se beber, n�o case, o palha�o n�o aparece explodindo hospitais, nem roubando bancos cercado de capangas fantasiados. Ele � apenas Arthur Fleck, um jovem pobre, que sonha em ser comediante, tem adora��o pelo astro da TV Murray Franklin (Robert De Niro), mas ganha a vida fazendo pequenos n�meros com nariz vermelho, peruca e maquiagem, quase sempre sem gra�a para quem est� ao redor.

Sua vida melanc�lica ainda se divide entre os cuidados com a m�e enferma (Frances Conroy), com quem divide o apartamento, e sess�es de terapia no servi�o social, que o abastece tamb�m com medicamentos para seus m�ltiplos dist�rbios psicol�gicos. Um deles o faz gargalhar em qualquer situa��o tensa que vivencie.

Nessa trama n�o existem her�is, tampouco qualquer luta do bem contra o mal. Bruce Waynne � apenas uma crian�a, que ainda n�o vivenciou o traum�tico assassinato dos pais, respons�vel por transform�-lo no Batman anos mais tarde. Contudo, os vil�es s�o v�rios e Fleck, a princ�pio, uma v�tima. Sempre tratado como um “esquisito”, segue uma rotina de humilha��es, insultos, agress�es e fracassos de toda sorte.

Ele acreditava ser algu�m feliz, cujo destino era compartilhar alegria com os outros, mas essa compreens�o vai ruindo no ritmo dos traumas que sofre. � a� que aspectos nada ficcionais da sociedade entram em seu caminho. Entre eles, o acesso f�cil a uma arma de fogo e o descaso do poder p�blico com a aten��o � sa�de mental da popula��o, cortando gastos para o setor diante da crise financeira em Gothan City.
 

''� incr�vel que uma ind�stria cujo principal foco � o neg�cio tenha corrido tamanho risco com Coringa. Fazer para esse p�blico um filme que � uma reflex�o sobre os anti-her�is, mostrando que talvez o inimigo n�o seja o homem, mas o sistema, me parece bom para os Estados Unidos e para o mundo todo''

Lucrecia Martel, cineasta, presidente do j�ri no Festival de Veneza


 
Embora a hist�ria se passe entre os anos 1970 e 1980, abordar esses temas sociais urgentes nos dias de hoje explica o sucesso arrebatador no Festival de Veneza. Presidente do j�ri, a cineasta argentina Lucrecia Martel (A menina santa, Zama) justificou a escolha de Coringa para o Le�o de Ouro dizendo: “� incr�vel que uma ind�stria cujo principal foco � o neg�cio tenha corrido tamanho risco com Coringa. Fazer para esse p�blico um filme que � uma reflex�o sobre os anti-her�is, mostrando que talvez o inimigo n�o seja o homem, mas o sistema, me parece bom para os Estados Unidos e para o mundo todo”.

A esta altura, o diretor Todd Phillips preferiu n�o “definir o filme”. “A vis�o de Lucrecia Martel est� correta e compartilho dela. Fico feliz que as pessoas tenham entendido o que est�vamos tentando fazer. Mas n�o quero delimitar as interpreta��es”, disse ele.
 
De l� para c�, o filme come�ou a receber um bombardeio de cr�ticas por supostamente incentivar e legitimar a viol�ncia. O Coringa de Phoenix foi visto por uma parcela da cr�tica como um retrato da comunidade que se define como “incel” (celibat�rios involunt�rios), cujos membros mais radicais defendem a pr�tica de assassinatos em massa para se vingar de seu isolamento pela sociedade.

O diretor Todd Phillips observou que o debate se agigantou antes mesmo que as pessoas tivessem a chance de assistir ao filme, com muita gente tomando posi��es enf�ticas de um lado ou de outro. � Associated Press, ele se disse frustrado e espantado por perceber que “a extrema-esquerda pode se parecer demais com a extrema-direita”.

 

Heath Ledger (1979-2008) recebeu uma estatueta póstuma por seu papel em Batman %u2013 O Cavaleiro das Trevas(foto: Warner Bros/Divulgação)
Heath Ledger (1979-2008) recebeu uma estatueta p�stuma por seu papel em Batman %u2013 O Cavaleiro das Trevas (foto: Warner Bros/Divulga��o)
 

O fato � que a interpreta��o not�vel de Joaquin Phoenix, que j� teve tr�s indica��es ao Oscar, mas nunca venceu,  � capaz de criar uma rela��o positiva entre p�blico e o personagem, que n�o deixa de ser o vil�o sanguin�rio j� conhecido de outras tramas, mas agora com um protagonismo in�dito no cinema. Para o papel, Phoenix emagreceu aproximadamente 23 quilos, um tipo de esfor�o que Hollywood tende a valorizar.


