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Estado de Minas PROJETO

Mulheres que cumprem pena na Gameleira se tornam contadoras de hist�ria

Iniciativa do TJMG, chamada Caminhos e Contos, capacitou 33 mulheres da Apac, em BH; certificados s�o entregues nesta quarta-feira (26/5)


26/05/2021 13:35 - atualizado 26/05/2021 15:54

Projeto levou leitura e literatura à realidade de recuperandas(foto: Augusto Brasil/Divulgação)
Projeto levou leitura e literatura � realidade de recuperandas (foto: Augusto Brasil/Divulga��o)

� pelo poder da palavra que o projeto Caminhos e Contos - A Ressocializa��o pela Palavra d� voz a mulheres em recupera��o na Associa��o de Prote��o e Assist�ncia ao Condenados (Apac feminina), na Gameleira, em Belo Horizonte.

Nesta quarta-feira (26/5), 33 mulheres s�o agraciadas com o diploma de contadoras de hist�rias, depois de um curso de seis meses com uma mestre nesse of�cio, a servidora aposentada do Tribunal de Justi�a de Minas Gerais (TJMG), Rosana de Mont'Alverne Neto. A cerim�nia � transmitida pelo YouTube no canal da Escola Judicial Desembargador Ed�sio Fernandes (Ejef).

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O objetivo da iniciativa, como descreve Rosana, � oferecer novos repert�rios para elas, fazer do mergulho no universo da conta��o de hist�rias uma maneira de reconhecer seus caminhos de erros e acertos, que essas mulheres encontrem sua pr�pria voz, se reencontrem consigo mesmas, com sua autoestima, com seu poder feminino - enfim, que possam virar essa p�gina.

"Que sua voz ecoe para al�m dos muros da pris�o, fazendo com que a sociedade enxergue essas mulheres. Que as pessoas entendam que chegar ao extremo de cometer um crime �, na verdade, um grito, um pedido de socorro", diz Rosana.

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No dia a dia do trabalho, Rosana encontrou diferentes hist�rias de vida, mas, no percurso pelo crime, existem muitas situa��es parecidas. Ela observa em muitos casos, por exemplo, mulheres que foram levadas a partipar do tr�fico de drogas, muitas vezes como mulas, pelos pr�prios maridos. E quem disse que, depois de presas, esses homens se prontificam a apoi�-las? "A maioria s� recebe visita de filhas, m�es ou amigas, e mesmo assim muito pouco", relata.

Rosana fala tamb�m sofre a import�ncia de desconstruir tabus. Sabe aquela hist�ria de que bandido bom � bandido morto? "N�o h� fam�lia que n�o tenha em casa algu�m com problema com drogas, ou um alco�latra. � uma hipocrisia", critica.

Contar hist�rias, em sua opini�o, � um jeito de ensinar e chegar ao cora��o, como fizeram grandes mestres como Buda e Jesus Cristo, fazer com que as pessoas percebam a mensagem. "Que as pessoas entendam que ali n�o tem um monstro, mas um ser humano. � um projeto de inclus�o, de escuta. Contar hist�rias � criar la�os, encontrar identidade, encontrar ra�zes", acrescenta Rosana.

Uma inten��o com o projeto � fazer com que as mulheres deixem a Apac com um novo of�cio debaixo do bra�o. "Que ergam a cabe�a, que sua voz seja luz aqui fora. N�o sem antes pagar sua d�vida com a sociedade. Mas que saiam da pris�o para n�o mais voltar. � uma experi�ncia traum�tica", diz Rosana.

INSPIRA��O

A hist�ria de supera��o da pintora mexicana Frida Kahlo � inspira��o para as mulheres da Apac, no grupo em que se autointitularam O bonde da Frida. Depois de sofrer um grave acidente com um bonde e ficar presa a uma cama, � que Frida come�ou a pintar, alheia a qualquer limita��o.

Dizia que n�o precisava de pernas, pois tinha asas para voar, como declara em sua frase mais c�lebre. E, no linguajar dos pres�dios, "bonde" lembra o momento que chega o transporte para levar o detento para outra unidade. "Elas escolheram a Frida para falar desse lugar de liberdade que encontram, mesmo estando presas", explica Rosana.

O PROJETO


O projeto com as mulheres da Apac em BH tem sua origem em 2004, quando Rosana come�ou um trabalho parecido na Apac de Ita�na, criando com os homens o grupo batizado Encantadores de Hist�rias.

Eles passaram por diversas cidades do Brasil, indo a universidades, escolas, teatros e outros lugares para contar hist�rias, muitas vezes no sentido da sensibiliza��o sobre situa��es que vivenciam. Em um segundo momento, Rosana tamb�m coordenou outro projeto do tipo, no pres�dio Ant�nio Dutra Ladeira, em Ribeir�o das Neves, em 2018.

O trabalho atual com a Apac feminina em BH � o primeiro realizado com mulheres. Desde novembro de 2020, elas participaram de oficinas semanais, dividas entre duas turmas de 20 participantes. Boa parte das aulas aconteceu em modo virtual, mas tamb�m houveram encontros presenciais.

Elas contam hist�rias que criam, ou baseadas em relatos de colegas, hist�rias da tradi��o oral e tamb�m de literatura assinada. Como desdobramento do projeto, est�o em produ��o um document�rio e dois livros - um sobre o projeto em si, e outro com as hist�rias contadas pelo grupo. "O resultado � emocionante", conclui Rosana, comemorando a indica��o do trabalho para concorrer ao pr�ximo Pr�mio Innovare.


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