No filme, a viol�ncia do Coringa � entendida por muitos personagens como uma resposta dos oprimidos contra os poderosos, capaz de criar grande catarse e uma onda de protestos violentos. O barulho provocado pela rela��o entre Coringa e a viol�ncia foi suficiente para fazer a pol�cia de Los Angeles divulgar um refor�o nos efetivos pr�ximos aos cinemas onde o filme ser� exibido, embora oficialmente declare que “n�o h� amea�a iminente”.

Al�m disso, grandes redes de cinemas dos Estados Unidos, como a Landmark e a AMC, v�o proibir em todo os pa�s a entrada nas salas de espectadores usando m�scaras, maquiagens ou fantasias. Tamanho receio tem a ver ainda com um epis�dio ocorrido h� sete anos, em Aurora, Colorado, quando um homem abriu fogo em um cinema que exibia Batman – O Cavaleiro das Trevas ressurge, matando 12 pessoas e deixando 70 feridas. Ao ser detido, James Holmes, o respons�vel pelo massacre, se identificou �s autoridades como "Coringa".

Antes da estreia do longa dedicado ao vil�o, fam�lias das v�timas de Aurora publicaram uma carta lembrando � Warner que “junto com um grande poder vem tamb�m uma grande responsabilidade”. As fam�lias das v�timas responsabilizaram o est�dio por eventuais novos ataques como o de Aurora, pelo fato de promover a hist�ria do Coringa. Eles ainda cobram do est�dio doa��es para v�timas da viol�ncia causada por armas.

Joaquin Phoenix perdeu 23 quilos para fazer o papel, que inclui cenas de dança(foto: Warner Bros/Divulgação)
Joaquin Phoenix perdeu 23 quilos para fazer o papel, que inclui cenas de dan�a (foto: Warner Bros/Divulga��o)
O est�dio respondeu dizendo que “a viol�ncia armada em nossa sociedade � uma quest�o cr�tica e estendemos nossa mais profunda simpatia a todas as v�timas e fam�lias afetadas por essas trag�dias”. A Warner afirmou ainda que “a empresa tem uma longa hist�ria de doa��es para v�timas de viol�ncia, incluindo Aurora, e, nas �ltimas semanas, nossa empresa-m�e se juntou a outros l�deres empresariais para convidar os formuladores de pol�ticas a promulgar legisla��o bipartid�ria para lidar com essa epidemia”.

O tema j� provocou desconforto tamb�m com o astro principal. Em Veneza, Joaquin Phoenix chegou a declarar que gostava de que o “filme criasse empatia por algu�m que � o vil�o e que faz coisas horrendas”, porque “�s vezes, rotulamos uma pessoa como m�, como se f�ssemos incapazes dos mesmos atos”.
 
Algumas semanas depois, o ator abandonou uma entrevista para o di�rio brit�nico The Telegraph quando o rep�rter lhe perguntou se ele n�o considerava a hip�tese de seu personagem inspirar outras pessoas a cometer os mesmos atos. Ao deixar a entrevista, Phoenix se desculpou dizendo n�o estar preparado para esse tipo de pergunta.

Nesta semana, o ator se reposicionou. "Acho que a maioria de n�s sabe entender a diferen�a entre o que � certo e o que � errado. Ent�o, n�o acho que seja responsabilidade do cineasta ensinar ao p�blico o que � moral ou a diferen�a entre certo e errado", afirmou, em outra entrevista. Na mesma conversa, o diretor Todd Phillips refor�ou que "o filme faz alertas sobre falta de amor, trauma infantil, falta de compaix�o no mundo. Acho que as pessoas podem lidar com a mensagem".

Se o Coringa de Joaquin Phoenix permitir� aos f�s do personagem imortalizar uma nova imagem dele, paralelamente �quela criada por Heath Ledger, o que fica claro agora � que o mais complicado passa a ser imaginar a exist�ncia de um Coringa (pelo menos os dignos de nota, ao contr�rio daquele interpretado por Jared Leto em Esquadr�o suicida) longe desse tipo de pol�mica. (Com ag�ncias de not�cias)


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